Opinião

Luciana Seabra: O que aprendi com o Felipe

17 fev 2019, 13:04 - atualizado em 17 fev 2019, 13:04

Por Luciana Seabra, da Empiricus Research

“Alguém vai mandar mais alguma coisa?” Faz três anos que ouvir essa pergunta atiça minha massa cinzenta. Ele está finalizando, complementando com insumos dos analistas. Estará em meu e-mail em cerca de 15 minutos. Dá tempo de buscar um café.

Eu, acordando, com apoio da cafeína. Ele, finalizando um mix de obra-prima da literatura e artigo científico recheados de causos de infância, humor, Taleb, Soros, Clarice Lispector, música, cinema e outras referências que nem sou capaz de alcançar.

Como ele faz para ler tanto? Aposto que deixou ao menos o esqueleto pronto ontem à noite – penso enquanto passeio pelas letras. Mas que horas? Antes ou depois de me mandar aquelas três ideias para o relatório de fundos? Pré ou pós bater uma bola com o João Pedro (já aprendi, este momento é sagrado)?

Meu analista matou a charada quando apareci de uma semana para a outra com a ideia fixa de deixar meu emprego comportado e juntar-me à equipe coordenada por Felipe Miranda, o cara com quem estive pela primeira vez naquela manhã: “você e sua queda por pessoas brilhantes…”. Sigo amassando o divã em busca da origem disso.

Os textos derramam da mente inquieta, com a qual, desculpe fazer inveja, tenho prazer de conviver. “Só uma ideia, tá? Não me julgue”, diz o Felipe, talebianamente humilde. E em seguida despeja um projeto brilhante ou um argumento que põe em dúvida a pesquisa de uma vida do último prêmio Nobel de Economia.

Nos meus cinco anos de jornal, dois de mestrado e alguns mais de botecos, posso dizer que já passei por algumas mentes brilhantes. Divirto-me em provocá-las, questioná-las, espremê-las. São poucas. E, vai na minha: o Felipe é o proprietário de uma delas. Um dos mais ilustres habitantes do Extremistão.

Pai, lembra que você me disse que queria conhecer melhor o Felipe? Inteligente esse rapaz – disse esses dias. Ponha o seu nome nesta lista aquiaté amanhã. Infelizmente, é algo restrito. Ainda não conseguimos clonar o rapaz.

Pedi esse espaço para contar que o Felipe está às voltas com um projeto novo. Nunca me decepcionei ao embarcar em uma ideia dele. Precisava contar isso a você.

Para provar o que digo, não vou resistir a compartilhar três dos 7.377 ensinamentos do Felipe que mudaram de alguma forma meu olhar – como investidora e também como pessoa.

Lição número 1: Muito risco ou nenhum

No meu primeiro relatório na Empiricus fui à caça de fundos DI baratos. O Felipe defendeu que eu eliminasse os recheados de crédito privado. “Aí está a reserva de emergência das pessoas. Vai colocá-las em risco?”

Fiz cara de interrogação. O estrategista que conheci pelo olhar original sobre a Bolsa está sugerindo que eu não corra risco?

É exatamente isso, me explicou o Felipe. Na parte do patrimônio que podemos precisar a qualquer momento não devemos correr risco algum. Já daquela que não dependemos no curto prazo, a ideia é correr risco direito para ganhar dinheiro.

O pior que você pode fazer pelo seu dinheiro é ficar em cima do muro.

Lição número 2: Proteja-se, proteja-se, proteja-se

No começo soou como paranoico. Eu voltava com meu caderninho da rua, surrado por mais uma rodada com gestores, dizendo que todos no mercado tinham como certa a vitória da Hillary. E ele dizia: e se o Trump ganhar?

Não é uma questão de ter bola de cristal. Ele nos lembra a cada momento que ninguém tem. É apenas uma questão de se preparar para os diferentes cenários. Às vezes lembra minha mãe. O sol de rachar, começa a chover. Da bolsa dela, brota um iluminado guarda-chuva.

Depois de ver as tais puts do Felipe virarem dinheiro a cada susto no cenário macro, você pensa: um pouco de paranoia não faz mal a ninguém.

Aqui transborda uma das fontes em que Felipe mais bebe: Nassim Taleb. Fui estimulada por ele a ler os livros. É genial, mas, cá entre nós, eu só entendi como aplicá-lo ao portfólio lendo o que o Felipe escreve e conversando com ele.

Lição número 3: Seja disciplinado e apaixonado

Imagine o Felipe no Caribe, tomando pina colada, trocando as noites pelos dias, aposentado, gastando o dinheiro acumulado com investimentos bem-sucedidos.

Imaginou? Se essa figura cabe em sua cabeça, você não conhece o Felipe. Já tentei chegar 15 minutos, 30 minutos, 1 hora, 2 horas mais cedo ao trabalho. O Felipe já estava na mesa dele. Lendo, estudando, pensando na melhor forma de transmitir uma ideia.

E também já recebi e-mail dele às 23h com um novo projeto. “Desculpa, você pode responder amanhã. Só fiquei com medo de me esquecer”.

Orientar a pessoa física sobre investimentos deixou de ser um trabalho para o Felipe. É vocação, instinto, quase que um chamado. Soa meio cafona, mas é verdade. E isso é inspirador pra caramba.

Não sei se já conheci alguém tão apaixonado pelo que faz no mercado financeiro. Para ser justa, talvez o mais próximo disso seja o Luiz Alves, que depois de décadas como um dos maiores investidores individuais da bolsa brasileira, decidiu gerir o dinheiro da pessoa física.

E, a propósito, já assisti ao Luiz Alves em carne e osso se levantar e aguardou em uma fila de investidores para parabenizar calorosamente o Felipe ao fim de uma palestra dele. Confesso que queria fazer o mesmo, mas fiquei tímida. Já assistiu a uma palestra do Felipe? Rola uma paixão ali que não consigo descrever, desculpa.

O que você está esperando?

Hoje quero dar dois conselhos para sua vida de investidor: ignore os rankings de fundos e faça parte do novo projeto do Felipe Miranda.

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