Money Times Entrevista

Magazine Luiza (MGLU3): ‘Somos os mais bem posicionados para aproveitar o ciclo de corte da Selic’, diz diretora de RI

27 fev 2024, 11:44 - atualizado em 27 fev 2024, 11:44
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Vanessa Rossini, diretora de RI do Magazine Luiza (MGLU3), falou com exclusividade com o Money Times. A executiva vê a empresa preparada para surfar na onda do ciclo de cortes da Selic (Imagem: Divulgação)

‘Quem será a nova Magazine Luiza (MGLU3) da Bolsa?’ Essa era a pergunta repetida pelos quatro cantos do mercado nos idos de 2019. A empresa, que ingressou na Bolsa em 2011, acumulava ganhos de mais de 5.000% em 2020, auge da pandemia da Covid-19, e era tida como sinônimo de sucesso.

Porém, a disparada da Selic, que saiu de 2% para 13,75% em menos de um ano, atingiu em cheio a companhia. A ação chegou a desabar 90%, saindo do patamar de R$ 25 para R$ 2.

Inúmeras casas de análise, que antes recomendavam a ação sem pestanejar, passaram a indicar neutralidade ou venda. Gestoras que tinham a ação como favorita se desfizeram do papel.

Além da alta dos juros, que derruba o consumo e encarece as dívidas das empresas, o mercado também viu com preocupação a entrada massiva de varejistas estrangeiras (Amazon, Mercado Livre e as asiáticas, como Shopee, AliExpress e Shein) como um risco para a participação de mercado da companhia.

Mas, passada a tempestade, agora o Magazine se prepara para virar a página e aproveitar a ‘chuva’ de cortes da taxa de juros. Economistas esperam que a Selic termine o ano em 9%.

“Na nossa visão, estamos começando um ciclo virtuoso para esse mundo de bens duráveis [fogões, geladeiras, eletrodomésticos]. Se formos analisar a companhia, entendemos que somos a empresa que está mais bem posicionada para se beneficiar desse novo ciclo, em crescimento de mercado”, destaca Vanessa Rossini, diretora de RI do Magazine Luiza, em entrevista exclusiva ao Money Times.

  • É possível voltar a sonhar com a Magazine Luiza (MGLU3)? Varejista aprova aumento de capital privado de R$ 1,25 bilhão, e o analista Fernando Ferrer responde se notícia pode mudar o jogo para a empresa. Confira no Giro do Mercado:

Vanessa vê a varejista no melhor momento operacional dos últimos dois anos, quando engatou uma sequência de seis prejuízos seguidos. A empresa deve divulgar seus resultados do quarto trimestre em 18 de março, após o fechamento do mercado. O consenso da Bloomberg aponta que, na média, os analistas projetam um lucro de R$ 55 milhões.

E para coroar a virada, a empresa aprovou aumento de capital de R$ 1,25 bilhão, sendo R$ 1 bilhão garantido pelos controladores e R$ 250 milhões garantidos pela mesa de equit do BTG, medida elogiada por analistas.

“No final do dia, ela é uma operação que traz mais fôlego para o Magalu acelerar seus investimentos. Estamos em um excelente momento operacional. Com esses recursos que estão sendo levantados, ganhamos espaço para acelerar os nossos investimentos, principalmente em tecnologia”. Abaixo você confere os principais trechos da conversa:

Money Times: A empresa está saudável do ponto de vista financeiro?

Vanessa Rossini: Saúde excelente, eu diria. Quando olhamos para a nossa estrutura de capital hoje, no encerramento do terceiro trimestre, o Magalu tinha R$ 8 bi em caixa, frente a uma dívida bruta que era de R$ 7,2 bi. Então, uma posição de R$ 700 milhões de caixa líquido.

Com o aumento de capital, essa posição de caixa fica ainda maior. Os vencimentos de curto prazo já seriam endereçados, inclusive parte deles foram endereçados.

Ao longo de 2024, temos R$ 3 bilhões de dívidas vencendo. R$ 1 bi já foi pago em janeiro e outros R$ 2 bi serão pagos em abril. Isso nada mudou com o aumento de capital. A decisão de quitar as dívidas de curto prazo já estava tomada.

Vemos a companhia com uma estrutura de capital sólida, com uma posição de caixa robusta e, melhor de tudo, com um momento operacional ótimo. Olhando para 2024, temos excelente perspectiva no momento, realmente estamos bem animados.

Money Times: O varejo passa por momento complicado, o que afasta muitos investidores; o que falaria para este investidor que possui um pé atrás em relação à situação do setor?

Vanessa Rossini: Quando olhamos para a nossa operação, o Magalu está no melhor momento operacional dos últimos dois anos.

Passamos por um período de taxa de juros mais altas nos últimos dois anos. As taxas de juros subiram e subiram muito rápido, o que impacta o setor. O Magalu fez um trabalho muito relevante de se ajustar, de ajustar a sua operação, trabalhar as despesas.

2023 foi um ano com muito foco em rentabilidade. Tanto é que, inclusive nos resultados do terceiro trimestre, divulgamos a nossa margem Ebitda de outubro, que já estava apontando para algo entre 6% e 7%.

Vínhamos de um resultado do terceiro trimestre de margem de 5,7%. Já temos uma importante evolução ante o terceiro trimestre, e tangibiliza tudo que foi feito ao longo do ano desse esforço em rentabilidade.

