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Lula: vencimentos de títulos do governo, atrasam as perspectivas de afrouxamento monetário em 2023

26 dez 2022, 14:04 - atualizado em 26 dez 2022, 14:07
Lula
Mesmo assim, a relação segue acima da média de 65% dos países emergentes, com economistas estimando que poderá se aproximar de 90% do PIB no fim do mandato de Lula (Imagem: Facebook/Lula)

O vencimento dos títulos do governo brasileiro vinculados à taxa básica de juros atingirá um recorde em 2023, evidenciando os desafios para o serviço da dívida pública, no momento em que planos de gastos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva atrasam as perspectivas de afrouxamento monetário.

Os vencimentos dos títulos pós-fixados, as chamadas LFTs, chegarão a 464 bilhões de reais no ano, o maior volume já registrado, com concentração em março (178 bilhões de reais) e setembro (286 bilhões de reais).

Quanto maior a taxa básica de juros, maiores serão os desembolsos do Tesouro. E essa perspectiva tornou-se mais nebulosa após o apoio de Lula a um pacote de 168 bilhões de reais, já aprovado pelo Congresso, que contorna o teto constitucional de gastos para cumprir as promessas de campanha.

O Tesouro disse à Reuters que as emissões de dívida de 2020, suspensas pela pandemia, influenciaram esse vencimento elevado, destacando que sua reserva de liquidez de 1 trilhão de reais permite “antecipar períodos de maior concentração de vencimentos e mitigar os riscos de refinanciamento da dívida pública”.

Ainda assim, a perspectiva de juros mais altos por mais tempo, que ganhou força após a apresentação do pacote, preocupa, disse o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida, lembrando que a curva de juros do país mostra taxas de juros reais não vistas em nenhum outro lugar do mundo, situando-se acima de 6% para horizontes longos.

O banco central interrompeu um ciclo de aperto agressivo em setembro, após 12 aumentos seguidos que levaram a taxa de juros do menor valor da história de 2%, em março de 2021, para 13,75%.

Mas a curva de juros, que chegou a precificar um corte de juros em março de 2023, agora incorpora uma alta no mesmo mês, com taxas consistentemente em dois dígitos ao longo de sua extensão.

Banco Central Selic
Mas a curva de juros, que chegou a precificar um corte de juros em março de 2023, agora incorpora uma alta no mesmo mês
(Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

“Se o próximo governo não deixar muito claro qual é a nova regra fiscal, a gente vai ficar com esse juro, tanto de curto quanto de longo prazo, muito alto”, disse Mansueto, economista-chefe do BTG Pactual (BPAC11).

“Isso tem que mudar, senão vai machucar muito o investimento privado e levar a uma trajetória muito preocupante do crescimento da dívida pública. É um sinal muito negativo e acho que o Brasil corre o risco eventualmente ser rebaixado pelas agências de classificação de risco.”

A dívida pública deve fechar este ano em torno de 74% do PIB, menor patamar desde 2018, ajudada pelo crescimento nominal do PIB, pelo pré-pagamento de empréstimos dos bancos federais e pelos resgates líquidos de dívida, com o Tesouro preferindo usar sua reserva de liquidez para reduzir emissões de títulos.

Mesmo assim, a relação segue acima da média de 65% dos países emergentes, com economistas estimando que poderá se aproximar de 90% do PIB no fim do mandato de Lula se não for feito um ajuste fiscal para contrabalançar a expansão orçamentária.

Mansueto disse que a liberação de gastos adicionais pela PEC “assusta” e não deveria ter ultrapassado 100 bilhões de reais.

Um novo quadro fiscal para substituir o desacreditado teto de gastos deve idealmente ser revelado no primeiro trimestre, acrescentou, dizendo que o novo governo também deve buscar medidas para aumentar as receitas, mencionando o retorno de 50 bilhões de reais em impostos federais sobre combustíveis.

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reuters@moneytimes.com.br
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