Made in Brazil: A receita do Nubank para expandir além das fronteiras, segundo Cristina Junqueira
O ano mal começou e o Nubank (NU;ROXO34) vem dominando o foco quando o assunto é o setor financeiro. Recentemente, a empresa fez uma dança das cadeiras: Livia Chanes, chefe de operações no Brasil, passou a ocupar a cadeira de CEO.
Com isso, Cristina Junqueira, Co-Fundadora e Chief Growth Officer (CGO) do Nubank, agora pode focar de vez na missão de expandir o banco para além das fronteiras brasileiras. No início do ano, a empresa recebeu aprovação para operar como empresa financeira na Colômbia.
Vale lembrar que o Nubank iniciou suas operações no país latino em 2021 e já investiu cerca de US$ 450 milhões.
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Além disso, o banco também está presente no México, sendo que lançou uma nova funcionalidade neste ano: os clientes podem transferir dinheiro dos Estados Unidos para o México via WhatsApp. Também está no radar da empresa retomar a expansão para a Argentina.
“Vemos muitas oportunidades na América Latina e a expansão internacional do Nubank é uma das nossas grandes apostas para 2024″, afirma Cristina Junqueira, em entrevista para o Money Times.
“A experiência no Brasil nos permite escalar soluções já desenvolvidas de forma eficiente, fazendo com que o crescimento internacional seja ainda mais acelerado do que o que vimos por aqui”, completa.
A executiva destaca que a previsão de um aumento da taxa de adoção de smartphone na América Latina é um ponto de interesse no avanço da companhia.
Confira a entrevista completa da Cristina Junqueira, do Nubank
Money Times: Como foi 2023 para o Nubank?
Cristina Junqueira: O ano de 2023 foi excelente e marcado por momentos históricos para o Nubank: completamos 10 anos de existência e dois anos da abertura de capital.
Também foi um ano com uma sucessão de bons resultados financeiros, que excederam as expectativas do mercado. Com destaque importante para o último trimestre, no qual tivemos lucro líquido recorde de US$ 303 milhões. Foi um aumento de 34% em relação ao trimestre anterior e também uma receita trimestral recorde de US$ 2,1 bilhões.
Também ampliamos a nossa base para mais de 90 milhões na América Latina e lançamos mais de 40 produtos em nosso aplicativo. Como recursos de segurança como o Modo Rua, soluções em cripto e ETFs, até ações voltadas para o público de alta renda.
MT: Recentemente, o Nubank superou o seu preço de IPO. Como você enxerga essa evolução do banco?
CJ: Somos guiados pela visão de longo prazo e pela nossa missão de levar os melhores serviços para os nossos clientes. Este é o caminho natural para a empresa. Desde que o Nubank chegou ao mercado, estamos focados nos clientes e em oferecer soluções que atendam suas dores, impactando positivamente suas vidas financeiras.
Nosso modelo de negócios, que focado em eficiência operacional, tem nos permitido crescer em um ritmo acelerado e gerar um ciclo virtuoso, no qual utilizamos tecnologia e dados para lançar produtos inovadores e competitivos, que atraem um maior número de clientes e fidelizam ainda mais essas pessoas em nossa plataforma.
MT: No começo do mês, o Nubank recebeu aprovação para operar como empresa financeira na Colômbia. Como está a expansão na América Latina?
CJ: Vemos muitas oportunidades na América Latina e a expansão internacional do Nubank é uma das nossas grandes apostas para 2024.
Na Colômbia, uma em cada 10 pessoas já se inscreveram para ter nosso cartão de crédito. Com a aprovação da Licença Financeira, a lista de espera para a Cuenta Nu foi anunciada no país e estamos animados para oferecer uma experiência de rendimento única por lá, assim como outras soluções.
Além da Colômbia, uma de nossas prioridades é o mercado mexicano, que tem um potencial tão grande quanto o brasileiro e um PIB per capita 30% maior, segundo dados do Banco Mundial. Estamos replicando a estratégia bem sucedida do Brasil e priorizando crescimento de longo prazo, já com 5,5 milhões de clientes.
Estamos expandindo acessos no México e na Colômbia para trazer produtos mais inovadores e fáceis de usar, mas não só isso: nossas soluções são fundamentalmente melhores para quem já estava dentro do sistema e para os que ainda estão desbancarizados. Com o nosso fortalecimento nesses mercados, as oportunidades aumentam e estamos na posição certa para conquistar todo esse potencial.
MT: Quais são os desafios de atravessar as fronteiras brasileiras?
CJ: Temos oportunidades significativas para reinventar setores considerados historicamente complexos na América Latina, com grandes índices de pessoas desbancarizadas ou taxas abusivas.
