Magazine Luiza, Via e Americanas: tombo das ações abre espaço de alta de até 100%; veja o que esperar
Durante a pandemia da Covid-19, as principais empresas de e-commerce se tornaram o porto seguro de muitos investidores. Com o comércio físico fechado, os consumidores não tinham opção, a não ser realizar suas compras via internet. Porém, 2021 tem sido um ano bem amargo para as principais companhias do setor: no ano, os papéis do Magazine Luiza (MLGU3) acumulam queda de 31,85%, Americanas S.A. (AMER3) 47,46% e Via (VIIA3) 44%. O que aconteceu?
Se observarmos os resultados do trio no segundo trimestre, veremos boas cifras. Por exemplo: o Magazine Luiza teve um aumento de 60% nas vendas totais. Já a Via apurou crescimento de 60% na receita bruta de mercadoria (GMV), importante indicador no segmento. Talvez a Americanas tenha entregado resultados mais fracos, mas muito por conta da comparação com suas rivais.
Analisando o setor em si, os números do varejo de agosto divulgados na última sexta-feira (10) fornecem um belo raio X: as vendas dispararam 1,2% na comparação com junho, quarta alta consecutiva e bem acima do esperado. Com isso, o volume de vendas do comércio atingiu patamar recorde na série histórica iniciada no ano 2000.
Se as companhias foram bem e os dados do segmento dão conta da retomada econômica, o que, afinal, está pesando para derrubar os papéis? De acordo com José Falcão Castro, analista de investimentos do Nu Invest, em entrevista ao Money Times, o problema não é o micro e o pior momento para o setor já passou: o risco está na economia em si.
“Pressão inflacionária e juros altos: isso inibe o consumo. O mercado começa a precificar o momento mais desafiador daqui para frente, onde as empresas terão mais dificuldades de entregar resultados. O custo de capital sobe, atrelado à taxa de juros, e as avaliações das empresas são colocadas para baixo. Temos também o ambiente político-institucional instável, deterioração dos riscos fiscais, perda da confiança, eleições polarizadas e uma crise hídrica pela frente que vai prejudicar a retomada do crescimento”, argumenta.
O head de renda variável da Vitreo, Marcel Andrade, lembra que diferente de outras varejistas, como de alimentos, Magazine, Americanas e Via vendem produtos não essenciais, portanto, descartáveis em crises ou em momentos de perda de poder de compra.
“Quando citamos empresas do setor de varejo, estamos falando de consumo. E têm alguns dados que atrapalham muito uma alta da projeção de consumo. Quando olhamos inflação alta, as pessoas perdem poder de compra. Com os juros, o consumidor assume menos riscos. O desemprego continua alto, o que também afeta a renda”, esclarece.
Mas não é só isso. De acordo com Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, o aumento de players disputando o mercado também pesou para a derrocada das ações. A questão é saber se o bolo do e-commerce aqui no país é suficientemente grande para comportar todas as empresas.
“Aumento da concorrência com o próprio Mercado Livre comprando outras empresas no Brasil para expandir a sua exposição, além da Amazon. Se por um lado houve um aumento de concorrência, por outro lado teve a questão da inflação impactando diretamente o orçamento das famílias”, diz.
Já Pedro Roberto Galdi, analista da Mirae Asset, observa que essas ações foram as que mais subiram no período do lockdown. “Com a abertura da economia, os investidores fizeram trocas buscando papéis que estavam com preços atrasados. Além disso, alta do juro e inflação são componentes que prejudicam o comércio e estão piorando”, completa.
Vale a pena comprar?
Diante do cenário mais turbulento, comprar esses papéis é uma oportunidade de tê-los por valores mais em conta? Depende da visão do investidor. No curto prazo, é possível que o trio continue sofrendo, afirmam os analistas. Agora, o cenário muda quando se pensa a longo prazo.
“Não é um ótimo investimento no curto prazo. Tem outras empresas, outros setores mais atrativos. Agora, no médio prazo, sem dúvida, são ótimos investimentos por conta do preço. Quando a gente olha a Lojas Americanas e Via elas estão muito baratas. Elas teriam um upside de pelo menos 60% para estarem mais próximas de um preço-justo”, pontua Andrade.
