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Luiz Cesta: A minha especialidade é…

23 ago 2019, 14:14 - atualizado em 23 ago 2019, 14:14
(Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Por Luiz Cesta, da Inversa

Caro leitor,

Antes de começar a crônica de hoje, quero agradecer aos vários e-mails que recebi após a última edição do Cesta & Fundos, em quem discorro sobre ser ou não ser um “porco capitalista”.

Saiba que li todas e irei abordar aos poucos os temas que vocês vêm me sugerindo. Esse bate-bola é importante para que eu escreva cada vez mais sobre assuntos relevantes para você. Se você não leu minha edição anterior, sugiro que leia por esse link.

Hoje, escrevo sobre um tema um pouco delicado, mas que já tenho opinião formada. Para que comprar um fundo multimercado que investe em ações, juros e câmbio se posso comprar produtos separados e formar minha própria carteira multimercado?

Novamente, vou dar umas voltinhas para te explicar meu pensamento, mas prometo retornar.

Desde que o mundo é mundo, seu desenvolvimento passa por uma palavrinha mágica: “Especialização”. Sim, se não fosse a especialização dos meios de produção, não haveria crescimento, tampouco melhora da qualidade de vida.

Na edição anterior, em que comparei o ato de pedir o almoço com a compra dos ingredientes de uma refeição no supermercado, esse conceito se aplica completamente.

Pessoas se especializaram em comprar matéria-prima (empreendedor), outras em prepará-las (cozinheiro), outras em transportá-las (um entregador de pizza, por exemplo), de modo que essa rede de profissionais faz o produto chegar até você para o consumo.

Imagine o tempo que seria tomado da sua vida se você tivesse que fazer todo esse trabalho. E o resultado não seria lá essas coisas porque você, assim como todo mundo, não tem todas essas especializações.

A especialização permite a você dedicar tempo a tarefas que sejam lucrativas –lembra do porco capitalista? – e, talvez pela correria da vida, não percebemos como ela está presente na sociedade.

Já imaginou se cada pessoa fosse responsável por fazer seu próprio carro?

No caso do aço, você precisaria minerar ferro antes.

No caso do plástico, extrair petróleo.

No caso do couro, manejar rebanhos.

Tudo em sua volta hoje requer algum nível de especialização.

+ Você não precisa passar pelo estresse e pela descapitalização do negócio próprio para lucrar como um grande empresário. Aqui você conhece um investimento que rende entre duas a três vezes mais do que as franquias.

Sugiro que você mesmo faça essa reflexão. Em qual atividade você é especialista, e como utiliza os trabalhos especializados de outras pessoas?

Para consolidar esse entendimento, vale a pena assistir, por este link , o vídeo em que o economista Milton Friedman, prêmio Nobel de economia, explica como o funcionamento do livre mercado é importante. Mostra, entre outras coisas, o nível de trabalho empregado na produção de um simples lápis.

Voltando à temática desta newsletter – os fundos, caso tenha se perdido –, minhas sugestões sobre melhores fundos de investimento precisam também passar pelo filtro de especialização da gestora.

A gestora XPTO é especializada no quê? Ou melhor, o gestor XYZ é especializado em qual mercado? Eu espero que o gestor dos fundos de ações que eu sugiro seja um especialista em escolher ações.

Mas e nos fundos multimercado? Onde está a especialização se ele, como o próprio nome diz, pode aplicar em diversos mercados? Será que o gestor desses fundos tenta fazer de tudo um pouco e acaba não fazendo nada bem?

Eu acho que até existem gestoras assim, mas meus estudos focam em outra questão. Eu busco o gestor de fundo multimercado que se especializou em saber como juntar ativos de diferentes mercados, maximizando, com isso, o retorno do portfolio. Ao mesmo tempo, claro, que tal especialista minimize o risco de se investir nessa combinação de mercados.

Percebe como também existe um nível de especialização nesse caso? Essa não é uma tarefa simples e exige muita ciência e estatística.
Afinal, como se comporta uma posição comprada em 50% de PETR4, com 50% em Tesouro IPCA+ 2035?

Será que a rentabilidade de ambos os ativos se anula com o passar do tempo? Será que juntos representam uma melhor equação de risco/retorno?

Se eu adicionasse uma posição comprada em dólar versus o renminbi chinês, poderia adicionar retorno sem piorar o risco?

São questões complexas, que só um especialista é capaz de apresentar uma resposta, ao menos uma resposta suficientemente confiável para você colocar o seu dinheiro.

Espero que eu tenha conseguido mudar sua opinião e, se for o caso, preconceito sobre os fundos multimercado. Na minha série Fundos Expert, procuro sugerir aos assinantes fundos, dentro desta categoria, cujos gestores são especializados em unir ativos de diversos mercados.

Até a próxima edição!

Luiz Cesta ( @luizcesta – Meu Twitter)

Críticas, elogios, comentários e sugestões para esta newsletter podem ser enviados para cestaefundos@inversa.com.br.

P.S.: Café da manhã, trabalho, volta pra casa, Netflix, Instagram, cama… Sua vida caiu no piloto automático? Abra aqui um convite para começar a ter experiências cada vez melhores.