Economia

Lula demonstrou inabilidade sobre economia e desconhece regras do BC, afirmam economistas

19 jan 2023, 9:42 - atualizado em 19 jan 2023, 11:38
Lula Papa Bento 16
Lula criticou meta de inflação e autonomia do Banco Central; falas foram mal recebidas pelo mercado. (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mercado ainda estão tentando se entender. Ontem, Lula criticou a autonomia do Banco Central e sugeriu o aumento da meta da inflação, durante uma entrevista para a GloboNews.

Ele disse que se achou que a independência do Banco Central traria melhoras para a economia, mas destacou que, mesmo com a autoridade monetária independente, “a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está”.

“Duvido que esse presidente [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o Meirelles”, afirmou e ainda disse ser “bobagem” achar que um presidente independente vai fazer mais do que o presidente indicado.

Lula também questionou a meta de inflação. “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% [a meta estipulada para 2023 é de 3,25%] e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”

As falas geraram um certo desconforto no mercado.

O que revela a primeira entrevista exclusiva de Lula, na visão de cientistas políticos

“Esta afirmação preocupa, pois indica um elevado nível de desinformação do presidente sobre as regras que regem a autonomia do Banco Central”, afirma Rafael Passos, analista da Ajax Capital. “Além disso, Lula desconhece as verdadeiras causas da alta inflação, que estão relacionadas com os efeitos da pandemia tanto do lado da demanda, como da oferta. É um fenômeno global, que obrigou a maioria dos bancos centrais a apertarem fortemente suas políticas de juros”, completa.

Para ele, os comentários impactarão as taxas de juros, principalmente na parte mais longa da curva.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, classifica os comentários como institucionalmente descabidos e afirma que Lula demonstrou sua inabilidade sobre economia.

“A lógica exposta está distante da realidade, visto que os anúncios das novas metas se deram para horizontes além do relevante para política monetária. Em outras palavras, como se definiu que a meta seria menor em um ano no qual a política monetária ainda não tinha potência, a convergência ocorre pela credibilidade da autoridade, em consonância com um regime fiscal adequado”, afirma.

Os economistas da CM Capital também destacam que, quando perguntado sobre a nova âncora fiscal, o presidente se mostrou desconfortável e disse que seu governo não irá gastar mais do que arrecada.

“Para o mercado, as falas de Lula colocam em xeque o discurso moderado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem tentando adotar”, dizem em relatório.