Maia diz que visita de Pompeo não condiz com boa prática diplomática; Ernesto Araújo rebate
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou na sexta-feira que a visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a local próximo da fronteira com a Venezuela não condiz com a “boa prática diplomática”.
Neste sábado, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, procurou rebater as declarações do deputado.
Para o presidente da Câmara, a presença de Pompeo em instalações de operação de acolhimento a migrantes venezuelanos em Roraima afronta a herança da diplomacia brasileira de “altivez” e convívio pacífico com os países vizinhos.
“A visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa”, disse Maia em nota.
O deputado afirmou ter a obrigação, como presidente da Câmara, de reiterar os princípios listados pela Constituição que orientam as relações internacionais do país, como a independência nacional, a autodeterminação dos povos, a não-intervenção e a defesa da paz.
Em nota, Araújo afirmou que as declarações de Maia baseiam-se em “informações insuficientes e interpretações equivocadas”.
Defendendo a parceria entre Brasil e Estados Unidos, que estão entre os países que reconhecem o líder de oposição Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e não o presidente Nicolás Maduro, Araújo afirmou que “o povo brasileiro preza pela sua própria segurança, e a persistência na Venezuela de um regime aliado ao narcotráfico, terrorismo e crime organizado ameaça permanentemente essa segurança”.
“Não há ‘autonomia e altivez’ em ignorar o sofrimento do povo venezuelano ou em negligenciar a segurança do povo brasileiro”, acrescentou o chanceler.
“Buscar a paz não significa acovardar-se diante de tiranos e criminosos. A independência nacional não significa rejeitar parcerias que nos ajudem a defender nossos interesses mais urgentes e nossos valores mais caros”, disse ainda Araújo.
Dezenas de milhares de venezuelanos cruzaram a fronteira do Estado brasileiro de Roraima nos últimos anos, fugindo da turbulência econômica e política em seu país.
A economia da Venezuela tem estado em declínio e há ondas periódicas de protestos contra o governo Maduro, de esquerda.
O governo de Roraima declarou o fluxo de imigração como uma crise social e pediu ao governo federal do Brasil para fechar a fronteira, o que não ocorreu por razões humanitárias.