Lula viaja para China no fim do mês com pauta mais enxuta; confira 5 pontos
O presidente Lula realiza visita oficial à China no fim deste mês, entre os dias 26 e 31 de março. A data oficial da viagem foi divulgada nesta sexta-feira (17), em nota à imprensa.
Trata-se da terceira visita de Estado de Lula à China, a primeira nesse terceiro mandato. Em 2004 e 2009, durante o primeiro e segundo mandatos, respectivamente, o presidente também visitou o país asiático.
Além disso, será a quarta viagem oficial do presidente ao exterior desde que tomou posse. Depois de passar por Argentina, Uruguai e Estados Unidos, desde janeiro, chegou a vez da China, o principal parceiro comercial do Brasil.
Até por isso, a viagem ao país asiático é a que tem maior caráter econômico, até aqui. Porém, o governo brasileiro está reavaliando a pauta. A expectativa era de que fossem firmados cerca de 30 acordos em diversas áreas. Agora, o Palácio do Planalto reduziu à metade os temas prioritários.
Confira os cinco pontos sobre o que se sabe viagem do presidente Lula para a China:
1- Agenda cheia: viagem de 26 a 31 de Março
Apesar da visita oficial abranger o período de 26 a 31 de março, o presidente deve ficar somente três dias cheios na China. Isso porque o deslocamento para o país asiático é mais complicado, considerando-se o tempo de voo e o fuso horário.
Segundo comunicado oficial, em Pequim, estão previstas reuniões de Lula com o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro da China, Li Qiang, além do presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji.
No encontro, serão tratados temas da pauta bilateral, incluindo comércio, investimentos, reindustrialização, transição energética, mudança climática, e paz e segurança mundial.
Depois, no dia 30, Lula deve ir a Xangai, onde participará de eventos empresariais e visitará a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado banco dos Brics. A expectativa é de que a ex-presidente Dilma Rousseff assuma a presidência do NBD no fim do mês, na presença de Lula.
2- Comitiva grande
Dilma estará na comitiva que irá para a China. Aliás, o tamanho da delegação que visitará o gigante emergente chama a atenção. No total, serão cerca de 200 pessoas, distribuídas entre representantes do governo, do Congresso e do setor privado.
No caso do Executivo, estarão presentes os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Nísia Trindade (Saúde). Também estarão presentes membros do alto escalão do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Além disso, devem fazer parte da comitiva o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e o ex-ministro Celso Amorim, hoje assessor especial do Palácio do Planalto. A lista inclui ainda o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana.
Entre os parlamentares, Lula convidou os comandantes das duas Casas Legislativas, Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado). Mas o convite ainda aguarda resposta. Por sua vez, deputados e senadores já devem estar preparando as malas, assim como dezenas de empresários.
Seja como for, será uma equipe bem mais robusta do que a que esteve nos EUA, em fevereiro. Daí, então, a pergunta é: o que toda essa delegação irá fazer na China?
3- Pauta bilateral: prioridades elencadas
Com uma pauta bilateral mais enxuta, o governo brasileiro irá concentrar a discussão comercial em três áreas: agricultura, ciência e tecnologia e semicondutores. Ainda assim, os temas relacionados ao comércio não estarão restritos às commodities agrícolas.
O Brasil vai atrás dos investimentos chineses – e não apenas em setores ligados ao agronegócio. O objetivo é buscar recursos externos para as áreas de energia renovável, infraestrutura e setores manufatureiros. Também deve buscar acordos de cooperação em temas como satélites e 5G.
4- Pauta global: Guerra da Ucrânia
Contudo, o Brasil também quer tratar de temas globais. Questões envolvendo instituições multilaterais, como o G20 e a Organização das Nações Unidas (ONU) serão colocadas na mesa. Também na pauta do dia, estará a questão climática.
No entanto, o assunto principal que Lula deve tratar com Xi é sobre a negociação para um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Se de um lado o Brasil conquistou a confiança do Ocidente com o voto na ONU contra Moscou; de outro, o país vai tratar da guerra com o único interlocutor que Vladimir Putin ouve: a China.
Por ora, o foco está em construir um diálogo. A partir daí, pode-se pensar em como fazer para facilitar o cessar-fogo no leste europeu e o fim das hostilidades entre os dois países, além da expansão da Otan.
5- Relação de ganha-ganha
Fica claro, então, o porquê o governo brasileiro ainda trabalha na construção do roteiro de viagem no fim deste mês. O Brasil irá para o outro lado do mundo em busca de reverter a imagem deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, de hostilizar a China e ser pró-Ocidente.
O recado claro de Lula é de defesa pelos interesses nacionais, sem ser “caudatário” de ninguém. Não haverá opção entre EUA e China, nem entre Europa e Ásia. O que vai ditar a política internacional brasileira são os benefícios próprios.
Essa postura favorece a China, construindo uma relação de ganha-ganha. Afinal, a segunda maior economia do mundo é vista cada vez mais como ameaça às potências hegemônicas, escalando a tensão geopolítica global diante das investidas de um bloco “anti-China”.
Pequim sabe dos riscos de ficar isolado do mundo, em meio ao rearranjo das cadeias produtivas e à guerra de narrativas. Por isso, atrair o Brasil e ter o apoio da maior economia da América Latina representa a conquista de um grande aliado.