Biocombustível

Macaúba mineira prepara entrada em mercados de especialidades, mas de olho no biodiesel

26 ago 2019, 16:16 - atualizado em 26 ago 2019, 16:32
Macaúba, da empresa de Felipe Morbi, promete entrar nas especialidade que usam a biomassa, de olho no mercado de biodiesel (Imagem: Soleá)

A Soleá tem um número em mente a médio e longo prazos: o mandato brasileiro para biodiesel exigirá 15% de outras oleaginosas até 2028, fora a soja e sebos. A curto prazo: mercados de especialidades em cosméticos, alimentos e químicos. Este a empresa pretende começar atender sozinha; quanto ao primeiro, está construindo a base para entrada de outros. E só com macaúba.

Em Viçosa, a co-irmã Acrotech Biotecnologia testa e valida as condições de plantio, produção e multiplicação de mudas e as aplicações do óleo, farinha e da biomassa restante, enquanto em João Pinheiro, também em Minas, a área produtiva e operacional se prepara para sair da fase 1 e entrar no período de produção comercial, até dezembro deste  ano. Ao final de 2020, Felipe Morbi, CEO da Soleá, garante 700 hectares em produção de frutos e uma indústria mais encorpada.

A produção, então, alcançará 2,4 mil toneladas de frutos: 480 toneladas de óleo e 720 toneladas de farinha (polpa e amêndoa), mais 2,5 mil toneladas de biomassa seca (folhas, cachos vazios e outros) para especialidades químicas.

Alinhado ao potencial agronômico – capacidade produtiva em qualquer bioma, baixo custo de manejo, longevidade e regularidade após a primeira safra, ocupação de terras degradadas e produtividade de óleo 18 vezes superior à soja -, o potencial comercial garantiu a entrada de recursos, afirma Morbi.

A holding Pastori Participações (metalurgia, motores Anauger), com sede em Jundiaí, conseguiu duas operações com o BNDES via aval do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que entraram dentro dos R$ 30 milhões investidos até agora.

Para a fase mais avançada do projeto, que Morbi estima uma indústria para a extração de macaúba em 5 mil hectares próprios, o orçamento previsto inicialmente é de R$ 120 milhões. Essa meta é para mais 3 anos.

Enquanto está na saída do estágio piloto, com tudo testado e mercado comercial mapeado, e vai adequando a estrutura própria aos novos modelos produtivos que o ganho de escala vai exigir, a empresa também já pensa em como ir agregando fornecedores de frutos. Felipe Morbi reconhece que mesmo para o setor de alimentos o fornecimento de óleo e farinha também exige escala, mesmo para produtos finais de especialidades. Portanto, matéria-prima também poderá vir de terceiros.

E a unidade produtiva do Noroeste de Minas Gerais, estado que até tem uma lei incentivando a produção de macaúba, poderá receber de outros produtores. “Podemos oferecer o pacote agrícola e a garantia da compra do produto”, explica o CEO da Soleá, que tem recebido muitas consultas, inclusive de investidores que pensam em diversificação de negócio. Como o próprio grupo familiar Pastori o fez há quase 10 anos.

Em que se mantenha a produção para mercados de valor agregado, como estes nos quais a Soleá vai estrear para valer em 2020, o salto produtivo mais ambicioso é o consumo de biocombustíveis, biodiesel e bioquerose de aviação. Atualmente, no diesel, a mistura de bio é de 10%, com volumes em alta, como a aprovação pela ANP de 11% recentemente, o que já exige uma escala altíssima. E o cronograma deve crescer.

Com a exigência de 15% terá que sair de oleaginosas como a macaúba e outras, o potencial é enorme. “Se fossemos aproveitar esses 15% somente com macaúba, precisaríamos de 400 mil hectares plantados”, complementa Morbi.

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