Lula e parte do agro ‘riscaram o chão’. No limite, nenhum deve esperar mais do outro
O presidente Lula e parte do agronegócio ‘riscaram o chão’ definitivamente.
Fontes próximas ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ainda estão tentando avaliar se isso irá dificultar ou se facilitará qualquer nível de parceria entre governo e produtores.
No limite, pode ao menos ter deixado estabelecido, subliminarmente, que nenhum lado espere mais do mesmo um do outro.
O mandatário nomeou o “agronegócio maldoso” como um dos responsáveis pelos atentados à democracia no domingo. Não foi generalista, porque é mais do que sabido que seus mais ferrenhos críticos, que não aceitarão sua vitória, estão no meio entre os produtores de grãos e boi.
Aproveitou e deu o recado, de que as investigações podem alcançar alguns deles.
Tanto que a Aprosoja foi a única classe a reclamar do dito de Lula, ainda no calor do quebra-quebra. E deixou para segundo plano, na nota distribuída na segunda, a condenação modesta dos atos na Praça do Três Poderes.
Mas a entidade, que abriga produtores de soja e milho, além de outras commodities – que se utilizam praticamente das mesmas áreas, como algodão -, já havia deixado sua marca contra esse governo. Além do histórico pré e pós-eleitoral, já saiu criticando de cara a escolha de Fávaro como titular do Mapa e, depois, a ida de Edgar Pretto, para a Conab, em decisão do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
Um dos ouvidos por Money Times, sob reserva de seu nome e atividade, e participante do grupo de técnico da transição, lembra que o governo não precisa do agronegócio para tocar seus programas do Mapa, por exemplo. As políticas transversais do Ministério do Meio Ambiente, Povos Originários e MDA já estão traçadas e não contarão em nenhum momento com o apoio dos produtores daqueles setores.
Em termos da importância da entrada de recursos externos com as exportações, não há o que temer, adianta ele. Os produtores não deixarão de ser empresários, como o governo não deixará de tentar abrir novos mercados, embora não deva se mexer contra as críticas internacionais ao desmatamento enquanto seus programas de combate não avançarem.
Outro interlocutor, de escalão intermediário ainda no Mapa, também acredita que a ‘risca no chão’ libera o governo de se esforçar em buscar mais recursos no novo Plano Safra – para médios e grandes empresários -, além do alcance dos cofres públicos, mesmo o ministro Fávaro sendo um produtor e que prometeu encurtar as divergências com os setores mais conservadores.
Mais ainda que o Pronaf, de agricultura familiar, vai para a pasta de Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário.
Do lado do grande agronegócio encastelado nesses setores de grãos e pecuária, as fontes também acreditam que eles não devem esperar muita coisa em relação a meios de produção. “Como já não esperavam do governo Bolsonaro”, diz um deles.
As tecnologias estão aí à disposição, a Embrapa seguirá oferecendo mais suporte e políticas adjacentes como de melhoria logística, entre outras, terão continuidade.
Pelo lados do apoio que o governo precisaria somar no Congresso, ambos lembram que os trabalhos de cooptação de parlamentares do Centrão, que dominam a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deverá dar mais frutos – além da distribuição de cargos que já começou -, com o “racha” esperado a qualquer momento no PL de Valdemar da Costa Neto, cuja expectativa é que se afaste do ex-presidente Bolsonaro depois dos atos antidemocráticos.