Lula ou Bolsonaro? Players internacionais analisam candidaturas favoritas ao pleito presidencial
Se você dormisse em dezembro de 2021 e acordasse só agora, a menos de dezessete dias do primeiro turno, veria que pouco ou mesmo nada mudou em relação ao cenário eleitoral.
A ampla maioria das pesquisas aponta Lula (PT) na dianteira seguido por Jair Bolsonaro (PL), que possui cerca de 35% das intenções de voto. Descontadas variações metodológicas entre uma e outra pesquisa, apenas o imponderável tiraria a eleição de algum dos candidatos que há mais de 9 meses encabeçam a disputa.
No esforço de esmiuçar esse contexto, o Money Times já realizou uma série de matérias sobre as propostas destes candidatos, bem como a repercussão que seus nomes possuem entre gestores e analistas do mercado brasileiro.
Mas e quanto aos investidores internacionais? Confira o que está no radar da Mirae Asset Management, gestora de portfólios em diversos países.
Bolsonaro é preferível, mas depende de agenda liberal esquecida
Malcolm Dorson, especialista em mercados emergentes da Mirae Asset Management residente em Nova York, diz haver uma preferência clara entre investidores estrangeiros pela continuidade da agenda econômica de Bolsonaro.
O administrador acrescenta que “apesar do crescente aumento do gasto público, há uma crença de que a reeleição de Bolsonaro favoreceria com mais afinco a continuação dos programas de desestatização, reforma tributária e a manutenção da independência do Banco Central”.
Para Malcolm, o fator de incerteza nesta análise é a permanência de Paulo Guedes em um segundo eventual governo e, em caso afirmativo, se o ministro conseguiria retomar as rédeas do orçamento da união.
Desde os momentos iniciais da pandemia, Guedes tem sofrido sucessivas derrotas para a ala política, que advoga por expansão dos gastos públicos, o que acabou erodindo parcela da confiança do mercado na ‘marca liberal’ do ministro.
Perguntado se a posição do atual presidente sobre o meio-ambiente e direitos humanos pode comprometer a alocação de estrangeiros, o gestor diz: “investidores sempre consideram riscos socioambientais em seus processos de decisão. Mas entendo que o fluxo atual de capital no Brasil já precificou a política do atual governo com relação a estes temas”.
Ainda assim, Malcolm avalia que o atual comportamento dos mercados não concede um cheque em branco para decisões futuras do incumbente: “a situação pode se deteriorar rapidamente”.
Se reeleito, um dos principais desafios para Bolsonaro é o de retirar a pecha de inimigo do meio-ambiente e das questões relacionadas aos direitos humanos. Ambas as frentes têm sido evocadas como barreiras para maior integração do Brasil no comércio internacional. Prova disto é a leniência com que ocorre o processo de admissão do país na OCDE e o atraso indefinido do acordo União Europeia-Mercosul.
De toda forma, o gestor da Mirae frisa que os principais fatores que balizarão a entrada de recursos no país passarão pelo respeito às regras fiscais, crescimento econômico e juros reais positivos.
Em havendo o cumprimento destes preceitos, o Brasil pode se beneficiar de um novo e robusto fluxo de capitais, uma vez que os múltiplos das ações nacionais se encontram bem abaixo da média histórica. Em outras palavras, a bolsa está muito barata.
Lula aposta fichas em prosperidade do passado
O ex-presidente também recebeu considerações por parte da gestora com sede em Seoul. A análise da Mirae desmistifica Lula como um candidato supostamente radical, afastando-se dos temores que usualmente cercam a candidatura do petista.
Em relatório, Malcolm lembra que Lula escolheu Henrique Meirelles — um economista de inclinação liberal — para ser o presidente do Banco Central no seu primeiro mandato e fortaleceu acordos estritos de responsabilidade com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Como consequência dessas ações, o governo do petista conseguiu alcançar resultados fiscais expressivos ainda no biênio 2003-2004.
Ainda no documento, o gestor da Mirae interpreta que Lula conduz hoje uma campanha pouco elucidativa sobre como enfrentar os desafios atuais — notadamente o baixo crescimento econômico do país — em caso de sua terceira reeleição.
Ao invés disso, o candidato aproveita uma conexão positiva entre ele e o ciclo de prosperidade entre 2003-2010 como uma espécie de garantia de que ele será capaz de reproduzir os mesmos resultados.
Candidatos estão realmente preparados para retomar o crescimento?
Seja Lula ou Bolsonaro, a análise da Capital Economics compartilha uma percepção menos entusiasmada entre investidores estrangeiros de que nenhum dos dois candidatos está bem posicionado para resolver os problemas atuais.
A atuação contra a baixa produtividade do crescimento econômico atual depende de um compromisso central com uma política fiscal de credibilidade e reformas estruturantes. Para a firma estrangeira, nenhum dos presidenciáveis favoritos ao pleito possuem o apetite necessário para perseguir tais políticas, intrinsicamente impopulares.
Ainda mais pessimista, a Capital Economics arremata sua análise dizendo que, à exceção de um novo boom no preço das commodities, a tendência é que o Brasil permaneça entregando baixos crescimentos – entre 1 e 1,5% anuais – ao passo que a dívida soberana e a relação PIB/dívida pública devem subir.
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