Lucas de Aragão: ‘O mercado vai aceitar até R$ 100 bi em gastos extras’
O analista político Lucas de Aragão, sócio da consultoria Arko Advice, relata que os investidores aceitariam uma expansão adicional de gastos entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões no próximo governo, mas não mais do que esse valor. “Assusta com R$ 100 bilhões, mas (os investidores) aceitam.
Depois começaria a pressionar mais por algo que venha para reduzir os gastos de forma estrutural”, afirma ele.
Veja os principais trechos da entrevista:
Quais são as maiores dúvidas dos investidores?
Diria que são três as principais questões. Lula e Bolsonaro já deram sinais de mudança no teto de gastos. A primeira dúvida é qual vai ser a âncora fiscal que manterá a trajetória da dívida de maneira mais equilibrada.
A segunda dúvida é em relação à lei das estatais e as empresas estatais como um todo. Como ficariam a Petrobras e o Banco do Brasil num eventual governo do PT.
Como ficaria o PPI, a política de paridade internacional? Em terceiro lugar está o interesse muito alto em relação ao Congresso. Quão suscetíveis estarão os parlamentares do Centrão em ouvir as pressões e os recados do mercado.
Tanto Bolsonaro quanto Lula já acenaram que vão precisar de mais gastos em 2023 para cumprir as promessas de campanha, como o Auxílio Brasil de R$ 600.
Como os investidores avaliam essa licença para gastar?
Eles sabem que ambos prometeram e já precificaram claramente – todos com quem eu converso – que vai ter Auxílio Brasil de R$ 600 até dezembro de 2023.
Eles imaginam esse gasto adicional na casa de R$ 50 bilhões. Eu percebo por alguns fundos que não tem um número mágico. Passei os últimos dias conversando com alguns economistas-chefes de bancos e fundos relevantes, além de estrangeiros, e a percepção geral é de que R$ 80 bilhões até R$ 100 bilhões o mercado até aceita.
Assusta com R$ 100 bilhões, mas aceita, depois começaria a pressionar mais por algo que venha para reduzir gastos de forma estrutural.
De que forma?
Vai começar a ter uma cobrança não só em relação à ancoragem fiscal, mas de onde virão as contrapartidas. Pode começar a azedar (o humor) se não vier uma discussão que mostre que vai ter algum tipo de redução de gasto constante e estrutural.
Seja com uma reforma administrativa, com algum outro gasto recorrente que poderia ser diminuído. Uma das coisas que preocupam os investidores quando falam do governo do PT é de tentar usar ali um ‘waiver’ acima de R$ 100 bilhões para novos gastos.
O que se espera da agenda econômica do Congresso?
O desenho que saiu das urnas deixou um aquário possível de captura de apoio bem maior para o Bolsonaro do que para o Lula. Fizemos um levantamento chamado de ‘Cara do Centrão’, e claramente há muito mais ‘pró-Bolsonaro’ e ‘inclinado a Bolsonaro’ do que ‘pró-Lula’ e ‘inclinado a Lula’. A base aliada inicial do Bolsonaro é maior do que a do Lula. Para chegar a uma maioria simples, o Bolsonaro tem mais caminho, mas isso não inviabiliza uma maioria em caso de vitória de Lula. O número de possíveis deputados a ser capturado pela base do Lula é menor, e isso encarece o apoio e faz com que o Lula tenha de mudar a sua forma de apresentar as suas propostas e de dialogar. Outra coisa: o Lula vai ter uma oposição que ele nunca teve antes, que vai bater na questão fiscal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.