Economia

Lula quer interferir nos preços da Petrobras (PETR4) mesmo com fantasma de Dilma

28 fev 2023, 11:30 - atualizado em 28 fev 2023, 11:57
Petrobras
Petrobras registrou quatro anos de prejuízo após governo de Dilma Rousseff congelar preços dos combustíveis. (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

O Ministério da Fazenda confirmou que o governo retomará a cobrança de impostos federais sobre a gasolina e o etanol.

No entanto, na tentativa de minimizar o impacto no bolso do consumidor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca na Petrobras (PETR3; PETR4) uma solução. A ideia é que a estatal reduza os preços dos combustíveis para compensar a alta nos impostos.

“Haddad afirmou que a Petrobras teria uma espécie de ‘colchão’ para evitar que o aumento de impostos bata fortemente nos combustíveis. Para que isso não altere a política de paridade de importação, é necessário que esse ‘colchão’ seja apenas uma adequação do preço”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

O problema é que o mercado tem um certo receio quando o assunto é interferência do governo nas estatais, principalmente na Petrobras. Durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, o governo optou por congelar os preços da estatal, mesmo com o barril do petróleo em alta.

Isso resultou em quatro anos de prejuízo da Petrobras entre 2014 e 2017, além da defasagem dos combustíveis.

Em comunicado divulgado aos acionistas, a Petrobras afirmou que os ajustes de preços seguem as suas políticas comerciais vigentes e que o mercado internacional é monitorado diariamente.

“A Petrobras reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais.”

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Petrobras, o coringa dos combustíveis

Do ponto de vista do mercado, por enquanto, a interferência do governo não é um bicho de sete cabeças.

O motivo é que os preços dos combustíveis no Brasil estão acima dos praticados lá fora. Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostram que a gasolina, por exemplo, está 7% acima do valor internacional – são R$ 0,21 a mais no litro.

No caso de retomada dos impostos, o consumidor verá um impacto direto nas bombas de combustíveis. O litro do álcool terá um aumento de R$ 0,23, enquanto o litro da gasolina subirá R$ 0,69.

Pelos cálculos do Ministério da Fazenda, a reoneração vai garantir R$ 28,9 bilhões aos cofres públicos em 2023.

Agora, se considerada o atual patamar da gasolina no mercado internacional e um eventual reajuste da Petrobras, o impacto dos impostos federais na bomba cairia para R$ 0,53 – sem refletir no valor que a equipe econômica espera arrecadar, uma vez que os impostos vão ser cobrados normalmente.

“Deste modo, a gasolina ainda seria impactada em 10%, gerando impacto de cerca de 50bps [0,50%] de inflação no ano. Ainda assim não está claro se os R$ 0,53 serão reintegrados totalmente, visto que algumas matérias falam em volta escalonada do montante”, aponta Étore.

Ainda assim, para a medida dar certo, o governo precisa ter certeza de que os preços internacionais não vão mudar.

Pedro Soares e Thiago Duarte, do BTG Pactual Equity Research, por exemplo, discordam da visão de que há espaço para a Petrobras reduzir os preços e estimam que a gasolina esteja sendo negociada com um pequeno desconto de 3,5%.

“Se forçar a estatal a subsidiar os preços dos combustíveis está realmente entre as possibilidades estudadas pelo governo, a empresa provavelmente também precisará arcar com o custo da importação para evitar o desabastecimento no país”, afirmam.

Com base no volume de importações de gasolina em 2022, isso poderia custar à Petrobras em torno de R$ 12 bilhões adicionais com base nos preços atuais. Ao todo, um subsídio totalmente suportado pela empresa poderia custar R$ 37 bilhões.