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Magazine Luiza perde “um Santander” em valor em um ano. Há esperança para a ação?

19 nov 2021, 19:24 - atualizado em 19 nov 2021, 22:56
Magazine Luiza
O Money Times ouviu analistas e economistas para entender o futuro da empresa em um 2022 que se desenha pior que 2021, com inflação alta, crescimento baixo e, no meio disso tudo, pleito presidencial (Imagem: Faceboo/Magazine Luiza)

O Magazine Luiza (MLGU3) não vive um bom momento quando o assunto é valor de mercado. Segundo dados da Economática, a companhia, até então queridinha entre os investidores, perdeu R$ 116,7 bilhões desde a máxima do dia 5 de novembro de 2020. A ação derreteu mais de 60% nesse período.

Para efeito de comparação, no último dia 17 de novembro, o Santander (SANB11) valia R$ 127,6 bilhões no mercado.

Fora o gosto amargo, os investidores do Magazine Luiza se perguntam agora o que fazer com a ação: vender e evitar um estrago ainda maior ou manter o papel e torcer por uma valorização em 2022?

Pensando nisso, o Money Times ouviu analistas e economistas para entender o futuro da empresa em um 2022 que se desenha pior que este ano, com inflação alta, crescimento baixo e, no meio disso tudo, pleito presidencial. 

Números do terceiro trimestre 

Apesar da queda vertiginosa dos últimos meses, o Magalu ainda é considerado um caso de sucesso. Nos últimos cinco anos, a companhia acumula alta de 2.365%, saindo do patamar de R$ 0,38 para os atuais R$ 9,37. No caminho, a ação deixou o nível das microcaps para alcançar o status de uma das integrantes do Ibovespa, com 2,3% de participação. Como comparação, basta lembrar que o Santander representa apenas 0,61% do índice.

Na visão de Vitor Miziara, sócio da Critéria Investimentos, a companhia, mesmo com o tombo, ainda é um papel caro, muito acima de outras empresas do setor.

“O Magalu ficou caro, porque as expectativas de crescimento estavam aceleradas, as pessoas estavam comprando a valorização das ações, mais do que os resultados em si. Agora, para o próximo ano, esse crescimento ficou em xeque”, afirma.

Alexsandro Nishimura, economista e head de conteúdo da BRA, acrescenta que, para uma ação que “acostumou” os investidores a liderar os ganhos do ano, é impactante ver a Magalu perder mais de 60% do seu valor.

Ele afirma ainda que o atual cenário macroeconômico nacional, com elevado nível de inflação, taxa de juros e desemprego, pega o setor de varejo em cheio, já que afeta o consumo e o poder de compra das famílias. 

“No balanço do terceiro trimestre, a deterioração macro começou a aparecer, conforme alguns analistas destacaram, devido ao fraco desempenho do varejo físico, consumo de caixa para fortalecimento dos estoques e lucratividade pressionada”, completa. 

Apesar disso, Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, diz que os resultados do terceiro trimestre mostraram uma evolução da companhia, com a ampliação do seu ecossistema. “Não aconteceram coisas atípicas, como a Via (VIIA3) que anunciou impacto de acordos trabalhistas”.

Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos, recorda que, apesar dos pesares, a varejista mostrou evolução no e-commerce, que avançou 22%.

Concorrência feroz

Na última quinta-feira, o Mercado Livre captou US$ 1,6 bilhão em uma oferta de ações (Imagem: Divulgação/REUTERS)

Outro ponto levantado por analistas é a concorrência cada vez mais acirrada com a chegada de rivais estrangeiros, como a americana Amazon e as asiáticas Alibaba e Shopper. Na última quinta-feira (18), o Mercado Livre captou US$ 1,6 bilhão em uma oferta de ações

Em relatório enviado a clientes, o Credit Suisse destaca que a companhia argentina assumiu a dianteira e agora tem maior poder de fogo para investir na construção de seu ecossistema.

Contudo, o banco suíço ressalta que o cenário competitivo vai permanecer tão feroz quanto foi nos últimos anos.

“Além disso, Magalu e Americanas (AMER3) ainda têm muitos recursos, o que ajuda no crescimento da receita”, completa.

Miziara, da Critéria, aponta que essas companhias entraram no Brasil com diferenciais que o Magazine Luiza estava buscando, como as entregas super rápidas e as retiradas em lojas. 

Com mais concorrentes na praça, a empresa terá que suar a camisa se quiser se destacar, o que implica em mais gastos com marketing e vendas.

“O nível da concorrência vai aumentar muito no ano que vem, com queda nas margens. Essa briga vai começar a ser mais acirrada”, diz Miziara.

Black Friday pode ser tábua de salvação?

A Black Friday, que, neste ano, ocorrerá em 26 de novembro, e as festas de fim de Ano são a esperança dos investidores para o final do ano. Na sessão desta sexta-feira (19), o papel deu um alívio ao fechar em alta de 3,34%, mas muito distante de recuperar as perdas das últimas semanas. 

Mesmo assim, Rodrigo Crespi, especialista de mercado da Guide Investimentos, recorda que os smartphones, por exemplo, devem ser bem procurados na Black Friday, mas a escassez de componentes dificultará ofertas mais atrativas. 

Até o momento, os dados não são nada animadores: segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas da promoção Black Friday apresentarão neste ano a primeira queda em cinco anos.

O que fazer com o papel?

Para 2022, Medeiros, da Valor Investimento, espera que a Magalu entregue resultados positivos, principalmente por conta das vendas sazonais no final de ano. Entre as 15 principais casas de análises, 10 recomendam compra, 5 recomendam manter e nenhuma indica a venda.

“Isso é um termômetro importante para o mercado. Em função do histórico de resultados sólidos que a Magalu mantém, a nossa visão é positiva, principalmente pelas medidas econômicas que vêm sendo tomadas até para conter a inflação no próximo ano”, completa. 

O Credit Suisse afirma que o curto prazo continuará a ser difícil para o segmento, devido ao crescimento fraco em canais físicos. 

“No entanto, acreditamos no aumento da penetração do e-commerce e atrativos crescimento para 2022, o que pode representar um ponto de inflexão para o Magazine Luiza”, observa o banco.

A instituição tem recomendação outperform para o papel, com preço-alvo de R$ 15, o que implica alta de 61% ante o último fechamento. 

Já Cruz, da RB Investimentos, lembra que, em 2022, o investidor pode preferir ações mais resilientes, como uma Petz (PETZ3) ou uma Espaçolaser (ESPA3). “Empresas que vão continuar crescendo independentemente de quem assuma a presidência”, completa.