Maia rechaça impeachment de Bolsonaro e diz que ato pode gerar crise institucional
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, defendeu a atuação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no combate à pandemia da Covid-19. Na avaliação de Maia, o ministro tem conseguido enfrentar as dificuldades mesmo sendo desautorizado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro.
Ele lembrou que Bolsonaro, quando escolheu Mandetta para ocupar o cargo, fez a escolha com base em critérios técnicos e não políticos e, por essa razão, esse conflito entre os dois não faz sentido.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico nesta sexta-feira (3), Maia disse que Mandeta tem atuado com respaldo técnico e científico.
“Toda vez que ele (Bolsonaro) vem a público criticar o ministro, mais atrapalha do que ajuda, mas o ministro tem toda paciência ou equilíbrio para fazer o que tem que ser feito. Ele tem todo meu apoio: como cidadão e como presidente da Câmara”, defendeu Maia.
“Não é uma gripinha, a gente precisa entender que é um vírus novo e devemos seguir a orientação do ministro e da OMS. Parece que o presidente é comentarista do seu próprio governo, e fica transferindo responsabilidade para os outros”, criticou.
Para Maia, demitir o ministro no meio do processo de enfrentamento da crise não seria razoável. “Ao mesmo tempo, ele (Bolsonaro) não tem coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política (de combate à pandemia). Ele fica numa posição dúbia”, disse Rodrigo Maia.
Impeachment
Maia foi questionado sobre a possibilidade de impeachment de Bolsonaro em razão do isolamento político do presidente. Ele rechaçou o tema e disse que em seu radar só tem um assunto: superar a crise, salvar vidas, garantir os empregos e a solvência das empresas.
De acordo com Rodrigo Maia, a votação da proposta que segrega o orçamento, o chamado “orçamento de guerra”, mostra a grande contribuição do Parlamento para o combate à crise.
“A agenda política não tem espaço nenhum, essa agenda nos divide e pode criar uma crise institucional gravíssima. Não aceito tratar desse assunto”, disse Maia encerrando o assunto.
Equívocos
O presidente da Câmara afirmou que o governo cometeu vários equívocos e poderia ter seguido as informações dos países que já enfrentavam a crise e os próprios alertas do ministério da Saúde em relação ao ritmo de contaminações do coronavírus.
Na avaliação de Maia, faltou um pacote integrado de ações para enfrentar a crise. Como exemplo Maia lembrou que até agora o governo não propôs uma política pública para isolar idosos em comunidades carentes.
“O presidente (Bolsonaro) fica insistindo na mesma tese (contra o isolamento social), mas a chave da equipe econômica já virou. Espero que o governo consiga, já avançou em áreas fundamentais, mas falta avançar em outras áreas”, cobrou mais uma vez.
Segundo ele, faltam políticas de apoio às empresas aéreas, ao setor de hospitais, de transporte rodoviário, de bares e restaurantes, shopping centers e academias de ginástica. Maia acredita que, com a compreensão do tamanho da crise e o impacto na economia, as políticas públicas de combate à pandemia chegarão, mesmo com atraso.
“Demorou para ter essa compreensão, demoraram um pouco. O (Donald) Trump foi e voltou muitas vezes (contra e a favor do isolamento social), mas apresentou um grande pacote. Isso nos faltou: um grande pacote e um grande diálogo para que tivéssemos previsibilidade. Estamos no início do mês e agora que a coisa destravou, essa trava nos atrapalha, mas a equipe econômica tem avançado”, disse Rodrigo Maia.