Petróleo

Maior alta do petróleo desde início da guerra da Ucrânia aumenta preocupação com inflação galopante

03 abr 2023, 18:52 - atualizado em 03 abr 2023, 19:10
Rússia, Petróleo
A Rússia é uma das beneficiadas da medida do cartel de produtores. (Imagem: REUTERS/Maxim Shemetov)

Os contratos futuros de petróleo encerraram a segunda-feira (3) com a maior alta desde o início do conflito da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Por trás do movimento está a decisão surpresa da Opep+ de reduzir em 1.6 milhão de barris por dia (bdp) a produção da commodity a partir de maio.

Até o fim de março, o cartel tinha a posição de manter o corte de 2 milhões de bpd decidido em outubro.

Às 17h, o WTI (óleo cru americano) e o Brent (referência internacional) operavam com ganhos de 6,38% e 6,48%, respectivamente. Com a valorização do dia, o barril do WTI passa a valer US$ 81, enquanto o Brent se aproxima dos US$ 85.

Quem se beneficiou desse movimento foram as ações das petroleiras nacionais e internacionais, com investidores de olho no aumento do preço do barril. Confira o desempenho de alguns dos principais papéis de petrólo no Brasil e no mundo: 

Empresa Ticker Ganho no Dia (%)
Chevron (EUA) CVX 5,9
Petrobras PETR4 4,76
Occidental Petroleum (EUA) OXY 4,4
Shell (UK) SHEL 4,18
ExxonMobil (EUA) XOM 4,16
PRIO PRIO3 3,88
3R Petroleum RRRP3 1,56
Petro Recôncavo RECV3 1,38

A decisão da Opep+ ocorre cerca de um mês depois da Rússia, aliada do cartel, anunciar um corte de 500 mil bdps, contrariando a tese dos países ocidentais de que o governo Putin estaria ‘isolado’ na iniciativa.

A Rússia tenta contrapor a imposição de um ‘teto’ sobre o preço do petróleo exportado — um esforço do Ocidente para minar a capacidade de financiamento do mercado energético para a campanha militar russa na Ucrânia.

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Novo ‘boom’ do petróleo desperta inflação e adia fim da alta dos juros

A medida do cartel gerou reação negativa nos mercados de risco, que enxergam nela uma ameaça ao fim do ciclo de juros nos EUA e na Europa. Ambas regiões continuam lutando contra a inflação e ensaiavam uma redução do ritmo de juros, como resposta ao aumento do estresse financeiro visto em março.

Nesse novo contexto, James Bullard, dirigente do Federal Reserve, foi à Bloomberg TV dizer que a decisão da Opep+ tem efeitos imprevisíveis a longo-prazo e torna o trabalho da autoridade monetária mais difícil.

De acordo com Rafael Passos, da Ajax Asset, isso significa o retorno da pauta da inflação nos mercados, com especial impacto para o preço de bens, que vinha em uma trajetória desinflacionaria. “Não à toa, as apostas para a continuidade do processo de aperto monetário pelo Fed voltam a ter destaque“, diz Passos.

A preocupação, contudo, não se contém somente aos países desenvolvidos. Da última vez que o petróleo arrancou, os consumidores brasileiros sentiram no bolso o preço do litro da gasolina.

Arábia Saudita vs. EUA

A Casa Branca qualificou a decisão de ontem como Opep+ como “inoportuna”, um tom até mais moderado do que o utilizado pela administração Biden na última decisão do grupo de exportadores, mas ainda assim revelador da vulnerabilidade americana na questão.

Na opinião de especialistas sobre o tema, parece não ter sobrado muito a Washington além de críticas protocolares contra a Opep+. Isso porque as Reservas Estratégicas de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) dos EUA estão na mínima histórica, após liberações expressivas no ano passado (220 milhões de barris) e em 2021.

Era esperado que os EUA utilizassem uma janela de preços do WTI, entre US$ 67 e US$ 72, para realizar a recomposição dos estoques.

No entanto, a falta de demanda e outras questões relacionadas fizeram o governo Biden postergar a compra de petróleo no mercado global para depois de 2023, o que acabou irritando a Arábia Saudita e provocando a ação de ontem.

Desde que Biden foi eleito com um discurso de pressionar o regime de Riad em razão das violações de direitos humanos, o governo americano perdeu ‘prioridade’ nas relações diplomáticas sauditas.