Relações Internacionais

Lula na ONU: “Precisamos romper com a dissonância cada vez maior entre os mercados e as ruas”

19 set 2023, 12:38 - atualizado em 19 set 2023, 12:38
Lula discurso abertura 78 assembleia geral onu setembro 2023
Lula na ONU: presidente brasileiro fez duras críticas ao aumento da desigualdade social e econômica na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (Imagem; PR/ Ricardo Stuckert)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente a desigualdade social e econômica entre os países ricos e os emergentes, durante seu discurso de 20 minutos na abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, nesta terça-feira (19).

Lula atribuiu o aumento das mazelas sociais ao “neoliberalismo”, que “agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias”. Para ele, o “legado” da economia de mercado “é uma massa de deserdados e excluídos”. O presidente brasileiro também convidou os líderes de outros países a mudar de direção.

“Os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a voz dos mercados e a voz das ruas”, afirmou. Para Lula, o agravamento da crise social permite o surgimento de “aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis, quanto equivocadas.”

Referindo-se aos diversos países que deram uma guinada para a extrema-direita nos últimos anos, ele acrescentou que “muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.”

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Lula na ONU: Brics surgiram para promover comércio mundial “mais justo”

Lula também aproveitou a tribuna do plenário da ONU para criticar o abandono das organizações multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), e a representação “desigual e distorcida na direção” do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial. “Isso é inaceitável”, declarou.

Assista à integra do discurso de Lula na ONU

“Quando as instituições reproduzem as desigualdades, elas fazem parte do problema, e não da solução. No ano passado, o FMI disponibilizou US$ 160 bilhões em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas US$ 34 bilhões para os países africanos”, comparou.

Sem organizações multilaterais fortes, assentadas sobre o princípio “da igualdade soberana entre as nações”, Lula afirmou que o mundo se mostra incapaz de lançar “as bases de uma nova governança econômica”, capaz de “corrigir” os “excessos da desregulação dos mercados e da apologia do Estado mínimo”.

Segundo ele, “os Brics [bloco fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] surgiram na esteira desse imobilismo e constituem uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes.” Além disso, Lula acrescentou que “a ampliação recente do grupo, na Cúpula de Johannesburgo, fortalece a luta por uma ordem que acomoda a pluralidade econômica, geográfica e política do século XXI.”

Para Lula, os Brics são “uma força que trabalha em prol de um comércio global mais justo, num contexto de grave crise do multilateralismo.” O presidente criticou o aumento do protecionismo dos países ricos, e a paralisação da OMC, “em especial, o seu sistema de solução de controvérsias”.

“Nesse ínterim, o desemprego e a precarização do trabalho minaram a confiança das pessoas em tempos melhores, em especial os jovens do mundo”, observou.