Maior trading de açúcar vê produção brasileira perto de recorde
Os estragos causados pela pandemia de coronavírus nas economias globais atingem em cheio as commodities. Um mercado particularmente afetado é o de açúcar, onde o colapso dos preços dos combustíveis leva ao aumento da oferta.
Por isso, com a queda do petróleo, usinas de cana no Brasil, maior produtor e exportador global de açúcar, se preparam para produzir muito mais adoçante do que etanol.
Há apenas duas semanas, a Alvean, maior trading de açúcar do mundo, calculava a produção da commodity entre 31 milhões e 32 milhões de toneladas na região Centro-Sul.
Isso foi antes do caos que se instalou no mercado de etanol nesta semana, quando a BR Distribuidora e a Raízen, as duas maiores distribuidoras de combustível do país, declararam força maior nas compras do biocombustível.
A Alvean agora projeta produção de cerca de 36 milhões de toneladas, segundo o presidente da trading, Paulo Roberto de Souza. O volume representaria um salto de mais de 35% em relação à temporada 2019-2020, o que deixaria a produção perto de nível recorde.
Se a produção superar 36 milhões de toneladas, o mercado de açúcar passaria de déficit a superávit, disse Souza. A Alvean é uma joint venture entre a Cargill, uma das maiores empresas agrícolas do mundo, e a Copersucar.
A São Martinho já começou a colheita da nova safra. A empresa decidiu usar ainda mais caldo da cana para produzir açúcar do que planejava há apenas algumas semanas, disse o diretor financeiro Felipe Vicchiato, em mensagem de texto.
No Brasil, a temporada de esmagamento ocorre normalmente de abril a dezembro.
Ainda assim, Vicchiato não acredita que a produção brasileira de açúcar possa bater recorde, disse, citando problemas relacionados ao etanol para processadores de cana.
“Muitas usinas de cana-de-açúcar não terão dinheiro suficiente para continuar operando”, disse.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, concorda.
As usinas “podem parar de esmagar devido a problemas de caixa”, disse. “Algumas unidades não terão condições viáveis de operar nem por um mês sem a receita das vendas de etanol, enquanto outras poderão sobreviver por três meses”.
A declaração de força maior das distribuidoras de combustível nos contratos de etanol pode abalar uma parte importante da cadeia de suprimentos de cana-de-açúcar, levando a perdas financeiras e desemprego, disse a Unica em comunicado na quarta-feira.