Política

Lula dará ‘choque de credibilidade’ na economia, diz Haddad

24 jun 2022, 15:07 - atualizado em 24 jun 2022, 15:07
Lula e Fernando Hadad
Uma eventual vitória de Lula em outubro impulsionaria o real, ajudando os formuladores de políticas a atingir a meta de inflação, disse Fernando Haddad (Imagem: Facebook/ Fernando Hadad)

O Brasil precisa de um choque de credibilidade para colocar sua economia de volta aos trilhos, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o candidato certo para reconstruir a imagem do país no exterior, segundo um dos assessores mais próximos do ex-presidente, favorito na eleição deste ano.

Uma eventual vitória de Lula em outubro impulsionaria o real, ajudando os formuladores de políticas a atingir a meta de inflação, disse Fernando Haddad, que está concorrendo ao governo de São Paulo e participando de conversas com líderes empresariais ao lado de Lula.

“Se tiver um choque de credibilidade, o dólar vai para um patamar correto, nem sub nem supervalorizado. Ajustando a taxa de juros e ampliando a oferta, naturalmente converge para a meta”, disse Haddad na quinta-feira em uma entrevista por vídeo de sua casa em São Paulo.

“Uma mudança de governo em si vai representar um fôlego. O mundo vai ajudar o Brasil a ter um primeiro ano pouco conturbado e necessário para aprovar medidas de aterrisagem desse avião que está sem piloto.”

O presidente Jair Bolsonaro perdeu o controle do real porque seu governo desperdiçou a credibilidade do país tanto internacional quanto internamente, afirmou o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, acrescentando que o combate à inflação também exigirá um aumento na produção, oferta e estoque de bens essenciais, principalmente alimentos para consumo doméstico.

“O governo descuidou muito da produção dos alimentos que vão para a mesa do trabalhador, não dos que vão para os containers para exportação ou para os navios graneleiros”, disse.

A inflação acima de 12% ao ano tornou-se um obstáculo para a reeleição de Bolsonaro, já que a maioria dos brasileiros culpa o presidente pelos problemas econômicos em que o país mergulhou. Pesquisa do Datafolha divulgada esta semana mostrou que 55% dos entrevistados não votariam em Bolsonaro em nenhuma circunstância, principalmente as mulheres e os mais pobres.

Embora ainda seja favorito entre os empresários, ele perdeu 7 pontos percentuais neste segmento em apenas um mês, passando a ser apoiado por 42% deles ante 49% do levantamento anterior, em maio.

Parte do empresariado que apoiou a eleição de Bolsonaro em 2018 está agora “desembarcando”, afirmou Haddad, reconhecendo que uma das principais questões levantadas pelos investidores com quem estão se reunindo é como Lula lidará com as finanças públicas se eleito. O PT e o ex-presidente são críticos à atual regra de teto de gastos que limita o crescimento das despesas do governo.

“Não se tem exposto uma regra de substituição ao teto. Traçamos cenários em que é possível abrir espaço fiscal para investimento”, afirmou. “As ideias estão circulando entre os economistas, estão sendo discutidas de maneira sóbria e Lula deixou claro que ninguém tem autoridade maior do que a dele e de Geraldo Alckmin para dizer que terão responsabilidade com as contas, com o desemprego e com a fome.”

Liderança regional

O possível retorno de Lula à liderança da maior economia da América Latina coroaria uma onda recente de líderes de esquerda vitoriosos em toda a região, de Gabriel Boric no Chile a Gustavo Petro na Colômbia. Isso deixaria o petista em posição privilegiada para reafirmar a influência do Brasil entre seus vizinhos, disse Haddad.

“Todo mundo reconhece em Lula uma liderança capaz de reinserir a economia brasileira no cenário internacional de forma muito produtiva”, afirmou.

Perguntado por que parte do setor empresarial teme a volta do ex-presidente ao poder, Haddad disse que não há resposta objetiva para isso, apenas o palpite de que muitos acreditam que, depois de preso, Lula voltaria amargurado, sem disposição de negociar. Por isso, reforçou a importância das rodadas de conversas entre os investidores e o ex-presidente.

“Às vezes a política é só isso. É você fazer a diplomacia para afastar fantasmas criados pelo imaginário popular.”

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