Vemos uma expansão de margem, queda das despesas financeiras também. Essa queda da Selic, que começou no ano passado, beneficia as despesas financeiras, o resultado. Quando olhamos para o consenso, ele traz uma expansão relevante da margem do Ebitda [resultado operacional], traz resultado positivo.

Seguimos crescendo tanto no online, quanto no canal offline. O marketplace, nosso canal que cresce em um ritmo mais acelerado, já ultrapassou a barreira de 300 mil sellers [vendedores responsáveis pelo envio de produtos no marketplace], mais de 100 milhões de itens disponíveis. E o mais importante: ganha cada vez mais participação nas nossas vendas.

Hoje, ele já é maior que as lojas físicas. É um business [negócio] que tem seis anos, maior que um negócio que está há 60 anos em operação.

Estamos animados com esse crescimento, com a oportunidade da expansão do marketplace.

Ele contribui com a venda, mas ele também contribui com rentabilidade. No terceiro trimestre, apresentamos a maior margem bruta da companhia nos últimos 6 anos, sendo que uma parte significativa dessa expansão vem da contribuição da receita de serviços, resultado do crescimento do marketplace.

Tem uma parte do nosso negócio que é cíclica: as categorias de bens duráveis. Quando a taxa de juros sobe, essas categorias sofrem, mas quando a taxa de juros cai, elas aceleram muito mais. Então, além de ter todo esse contexto do marketplace, temos também esse lado do nosso negócio. Somos líderes das categorias de duráveis no mercado.

Nesse início do ciclo da queda da taxa de juros, temos uma oportunidade também de ganhar marketshare [participação de mercado], acelerar as vendas tanto da loja física, quanto no nosso 1P [quando uma empresa vende diretamente para o consumidor final].

Além da alta dos juros, que derruba o consumo e encarece as dívidas das empresas, o mercado também viu com preocupação a entrada massiva de varejistas estrangeiras (Imagem: Facebook/Amazon.com)

Money Times: Quais são os diferenciais do Magazine Luiza em relação a outras varejistas, como as estrangeiras?

Vanessa Rossini: Primeiro: o Magalu tem um modelo de negócios único. O nosso e-commerce nasceu e cresceu muito pautado na multicanalidade. Uma integração total do online.

Isso permite que tenhamos o melhor nível de serviço para o cliente, com custos muito competitivos, baixos. Conseguimos ser mais eficientes. É um dos grandes destaques do nosso modelo. Era uma varejista tradicional, passou por toda a transformação digital, e hoje somos uma plataforma com pontos físicos.

Hoje, 75% das vendas do Magalu são do e-commerce. E são vendas que cresceram baseadas nessa multicanalidade.

Um diferencial é que usamos o mesmo centro de distribuição para armazenar e entregar pedidos da loja, do 1P e do 3P.

Consigo oferecer para os sellers o mesmo patamar de nível de serviço que ofereço para o meu 1P, ao mesmo tempo que tenho um custo menor, uma necessidade de investimento menor também. Com isso, abrimos a oportunidade de melhorar tudo, evoluir o nível de serviço do nosso marketplace.

Ainda tem espaço para evoluirmos, o prazo de entrega do 3P ainda é um pouco mais longo que o 1P, e com isso trazer mais vendas e fazer isso com custos muito competitivos. Estamos muito bem posicionados, conhecemos o nosso mercado, conhecemos o Brasil, temos uma operação sólida e agora estamos levando isso para o nosso marketplace.

Com relação aos concorrentes, alguns têm um foco e um mercado de ticket muito baixo, que não é o foco do Magazine Luiza. Estamos posicionados no mercado diferente de alguns players.

No nosso caso, buscamos trabalhar com tickets maiores. Claro, o marketplace tem tickets menores que a loja, mas ainda assim não chega nesse patamar de R$ 30, R$ 40 que alguns players trabalham aqui no Brasil.

“Na nossa visão, estamos começando um ciclo virtuoso para esse mundo de duráveis”

Money Times: Como veem a recuperação dos produtos de bens duráveis, como geladeiras e fogões? Acha que o governo poderia ajudar com a criação de algum incentivo a essa linha?

Vanessa Rossini: Essas categorias são muito tradicionais para nós. Operamos essas categorias há muitos anos, inclusive somos líderes de mercado no Brasil.

Uma característica dessa categoria é que ela é cíclica, tem uma relação muito grande com as taxas de juros. Se olharmos para os últimos ciclos econômicos do Brasil, quando a taxa de juros sobe, essa categoria sofre mais.

Mas quando a taxa de juros cai, ela acelera antes de todo mundo. Então, quando pensamos no momento que estamos do ciclo de queda, imaginamos que a gente tenha excelentes perspectivas para essas categorias nos próximos trimestres, nos próximos anos.

Na nossa visão, estamos começando um ciclo virtuoso para esse mundo de duráveis. Se formos analisar a companhia, entendemos que somos a empresa que está mais bem posicionada para se beneficiar desse novo ciclo, em crescimento do mercado. Continuaremos ganhando participação de mercado.

Estamos bem preparados em termos de estoque, de equipe, de lojas, de e-commerce, para poder surfar essa onda.

Já começamos 2024 em ritmo ótimo. Isso independente de qualquer ação do governo. Aqui, estamos muito focados em como podemos nos organizar, como podemos nos preparar para entender o cliente. Estamos bem posicionados em termos de estoque. Isso tudo depende da companhia.