Lula lá? O que legado do petista ensina aos investidores, caso vença
Faltando duas semanas para as eleições, as principais pesquisas eleitorais continuam mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente de Jair Bolsonaro (PL), atual ocupante do Palácio do Planalto e que tenta a reeleição.
Ainda que alguns levantamentos apontem Bolsonaro em situação de empate técnico ou com alguma vantagem sobre o ex-sindicalista, as chances de vitória do petista em outubro seguem majoritárias.
A diferença do pleito deste ano em relação aos anteriores é que os principais candidatos já são conhecidos pelos eleitores. No caso do ex-presidente, Lula disputou o cargo várias vezes (e perdeu), enquanto ostentava o figurino de radical de esquerda nos anos de 1980 ao início dos anos 2000.
Somente quando ele se moveu em direção ao centro, antes da eleição presidencial de 2002, é que acabou chegando ao poder. O marco desta guinada foi a famosa Carta ao Povo Brasileiro, em que Lula prometia respeitar contratos e abandonar heterodoxias econômicas, num claro afago ao mercado financeiro.
Para provar que continua moderado, a despeito de arroubos radicais de algumas alas petistas e de partidos que compõem sua coligação, Lula surpreendeu os observadores, ao firmar uma aliança com um de seus antigos rivais: o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que integra sua chapa como vice-presidente.
Algumas pesquisas de intenção de voto mostram que, para a maioria dos entrevistados, Lula é quem vencerá a eleição. Se isto ocorrer, os investidores não se cansam de perguntar: qual Lula assumirá o poder? O de perfil moderado que governou de 2003 a 2010, ou o radical que ecoa bandeiras do PT que causam calafrio no mercado, como a reversão da privatização da Eletrobras (ELET3; ELET6) e o fim da reforma trabalhista aprovada no governo Temer?
Antecipar a resposta é uma questão crucial para quem precisa planejar seus próprios investimentos, como as pessoas físicas, ou gerir o patrimônio de terceiros, como os gestores de fundos. Mas, para a Capital Economics (CE), um exame atento do passado de Lula como presidente pode dar pistas preciosas.
“Embora Lula tenha sido vago sobre seu viés político-econômico, o legado sugere que, se vencer, o petista respeitará os princípios-chave da ‘ortodoxia macroeconômica’”, comenta o economista-chefe de mercados emergentes, William Jackson, em relatório.
De modo geral, isso significa que o Banco Central continuará tendo “carta branca” para lidar com o atual problema da inflação. “Até porque a legislação aprovada no ano passado que concedeu independência do BC amarra as mãos de Lula”, pondera o economista da CE.
Piora fiscal desafia Lula
Jackson também avalia que uma “explosão fiscal” é improvável. “No entanto, é difícil de acreditar que Lula voltará atrás nas promessas de campanha para expandir a assistência social”, alerta, lembrando que o Bolsa Família foi uma das marcas do governo Lula.
Aliás, a manutenção do atual benefício social do Auxílio-Brasil em R$ 600 é promessa de campanha de ambos os candidatos. Para a consultoria americana, ainda que, no curto prazo, maiores gastos do governo ajudem a sustentar a demanda, não há recursos para financiar despesas adicionais.
Além disso, é grande a chance de que a regra do “teto dos gastos” caia. “Visto dessa forma, a situação fiscal parece mais provável que se assemelhe aos últimos anos do governo Lula que aos primeiros anos de sua presidência”, diz Jackson.
Portanto, o economista faz uma diferenciação entre o governo Lula do primeiro mandato, com um viés expansionista mais moderado, e o do segundo mandato, quando as contas públicas deram os primeiros sinais de desgastes.
Mão do Estado
Outra lição importante está relacionada ao tamanho do Estado na economia. Para a Capital Economics, o avanço na pauta de reformas estruturais para impulsionar o crescimento econômico é improvável.
Em contrapartida, é mais provável que Lula tente ressuscitar políticas que ampliem a intervenção estatal na economia. “Nos anos 2000, Lula não reverteu as políticas liberalizantes de seus antecessores. No entanto, é improvável que ele busque políticas que pareçam estar na lista de tarefas do governo Bolsonaro”, compara Jackson.
Nesse sentido, o economista lembra que as pautas das reformas tributária e administrativa estão na agenda do candidato à reeleição. Para ele, também devem fazer parte do novo plano de governo temas como privatizações e corte nas tarifas de importação. “Tudo isso ajudaria a enfrentar o problema de baixa produtividade do país”, avalia.
Para a Capital Economics, um eventual terceiro mandato de Lula contaria com a expansão do papel dos bancos estatais, principalmente por meio do BNDES. “Haveria uma alocação de recursos de forma indevida, elevando o custo fiscal e segmentando o mercado de crédito, com reflexos na taxa de juros real (descontada a inflação)”.
E os mercados?
Portanto, um terceiro mandato de Lula deve ampliar o tamanho do rombo nas contas públicas, o que tende a elevar o prêmio do risco-país, mantendo os ativos financeiros sob pressão. O destaque fica com os mercados domésticos de câmbio e de juros futuros.
Já a longo prazo, uma mudança para um papel maior do Estado na economia estaria associada a uma piora na alocação de recursos. Como resultado, isso tende a provocar inflação mais alta e crescimento potencial mais lento do PIB.
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