Outro ponto interessante do público latino americano é a taxa de adoção de smartphones na região, que deve crescer de 79% em 2022 para 93% em 2030, segundo dados da Statista. Ou seja, é uma população altamente conectada, ainda que com suas questões particulares em cada país, claro.
Na Colômbia, por exemplo, apenas 22% da população tem um cartão de crédito, de acordo com o relatório de inclusão financeira Banca de las Oportunidades 2022. Já no México, 54% da população usa métodos informais de poupança, como guardar dinheiro debaixo do colchão.
A experiência no Brasil nos permite escalar soluções já desenvolvidas de forma eficiente, fazendo com que o crescimento internacional seja ainda mais acelerado do que o que vimos por aqui, com equipes especializadas nos mercados locais para aplicar essa fórmula em contextos específicos.
Por exemplo, as Caixinhas no Brasil e as Cajitas no México são exemplos de soluções similares e que tiveram rápida adoção em cada um de seus mercados, atendendo uma demanda das pessoas de ter um lugar para guardar seu dinheiro de forma segura e ainda ter rendimento adequado aos seus planos pessoais.
MT: O que o sistema bancário brasileiro tem de vantagens e pode levar para outros países?
CJ: O setor financeiro é um dos mercados mais regulamentados do mundo e, no caso do Brasil, isso não impede que sejamos também um país que está atento às novas tecnologias e está em constante evolução, sendo, inclusive, uma referência global.
Vale destacar que o mercado se transformou muito na última década: quando lançamos o Nubank, dez anos atrás, o sistema bancário era concentrado em cinco instituições que controlavam 69% do mercado. Em 2022, essa concentração estava em 56%, olhando para os dados do IF Data.
Acreditamos que soluções como Pix e Open Finance têm o potencial de transformar a relação das pessoas com suas vidas financeiras. E nosso DNA digital nos permite adotar essas novidades com a rapidez necessária para atender nossos clientes. Para se ter uma ideia, 23% das transações de Pix feitas hoje passam pelo Nubank.
Essas duas tecnologias ainda são relativamente novas em outros países e nossa experiência brasileira nos permite estar à frente destes temas nos mercados em que operamos, contribuindo com inclusão, adoção e inovação
MT: Recentemente, na carta trimestral da gestora Dynamo, David Vélez destacou que o mercado ainda subestima potenciais importantes da operação do Nubank. Como vocês buscam reverter isso e conquistar de vez essa confiança do mercado?
CJ: Historicamente, o Nubank sempre navegou em situações macroeconômicas desafiadoras e aprendemos muito com isso, principalmente, no que diz respeito a focarmos no que podemos controlar.
Fomos pioneiros com um modelo de negócios inovador e mostramos a efetividade dos nossos planos com resultados, superando as expectativas do mercado por oito trimestres consecutivos.
O nosso lucro líquido, por exemplo, vem constantemente quebrando recordes, chegando a US$ 303 milhões no terceiro trimestre de 2023, valor que superou em mais de 180% o consenso formado pelo mercado no início do ano. Diversos analistas revisitaram suas previsões do início de 2023 para o Nu a partir dos resultados de crescimento consistente.
Como sempre dizemos internamente, estamos apenas no Dia 1 da nossa jornada. Reforçamos o nosso compromisso centrado nos clientes, desenvolvendo produtos inovadores e buscando sempre solucionar as principais dores das pessoas. Essa é a fórmula que continuará nos impulsionando.
MT: No início do ano, vocês tiveram a oportunidade de se encontrar com o ministro Fernando Haddad. O que foi falado nessa reunião e como o Nubank pode ajudar nos planos do governo de inclusão financeira?
CJ: O Nubank sempre manteve o diálogo com o governo em exercício, pois acreditamos que essa relação é de extrema importância para levarmos aos representantes da sociedade o que temos feito pelo país e como as ações tomadas têm impacto direto na vida dos brasileiros. Acreditamos no valor do debate para falar sobre o ecossistema financeiro e continuar oferecendo produtos e serviços de ponta aos nossos clientes.
MT: O que esperar da empresa para 2024? Que planos você já pode compartilhar com a gente?
CJ: Para este ano, nosso foco está em acelerar nossas operações internacionais, crescendo dentro desses mercados em número de clientes e também em número de ofertas de produtos e serviços, aumentando a principalidade.
Também vemos muitas oportunidades para ampliar o nosso market share em alguns setores no Brasil, como investimentos, alta renda, pessoa jurídica e oferta de crédito com garantia.
Em nossa visão de futuro, para além de 2024, queremos ser uma plataforma completa, que vai além dos serviços financeiros, com recursos de automação, personalização, recomendações e uma experiência integrada e social.