Economia

Maior banco dos EUA prepara ‘sala de guerra’ contra calote; FMI alerta para risco global e ruídos geram incertezas no mercado

12 maio 2023, 13:42 - atualizado em 12 maio 2023, 13:42
JPMorgan Banco calote EUA
James Dimon disse que o banco já está fazendo preparativos em caso de um calote. (Imagem: Michel Euler/Pool via REUTERS/File Photo)

James Dimon, CEO do JPMorgan, disse que o banco está reunindo uma sala de guerra para tratar de um possível calote da dívida federal. 

Segundo Dimon, em entrevista à Bloomberg TV, o protocolo começaria com reuniões diárias no dia 21 de maio. Se o impasse continuar se arrastando, os encontros diários virariam três.  “Precisamos estar muito cautelosos com a proximidade do limite”, alertou o CEO ao falar sobre o pânico que tal incerteza pode gerar nos mercados.

“Tomara que isso [o calote] não aconteça, mas isso afeta os contratos, garantias, câmaras de compensação e clientes”, completou Dimon.

As declarações do ‘chefão’ do maior banco dos Estados Unidos precederam um novo apelo de Janet Yellen ao Congresso americano. A secretária do Tesouro voltou a dizer que o governo federal ficaria impossibilitado de honrar certas obrigações, o que afetaria o rating de crédito soberano.

Conversas detalhadas sobre o aumento do teto da dívida de US$ 31,4 trilhões do governo dos EUA começaram na quarta-feira. Os republicanos continuam insistindo em cortes de gastos, um dia após o presidente democrata Joe Biden e o líder republicano no Congresso Kevin McCarthy se reunirem para discutir o assunto pela primeira vez em três meses.

Uma nova rodada de discussões está marcada para a próxima semana. Mas o clima político em Washington não sugere uma solução fácil.

Para Donald Trump, favorito à nomeação republicana em 2024, os republicanos do Capitólio deveriam deixar que o governo federal incorra em calote (“default”), se os democratas não aceitarem a agenda de arrocho fiscal. A pauta atingiria em cheio as principais políticas econômicas do governo Biden.

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FMI alerta para consequências mundiais ‘sérias’

Para o Fundo Monetário Internacional, a falha política em aprovar um novo teto da dívida nos EUA traria repercussões muito sérias” para a economia americana e global.

À Reuters, Julie Kozack, porta-voz do FMI, comentou que o credor não poderia quantificar imediatamente o impacto que este cenário teria sobre o crescimento global. Em abril, a previsão do FMI para o crescimento do PIB mundial em 2023 era de 2,8%.

Essa projeção poderia facilmente cair abaixo dos 1,0% em caso de uma retração mais aguda nos preços dos ativos e cortes acentuados nos empréstimos bancários.

O diagnóstico da porta-voz ecoa a consequência de curto-prazo mais previsível do cenário de default, que são taxas de juros mais altas.

Esta seria a forma do mercado precificar o risco de tomar a dívida emprestada do governo (as Treasuries), implicando mais pressão para os mercados acionários e para as taxas de juros em serviços triviais ao cidadão americano.

Sobre o aumento dos juros em caso do default, Jerome Powell alertou que não dá para esperar que o Federal Reserve proteja a economia americana,

Mesmo se não concretizado, calote traz risco de cauda nos mercados

O diretor global de renda fixa, Jim Cielinski, e o gerente de portfólio, Garrett Strum, ambos da Janus Henderson, acreditam que o risco real de um calote é extremamente remoto.

No entanto, o ruído que essa possibilidade gera nos mercados é por si só problemático às dinâmicas financeiras. “Um aumento na probabilidade de inadimplência de 0,2% para 5,0%, por exemplo, enviaria ondas de choque por muitas partes do mercado”, dizem os especialistas em comunicado.

Nesse sentido, o script deverá ser o mesmo já ocorrido em outras ocasiões. Assim como em 2011, as negociações se arrastariam até o limite, com a crise sendo resolvida em um último momento, mesmo que seja por meio de um ou mais acordos temporários.

“Aprendemos muito ao longo das últimas batalhas do teto da dívida. A volatilidade pode ser generalizada nas últimas horas deste imprudente jogo de gato e rato, mas o bom senso — não a boa governança – deve prevalecer no final”, arrematam.