Maior alta do petróleo desde início da guerra da Ucrânia aumenta preocupação com inflação galopante
Os contratos futuros de petróleo encerraram a segunda-feira (3) com a maior alta desde o início do conflito da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Por trás do movimento está a decisão surpresa da Opep+ de reduzir em 1.6 milhão de barris por dia (bdp) a produção da commodity a partir de maio.
Até o fim de março, o cartel tinha a posição de manter o corte de 2 milhões de bpd decidido em outubro.
Às 17h, o WTI (óleo cru americano) e o Brent (referência internacional) operavam com ganhos de 6,38% e 6,48%, respectivamente. Com a valorização do dia, o barril do WTI passa a valer US$ 81, enquanto o Brent se aproxima dos US$ 85.
Quem se beneficiou desse movimento foram as ações das petroleiras nacionais e internacionais, com investidores de olho no aumento do preço do barril. Confira o desempenho de alguns dos principais papéis de petrólo no Brasil e no mundo:
Empresa | Ticker | Ganho no Dia (%) |
---|---|---|
Chevron (EUA) | CVX | 5,9 |
Petrobras | PETR4 | 4,76 |
Occidental Petroleum (EUA) | OXY | 4,4 |
Shell (UK) | SHEL | 4,18 |
ExxonMobil (EUA) | XOM | 4,16 |
PRIO | PRIO3 | 3,88 |
3R Petroleum | RRRP3 | 1,56 |
Petro Recôncavo | RECV3 | 1,38 |
A decisão da Opep+ ocorre cerca de um mês depois da Rússia, aliada do cartel, anunciar um corte de 500 mil bdps, contrariando a tese dos países ocidentais de que o governo Putin estaria ‘isolado’ na iniciativa.
A Rússia tenta contrapor a imposição de um ‘teto’ sobre o preço do petróleo exportado — um esforço do Ocidente para minar a capacidade de financiamento do mercado energético para a campanha militar russa na Ucrânia.
Novo ‘boom’ do petróleo desperta inflação e adia fim da alta dos juros
A medida do cartel gerou reação negativa nos mercados de risco, que enxergam nela uma ameaça ao fim do ciclo de juros nos EUA e na Europa. Ambas regiões continuam lutando contra a inflação e ensaiavam uma redução do ritmo de juros, como resposta ao aumento do estresse financeiro visto em março.
Nesse novo contexto, James Bullard, dirigente do Federal Reserve, foi à Bloomberg TV dizer que a decisão da Opep+ tem efeitos imprevisíveis a longo-prazo e torna o trabalho da autoridade monetária mais difícil.
De acordo com Rafael Passos, da Ajax Asset, isso significa o retorno da pauta da inflação nos mercados, com especial impacto para o preço de bens, que vinha em uma trajetória desinflacionaria. “Não à toa, as apostas para a continuidade do processo de aperto monetário pelo Fed voltam a ter destaque“, diz Passos.
A preocupação, contudo, não se contém somente aos países desenvolvidos. Da última vez que o petróleo arrancou, os consumidores brasileiros sentiram no bolso o preço do litro da gasolina.
Arábia Saudita vs. EUA
A Casa Branca qualificou a decisão de ontem como Opep+ como “inoportuna”, um tom até mais moderado do que o utilizado pela administração Biden na última decisão do grupo de exportadores, mas ainda assim revelador da vulnerabilidade americana na questão.
Na opinião de especialistas sobre o tema, parece não ter sobrado muito a Washington além de críticas protocolares contra a Opep+. Isso porque as Reservas Estratégicas de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) dos EUA estão na mínima histórica, após liberações expressivas no ano passado (220 milhões de barris) e em 2021.
Era esperado que os EUA utilizassem uma janela de preços do WTI, entre US$ 67 e US$ 72, para realizar a recomposição dos estoques.
No entanto, a falta de demanda e outras questões relacionadas fizeram o governo Biden postergar a compra de petróleo no mercado global para depois de 2023, o que acabou irritando a Arábia Saudita e provocando a ação de ontem.
Desde que Biden foi eleito com um discurso de pressionar o regime de Riad em razão das violações de direitos humanos, o governo americano perdeu ‘prioridade’ nas relações diplomáticas sauditas.