Eleições 2018

Lula compara 2018 com 1989 e diz: “Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck”

17 jan 2018, 0:09 - atualizado em 17 jan 2018, 0:16
O que eles estão tentando destruir é o nosso jeito de governar. Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck Foto: Ricardo Stuckert

Um dia após a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, tentar acalmar os mercados ao dizer à Bloomberg que o ex-presidente Lula prepara uma nova “Carta ao Povo Brasileiro”, para tentar conter novamente o nervosismo visto entre os investidores, o pré-candidato fez um dos seus últimos discursos antes de ser julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) no próximo dia 24.

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Em um evento chamado de “Em defesa da Democracia e de Lula” no Rio de Janeiro, o ex-presidente fez um discurso em que reafirma a sua vontade de concorrer nas eleições de outubro. “Não preciso ser presidente da República. Eu já fui. Sou um cidadão de 72 com energia de 30 e tesão de 20. Ninguém é obrigado a me apoiar para ser candidato, mas olha, agora quero ser”, disse.

Lula comparou o clima atual com o de 1989. “Em 89 a gente tinha Ulisses Guimarães, Mário Covas, Collor de Mello, Maluf… E tinha um metalúrgico desconhecido. Eles tinham o poder da mídia. E a Globo tratou de eleger o Collor”, disse. Depois, fez uma crítica direta ao apresentador Luciano Huck, tido ainda como um possível candidato: “O que eles estão tentando destruir é o nosso jeito de governar. Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck”.

Confira, abaixo, a íntegra do seu discurso publicada em seu perfil no Twitter:

Confesso a vocês que quando participei da elaboração da Constituinte em 88 eu jamais imaginei que nós viveríamos novamente um golpe nesse país.

Eles sofisticaram o golpe, não usaram tanque. Eles contaram uma mentira e essa mentira entorpeceu o nosso povo, funcionou como uma anestesia. Eles inventaram uma doença que chamava PT e Dilma Rousseff.

Disseram que o Brasil precisava de uma cirurgia. Tiraram a Dilma, colocaram o Temer. A terra prometida, depois da Dilma e do PT, não existia.

Nós caímos mais rápido do que estamos nos levantando. É mais fácil destruir do que construir. Fomos destruídos em pouco tempo. Eles criaram um clima de ódio e rivalidade.

Quando eles descobriram que não tinham extirpado a “doença” toda. Eles descobriram o Lula. Não adiantou tirar a Dilma. Porque quando fazemos uma pesquisa não aparece o Alckmin, não aparece o Huck…

Em 89 a gente tinha Ulisses Guimarães, Mário Covas, Collor de Mello, Maluf… E tinha um metalúrgico desconhecido. Eles tinham o poder da mídia. E a Globo tratou de eleger o Collor.

Eles tentaram nos derrotar. E por mais que nos batessem eles perceberam que uma parte da sociedade já percebia que era possível que o povo pobre ter moradia, trabalho, viajar, acesso à cultura.

Qual é o problema deles agora? É que a sociedade sabe que a Globo mente. Que a mídia mente quando tenta inventar um crime que não existiu. Mas é a única forma que encontraram de evitar o Lula de concorrer.

Eu se não fosse um democrata convicto teria convencido o Congresso a aprovar um terceiro mandato pra mim quando eu tinha 87% de aprovação ao sair da Presidência.

A democracia é o melhor regime do mundo. Eu não quero ser candidato apenas, eu quero é provar a minha inocência. A PF mentiu, a Lava Jato mentiu. O Moro mentiu.

Meu orgulho vale muito. Se não tive coragem de roubar comida quando era pequeno… eu nunca roubei. Eu ia roubar um apartamento de R$ 500 mil?!

Vocês não têm noção do que é receber na sua casa 6h da manhã um monte de policial, gente da receita. Foram na casa de muita gente e acharam dólar, euro, joia. Foram na minha casa, levantaram até meu colchão e não tinha nada.

Não preciso ser presidente da República. Eu já fui. Sou um cidadão de 72 com energia de 30 e tesão de 20. Ninguém é obrigado a me apoiar para ser candidato, mas olha, agora quero ser.

