Luiz Claudio Menezes: A resposta da equação para o setor de logística são as fusões e aquisições
O setor de logística se viu sob forte pressão por conta das mudanças no consumo que a pandemia acelerou. A explosão do e-commerce no ano passado foi um dos fatores que impulsionou o transporte de cargas Brasil afora.
Segundo levantamento da Fretebras, plataforma digital para os caminhoneiros, houve um salto de 53% no volume de fretes rodoviários no primeiro trimestre de 2021 em relação a igual período do ano passado. O frete aéreo subiu até 500%.
No entanto, o que poderia ser um evento que muda todo o padrão de mercado ocorreu em um setor que é extremamente pulverizado, com muitas empresas familiares, em baixo nível de governança, e de matriz essencialmente rodoviária (75%).
Os custos logísticos no país consomem o equivalente a 12,7% do PIB, segundo a Confederação Nacional do Transportes.
Muitos desses players têm enfrentado grandes dificuldades para arcar com os investimentos necessários em tecnologia e modernização. O processo de transformação digital, que já estava em ritmo mais lento que o exigido, tornou-se ainda mais estratégico com a realidade pós covid-19.
Este cenário torna quase inevitável uma onda de consolidação, impulsionando o número de operações de fusões e aquisições.
É verdade que o processo é relativamente disperso pelas diversas áreas da economia. De acordo com relatório da consultoria KPMG, referente ao período de janeiro a março, os M&As no Brasil tiveram o trimestre mais movimentado desde que se começou a fazer esse tipo de levantamento no início dos anos 2000.
Ao todo, foram realizadas 375 operações no período, alta de 31% sobre o mesmo intervalo do ano passado e um salto de 47% sobre as 255 do último trimestre de 2020. A consultoria atribui o crescimento ao ambiente de grande liquidez combinado à necessidade de mudanças nas companhias para adaptar os negócios à pandemia.
Outro levantamento, este da plataforma Transactional Track Record (TTR), mostra que o crescimento das fusões e aquisições continua forte no segundo trimestre. Entre janeiro e maio deste ano, o número de transações avançou 36% comparado aos 5 primeiros meses de 2020. Foram 693 negócios, que movimentaram um total de R$ 221 bilhões.
Especificamente no setor logístico já havia um movimento de consolidação mais intenso desde 2019, liderado por grupos como JSL (JSLG3), Sequóia (SEQL3) e BBM, e que foi acelerado no ano passado, sobretudo no segundo semestre, quando o cenário da pandemia se tornou mais claro, com a explosão do e-commerce e dos aplicativos de delivery, inclusive na chamada last mile – a entrega na área urbana ou mais próxima do destino final.
Apesar do porte dessas companhias e de outras multinacionais que atuam na logística brasileira, como a DHL, a segmentação, seja por tipo de serviço, região ou mercado de atuação, ainda é muito grande no país, o que reforça a tendência de consolidação.
Segundo a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), as 30 maiores empresas da área respondem por apenas 19,4% de participação.
Outro fator que contribui para a esperada alta das fusões e aquisições é o momento do mercado, que está mais cauteloso com relação aos IPOs.
Neste ano, só até abril, pelo menos 25 operações para abertura de capital, que tradicionalmente são usadas também para financiar aquisições e investimentos na modernização de empresas de maior porte, foram canceladas.
A maioria das empresas que não desistiu teve o preço das ações estabelecido na faixa mínima anunciada devido à baixa demanda pelos papéis.
Com a falta de fôlego financeiro para fazer frente às despesas necessárias para continuarem competitivas, o caminho das fusões e aquisições parece ser inevitável para os players de menor porte se manterem no mercado.
Os investimentos envolvem desde a automação de empilhadeiras e de centrais logísticas, passando por sistemas de inteligência artificial (AI) e Business Intelligence(BI), e outros recursos necessários às novas demandas pela logística sustentável, ligados à menor emissão de carbono, eletrificação da frota de transporte e até o aumento na reciclagem das embalagens.
Nos casos de empresas médias, recomendo fortemente preparar-se para uma eventual fusão ou venda. Duas companhias de médio porte que sejam complementares podem se tornar um player competitivo se juntarem suas operações.
O processo de fusão ou mesmo venda não é simples. Exige preparação dos donos, que pode levar anos, às vezes. Portanto, quanto mais cedo a decisão for tomada, mais rapidamente estarão prontas para poder aproveitar o melhor momento do mercado.
Depois que a empresa entra em uma trajetória de queda, o valor que os investidores estarão dispostos a pagar por elas só tende a ficar menor
Como diz a canção, quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
*Luiz Claudio Menezes é associado responsável pelos negócios relativos às áreas de tecnologia, logística e serviços na Solstic Advisors, consultoria-boutique de M&A especializada em middle-market