Luiz Cesta: quem tem medo de 2020?
Por Luiz Cesta, da Inversa Publicações
Olá, leitor Cesta & Fundos!
Esta semana foi bastante agitada para os mercados.
Não somente tivemos uma super quarta-feira, com decisão das taxas básicas de juros norte-americanas e brasileiras, como também o início das negociação das ações da XP na NASDAQ.
Quanto às taxas de juros… nada de muito diferente do esperado. O FED não alterou e o BC brasileiro cortou a SELIC em 50 bps atingindo uma nova mínima histórica: 4,5% ao ano.
O que talvez tenha repercutido de forma levemente positiva no mercado foi um comunicado do BC que dá pistas no sentido que outro corte pode acontecer. Eu não tenho tanta certeza disso.
Minhas conversas com os principais gestores do mercado indicam que a expectativa de crescimento de PIB para 2020 deve caminhar rapidamente para algo perto de 3%, o que é um baita aumento se comparado com a projeção de mercado, atualmente em 2,24%.
Se isso realmente ocorrer, não me surpreenderia uma eventual parada técnica na trajetória de queda dos juros.
É certo que os rumos da taxa SELIC são guiados pela expectativa futura de inflação que está, de certa forma e tirando efeitos espúrios, controlada.
E se isso realmente acontecer, Cesta? O que eu faço com meus investimentos? Volto para a renda fixa pós-fixada? Não necessariamente.
O que importa na decisão entre aumentar exposição em renda variável ou fixa é o juro real. E para 2020 estamos falando de algo perto de 0,9% a.a.. O cenário muda bem em 2021. A pesquisa FOCUS do BC demonstra que o juro real pode voltar para perto de 3% a.a..
Essa diferença da taxa real de 2020 para 2021 tem muita relação com o avanço da atividade econômica, mas também por um detalhe que muita gente esquece. A meta de inflação para os próximos anos decresce e a vigilância do BC precisa ser mais rígida.
Enquanto a meta de inflação, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), é de 4,25% a.a., para 2019, ela cai para o patamar de 3,75% a.a. em 2021.
A meta de inflação para os próximos anos é menor do que a atual. Isso significa que o BC precisa estar muito mais vigilante e pronto para aumentar juros caso a inflação apresente algum sinal de descontrole.
Aliás, imagina o pânico que causaria o impacto de 0,5 p.p. no IPCA gerado recentemente pelos preços da carne? Está tudo calmo, porque a meta de 2019 é de 4,25%. E se fosse, em 2021, com meta de 3,75%?
Ou seja, continuo otimista com Bolsa para o próximo ano, mas com olho já em 2021, em que a dinâmica pode ser muito diferente do ano de 2020.
E você? Concorda ou discorda de mim?
Pode parecer estranho, mas eu prefiro conversar com alguém que discorda de mim do que com alguém que concorda. Conversar com alguém que concorda é fácil e agrega pouco no seu nível de argumentação.
Agora, conversar com alguém que discorda é diferente. Ou você torna seu ponto de vista mais robusto incluindo outras argumentações, ou troca logo de opinião. Eu tenho ZERO problema em mudar de opinião desde que esteja bem fundamentado.
Ah, já estava esquecendo de falar do IPO da XP! Já li de tudo por aí e aposto que você também. Se eu tivesse que falar algo diferente, acredito que essa operação reforça a confiança dos gringos no mercado de capitais brasileiro e o fluxo tão esperado de entrada de dólares na Bolsa pode finalmente ser desencadeado.
Peço desculpas se essa carta foi demasiadamente técnica e um pouco puxada para o pessimismo, mas realmente gostaria que você não baixasse a guarda com seus investimentos.
Sempre alerta, pois uma bobeada e a carteira que está projetada para decolar pode acabar voando como uma galinha. O ano de 2021 está logo aí!
Escreva para mim, comentando ou sugerindo um assunto para eu abordar na newsletter, utilize o email cestaefundos@inversa.com.br.
Um forte abraço e até mais!