Lula nas eleições: Para Credit Suisse, ex-presidente será eleito
Segundo o banco Credit Suisse, é provável que o ex-presidente Lula (PT) vença as eleições deste ano.
O petista, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, rivaliza principalmente com o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que fica na segunda posição.
Para o Credit, um eventual novo governo Lula será mais próximo do que foi o seu primeiro mandato, que teve início em 2003.
Os analistas Solange Srour e Lucas Vilela, que assinam o relatório de perspectivas para as eleições, acreditam em um “Lula pragmático”, que vai aprovar reformas e avançar no processo de consolidação fiscal, afastando-se um pouco de políticas que podem ser consideradas populistas, ainda que sejam defendidas por membros do partido.
Um dos motivos destacados pelo relatório é o tom “centrista da sua campanha” e a sinalização que o ex-presidente tem feito para esse espectro político.
No início da semana, a Reuters veiculou que enquanto economistas ligados ao ex-presidente são contrários à autonomia do Banco Central, Lula tem apresentado moderação sobre o tema, no que seria “mais um aceno à estratégia centrista para tentar arrebanhar votos”.
Outro sinal seria a possibilidade da formação de uma chapa Lula-Alckmin nas eleições. Alckmin deixou o PSDB, principal antagonista do PT desde a redemocratização, em dezembro do ano passado.
“Lula é um político experiente e sabe que para poder governar no país nos próximos anos, ele precisará manter sua popularidade alta. Dado as atuais condições econômicas — crescimento fraco, inflação e juros altos, aumento da desigualdade de renda e alto endividamento — ele precisaria começar sua administração com alta credibilidade e ação”.
Aceno aos seus
Ainda assim, o Credit Suisse avalia que Lula também não deixa de acenar para a sua própria base.
O petista já citou a possibilidade de modificar algumas reformas do governo Temer (principalmente a trabalhista), aumentar gastos sociais e, em contrapartida, subir impostos para a população mais rica.
Os analistas lembram, no entanto, que hoje Lula sabe sobre os efeitos que enfraquecer as metas de inflação, o câmbio e a responsabilidade fiscal podem ter sobre a economia.
“Ele também sabe que a radicalização assustaria uma porcentagem de investidores e da comunidade empresarial”.
O banco analisa que um eventual novo mandato do petista não será extremamente pró-mercado, mas também não será irresponsável economicamente. A distribuição dos pesos na balança dependerá de uma série de fatores.
“O equilíbrio entre uma agenda de reformas estruturais e uma agenda desenvolvimentista dependeria do grau de liberdade a ser determinado pela margem em que ele ganha a eleição, por sua base de coalizão no Congresso e pelo nível dos preços (inflação, ativos financeiros, taxa de câmbio e produtos)”.
Os analistas ponderam, no entanto, que se Lula vencer com “larga vantagem” e não lidar com a pressão por parte dos agentes econômicos, pode fazer um governo mais semelhante ao que foi o seu segundo governo.
“Até o momento, não temos clareza sobre quais diretrizes e regras serão propostas pela nova administração para recuperar a credibilidade fiscal para reduzir os juros e retomar crescimento econômico sustentável. A manutenção do atual desequilíbrio fiscal representa alta incerteza. Sem orientação e ações eficazes para reverter a situação, é provável que a economia continue registrando baixo crescimento econômico”.
O banco, no entanto, avalia que “a tarefa não será fácil, mas é viável”.
E Bolsonaro?
Para os analistas, em uma eventual reeleição de Bolsonaro, o presidente provavelmente “prosseguiria com sua agenda de privatizações e concessões”, além de mirar na flexibilização das regras trabalhistas e reduzir o uso de empresas estatais para promover o crescimento econômico.
Fica a dúvida, no entanto, se o ministro Paulo Guedes seguiria a frente da pasta da Economia. Desde o início do mandato de Bolsonaro em 2019, o ministério já sofreu uma série de baixas, e por mais de uma vez o presidente não seguiu as orientações de seu ministro.
O relatório também levanta a questão sobre quais partidos vão se aliar Bolsonaro na corrida eleitoral. As lideranças partidárias do PSDB e do MDB discutem a possibilidade de formação de uma chapa única para candidatura.
O presidente se filiou em novembro ao Partido Liberal (PL), de Valdemar Costa Neto, e tem uma forte aliança com o Partido Progressista (PP). Seu atual ministro-chefe da Casa Civil é Ciro Nogueira (PP).
Só que em alguns estados, PP e PL possuem alianças regionais “mais antigas”. Em São Paulo, por exemplo, são aliados do PSDB de João Doria, e apoiam a candidatura de Rodrigo Garcia como governador.
Há pouco menos de oito meses do primeiro turno, no entanto, o Credit Suisse é claro: independente do vencedor, o foco do próximo mandato deve ser colocar a economia em ordem.
“O presidente a ser eleito este ano precisa ancorar expectativas dos agentes econômicos que as contas públicas entrarão em um caminho de estabilização no futuro, evitando a desvalorização da moeda, o aumento da inflação e das taxas de juros”.