Na opinião de Moliterno, essas companhias fizeram uma série de aquisições relacionadas ao e-commerce, como empresas de pagamentos e de logística, olhando para o momento da retomada.
“Eu acredito que a recuperação virá agora no final do terceiro trimestre para o começo do quarto trimestre em virtude de várias datas do final do ano, como Black Friday, Natal e Dia das Crianças. Pode ter um trimestre bem melhor. Abre oportunidade de compra, principalmente de empresas bem estruturadas como é o caso da Magazine Luiza e a Americanas”, acrescenta.
Galdi também diz estar confiante com Via e Magazine Luiza, “que estão ampliando rapidamente suas plataformas de prestação de serviços. A Americanas agora incorporou a B2W e vai ter que correr atrás das duas. Continuamos otimistas com Via e Magalu”, sinaliza.
Outro ponto apontado por José Falcão é a reabertura das lojas físicas, que representam a maior parte das receitas. “Vai dar resiliência aos resultados que essas empresas vão empregar”, completa.
Via, Magazine ou Americanas?
Entre essas três companhias, a que se sobressai é o Magazine Luiza, expõe Andrade.
“Quando olhamos Magazine Luiza ela caiu menos que essas outras porque ela é uma empresa melhor preparada. Tem um e-commerce melhor, é mais diversificada nos produtos, vem fazendo várias aquisições. Das três, é consenso no mercado que o Magazine Luiza é o melhor. Mas a com melhor possibilidade de upside é a Via Varejo”, argumenta.
Na última sexta-feira, a varejista tombou 8,8% após a agência Bloomberg noticiar que a YipitData rebaixou as estimativas para o crescimento das vendas da companhia no terceiro trimestre.
Recentemente, a Ativa Investimentos revisou as recomendações das três companhias e a maior alta ficou com a Via, com um potencial de valorização de 107%.
“Através das recentes aquisições do banQi e Celer, a companhia deve ampliar os serviços ofertados, e conseguir criar um ecossistema ao redor dos sellers do marketplace, além de ser capaz de entregar serviços e crédito para uma parte da população brasileira – ainda – desbancarizada”, afirmou o analista Pedro Serra.
Veja as recomendações da Ativa para o trio:
Empresa | Recomendação | Preço-alvo | Potencial de alta* |
---|---|---|---|
Magazine Luiza | Compra | R$ 24,40 | 65% |
Via | Compra | R$ 18,70 | 107% |
Americanas | Neutra | R$ 57,7 | 44,30% |
*sob o fechamento do dia 10 de setembro
No caso do Magazine Luiza, a corretora projeta uma alta de 65%, com recomendação de compra, destacando que a varejista continua entregando forte crescimento de GMV (valor bruto de mercadoria) nos últimos resultados, mesmo diante da entrada de novas empresas no mercado, “o que demonstra a força do seu modelo omnicanal, com foco em digitalização, nível de serviço e categorias de maior potencial de crescimento e recorrência de compras”.
O Itaú BBA, que reiniciou a cobertura das ações, lembra outros aspectos importantes do Magalu, como a compra do site Kabum, os pesados investimentos em logística e o mercado de fintechs, além da entrada no mundo dos games.
A recomendação é de compra e preço-alvo de R$ 24, potencial de alta de 39% ante o último fechamento.
No caso da Americanas SA, a Ativa guarda maior ceticismo, mesmo com iniciativas importantes, como a fusão com a B2W, que, segundo a corretora, eliminou burocracias.
“Ainda que enxerguemos valor na combinação de negócios e, apesar de entendermos a estratégia agressiva da Americanas S.A. para o ganho de market-share em um mercado cada vez mais competitivo – com a política de fretes e fulfillment grátis para os sellers – optamos por manter uma posição cautelosa em relação aos potenciais impactos que tais estratégias poderão trazer às margens da companhia”, pontua.
A recomendação é neutra, com preço-alvo R$ 57,7, potencial de alta de 44,3%.