Luiz Pedro: o que a eleição de Joe Biden implica no bitcoin
Após a acirrada corrida eleitoral nos EUA, o resultado trouxe o democrata Joe Biden ao cargo de presidente da maior potência econômica mundial pelos próximos quatro anos.
Em tese, a eleição de um presidente, de qualquer país que seja, não deveria influenciar diretamente o preço do bitcoin, por se tratar de um ativo que não é diretamente correlacionado com nenhuma economia.
Porém, na prática, há, sim, uma certa relação entre o preço do ativo e o cenário macroeconômico global. Normalmente, a eleição presidencial estadunidense é sucedida por um movimento de alta do BTC.
Falando do cenário atual, vamos falar primeiramente da posição de Biden a respeito do bitcoin, que é nula. O democrata, que assumirá o cargo em janeiro do ano que vem, nunca se pronunciou a respeito do bitcoin ou qualquer tipo de ativo digital que utilize blockchain.
A priori, não é possível julgar se o silêncio de Biden a respeito dos criptoativos é positivo ou negativo. No entanto, sua opinião a respeito de ativos digitais e blockchain deve ser cobrada em algum momento, mesmo antes de assumir o cargo.
Dito isso, vamos analisar alguns pontos referentes aos vieses ideológicos de Joe Biden e como isso pode afetar, em um segundo nível, a compra ou venda de bitcoin por cidadãos estadunidenses.
O primeiro ponto a ser observado é o estremecimento dos mercados de capitais com a ascensão de um candidato mais focado em questões sociais e, portanto, menos voltado para as grandes empresas locais, como era Donald Trump.
Em segundo lugar, o que preocupa as grandes empresas — principalmente do setor de tecnologia —, com a eleição de Joe Biden, é a proposta da mudança na política de impostos.
O presidente eleito já disse abertamente — e fez disso carro-chefe de sua campanha —, que pretende aumentar a carga tributária de detentores de grandes fortunas e, por consequência, de grandes empresas — de todas as companhias listadas em bolsa.
O impacto no preço das ações e nos índices de mercado devem vir antes de o reflexo se concretizar nos caixas das empresas.
Outro ponto a ser mencionado é a prática do “quantitave easing” (QE), muito popular no governo Trump, mas que deve acabar durante o governo Biden.
O QE consiste na compra de títulos de longo prazo, a fim de imprimir mais dinheiro e, por consequência, promover um corte na taxa básica de juros, aumentando a liquidez dos bancos.
Essa prática tem, como principal objetivo, fomentar o setor empresarial como um todo, facilitando o acesso à obtenção de capital, e foi uma prática muito comum em grande parte da potências econômicas mundiais.
Biden pretende manter as taxas baixas, porém não descarta possíveis aumentos. Ele tem, como uma de suas propostas, o aumento da impressão de dólares e um plano de gasto auspicioso, que pode chegar a US$ 11 trilhões nos próximos dez anos.
A emissão contínua de dinheiro traz, consigo, uma diminuição no poder de compra e tende a desvalorizar a moeda. Pura oferta e demanda: se a oferta de algo cresce mais do que a necessidade por aquilo, seu valor (e seu preço) tendem a cair.
O plano de gastos deve aumentar significativamente o déficit orçamentário dos EUA que, no momento, já gira em torno de 17% do PIB.
Outro fator que vale ser mencionado é que Biden, ao contrário de Trump, tem um viés menos protecionista. Sua ideia é propor mais acordos comerciais com outros países, sanar dívidas e se aproximar — ou pelo menos diminuir o distanciamento ideológico — da China e da União Europeia.
A consequência disso tudo é um possível enfraquecimento do dólar num cenário global. Antes que você, brasileiro, comece a comemorar que o dólar pode vir abaixo dos patamares atuais, vamos entender como o bitcoin pode se beneficiar de tal cenário.
O bitcoin é uma moeda digital, descentralizada e descorrelacionada com os sistemas financeiros tradicionais. Além disso, sua inflação é prevista no protocolo e decrescente o longo do tempo.
Por isso, já percebemos que se trata do oposto do que acontece com as moedas fiduciárias, regidas por bancos centrais, onde as políticas arbitrárias ditam a emissão e as medidas que as cercam.
O principal criptoativo do mercado é visto, por muitos, como uma interessante alternativa, assim como o ouro — este com certas desvantagens — em momentos em que as políticas monetárias e tributárias não os favorecem.
O mesmo vale para o receio que se tem em alocar na bolsa de valores em um cenário conturbado de mudança de poder nos EUA que, somados às medidas citadas, podem levar o mercado de ações a sangrar.
Neste momento, o bitcoin pode ser uma boa alternativa — principalmente para grandes investidores — em manter um percentual de risco em seus portfólios e, ao mesmo tempo, protegê-lo, tendo um “upside” maior que o próprio ouro fornece.
No entanto, nem tudo são flores. Apesar da vitória do Biden nas eleições diretas, seu adversário ainda pode recorrer judicialmente sobre o resultado e, em sequência, podemos ter novos episódios para esta novela.
O bitcoin deve enfrentar um período de grande volatilidade, com altas e quedas expressivas. Mas, no frigir dos ovos, o cenário de médio prazo é extremamente favorável para o bitcoin.
Luiz Pedro é engenheiro mecânico de formação e, desde 2017, atua exclusivamente no mercado cripto, com produção de conteúdos educativos e técnicos relacionados ao Bitcoin e aos demais criptoativos no Mercado Bitcoin.