O dia que eles aprenderem a falar menos em corte e perceberem que uma nação não é construída por cotas de mercado e sim por homens e mulheres… Se é isso que incomoda eles, agora eu quero incomodar.

Temos que pensar na soberania nacional. Esse país aprendeu. Esse país mandou a ALCA embora e fortaleceu o Mercosul. Esse país criou os BRICS e fortaleceu as relações com a África. Nós não queríamos ser melhores, queríamos ser iguais.

Nós ainda não conseguimos destrinchar o que foram as passeatas de 2013. A Globo interrompe a novela para transmitir manifestação contra o governo. Na minha opinião, ali começava o golpe nesse país.

A gente tinha acabado de conquistar a sede das Olimpíadas. Eu nunca tinha visto a Marisa chorar e naquele dia quando liguei pra ela, ela estava chorando.

Eu resolvi que esse país ia ser respeitado. A imprensa me chamava de frouxo porque eu não brigava com o Evo @evoespueblo pelo gás. Eu queria era brigar com o Bush e não com o Evo. Rs

Quando descobrimos o pré-sal eu queria resolver o problema da Educação. Não é explicável a ninguém de bom senso o por que esse país foi o último a ter uma universidade.

Aí aparece um metalúrgico quase que analfabeto pra fazer universidade em São Bernardo, em Santo André… Aí eles pensam “é preciso acabar com esse cara, porra”.

Eu não sabia que pobre incomodava tanto. Eu não sabia que a gente conquistar o direito de comer, de ir no restaurante, de comprar um carrinho… Será que eles tão contentes agora com os milhões de desempregados?

O que eles estão tentando destruir é o nosso jeito de governar. Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck.

Quando falo em soberania nacional é porque nenhum país no mundo vai ser desenvolvido sem uma indústria forte. Milhares de empresas foram criadas em torno da Petrobras.

A anestesia está acabando. O povo está percebendo que o país piorou. Não vou falar dos juízes do TRF4. Mas eu acho estranho o presidente do tribunal dizer que não leu a sentença mas que ela é irretocável.

Se um dia eu tiver que mentir para aqueles que confiam em mim, eu preferia morrer.

É por isso que desafio eles. Eu já provei a minha inocência. Agora desafio que provem uma culpa minha. Eles precisariam ser exonerados a bem do serviço público.

A Veja é uma central de mentiras. Eu quero que eles saibam. Trabalhem pra eu não voltar. Porque se eu voltar vai haver uma regulação dos meios de comunicação.

A gente não pode continuar permitindo que meia dúzia de famílias sejam donas dos meios de comunicação.

Não tenho mais idade pra ter raiva. Mas tenho idade pra saber que tenho que fazer algumas coisas que não fiz. Por exemplo, estou dizendo em alto e bom som que vou federalizar o ensino médio nesse país.

Eles estão preocupados que vou voltar pra consertar esse país. O povo não nasceu pra ser tratado como terceira categoria. Se é essa a preocupação deles, saibam que estou voltando.

A única coisa que eu peço é que meus juízes no TRF4 leiam os autos do processo pra tomar uma decisão.

Eles estão brigando com um cidadão que não queria briga, com um cara que saiu da presidência e achou que poderia passar a viver tranquilamente. Eu sou da paz, continuo sendo Lulinha Paz e Amor, mas eles têm que saber que minha vontade de brigar continua sendo a mesma.

A todos vocês que tiveram a ideia de convocar esse ato, independentemente de que partido seja, eu quero dizer: eu tô no jogo. O veinho sabe jogar e vai lutar democraticamente.

Eles vão dizer que tô radical. Eles têm que saber que não vamos governar pro mercado e sim pro povo. Vocês sabem que até a segurança pública melhora quando o povo tá bem. Quando o povo tem emprego.

Estou com uma camisa que o @evoespueblo me deu. Quando ele ganhou as eleições diziam dele o mesmo que diziam de mim. E hoje ele já é o melhor presidente que a Bolívia teve. Hoje o povo boliviano só vota em índio. E o povo brasileiro tem que votar em quem tem compromisso.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
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