Lorenzo Frazzon: DeFi, futuro do sistema financeiro descentralizado e transparente
Já imaginou negociar uma ação sem precisar de uma bolsa como a B3? E que tal emprestar ou pegar emprestado dinheiro sem burocracia e ainda poder fazer isso globalmente, com poucos cliques?
Usar DeFi hoje é como navegar na internet em 1993, mas essa situação já está melhorando. Segundo o DappRadar, o ecossistema Ethereum dApp floresceu no segundo semestre de 2019. Em particular, o número de usuários aumentou bastante desde junho de 2019. Surpreendentemente, DeFi é a categoria com o crescimento mais substancial.
Protocolos que funcionam sem intermediários
A tecnologia blockchain e as criptomoedas definitivamente estão influenciando cada vez mais o sistema financeiro tradicional. São tantas novidades conhecidas e ainda desconhecidas que fica difícil até mesmo imaginar como essas mudanças poderão impactar o mercado financeiro e nossa relação com dinheiro e investimentos.
Um dos tópicos mais promissores no ecossistema blockchain são os projetos DeFi, Decentralized Finance (em português, significa Finanças Descentralizadas). Estão entre os novos conceitos no sistema financeiro, que surgiu devido ao blockchain e suas possibilidades de construir um mundo mais descentralizado.
Apesar de ser um conceito ainda muito novo, já está chamando a atenção de grandes investidores.
De uma maneira bastante simplificada, podemos dizer que as DeFi são um contrato inteligente que atua de forma descentralizada, ou seja, sem um intermediário, e isso muda completamente a forma atual que os bancos (e outras entidades) atuam com empréstimos, compras, vendas e outras transações.
O controle nas mãos do usuário
No universo das Finanças Descentralizadas, os usuários poderão acessar serviços financeiros resistentes à censura, enquanto mantêm o total controle de seus bens e de seus dados pessoais. Para acessá-lo, basta ter uma conexão à internet.
Essa alternativa descentralizada do sistema financeiro começa com o blockchain do bitcoin, que inspirou muita inovação nesse mundo da criptografia.
Em seguida, a Ethereum começou a expandir as possibilidades com a criação dos smart contracts (contratos inteligentes). Até então, essas tecnologias já eram capazes de gerar grande contribuição para o legado do sistema financeiro.
Agora com as DeFi, será possível realizar vários outros serviços utilizando blockchain: custódia, empréstimos, transferências dentre vários outros serviços que ainda nem conhecemos.
Neste artigo, vou apresentar como as Finanças Descentralizadas, utilizando a rede da Ethereum, poderão contribuir para o futuro do sistema financeiro que conhecemos hoje, e acima de tudo, como essa tecnologia será utilizada para devolver o poder ao usuário, e não às instituições.
O universo Ethereum
Em termos de rede, a Ethereum apresentou mais de 4 milhões de endereços ativos e mais de 20 milhões de contas totais, somente em 2019.
Atualmente, existem mais de 8,5 mil nós Ethereum ativos e mais de 4,7 milhões de ETH foram emitidos como recompensas em bloco.
Toda a infraestrutura da Ethereum vem se destacando em dois segmentos que possuem forte poder de crescimento: Finanças Descentralizadas (DeFi) e Aplicativos Descentralizados (dApps).
Aplicativos Descentralizados (dApps)
Mais de 520 novos aplicativos descentralizados foram criados na rede, com mais de 2,7 no total, de acordo com as estatísticas da dApps Review. O jogo Gods Unchained foi um dos dApps mais populares rodando na rede Ethereum. Foram criados mais de 6,7 milhões de itens do jogo na rede.
Finanças Descentralizadas (DeFi)
Os números das Finanças Descentralizadas são ainda mais impressionantes. Protocolos de empréstimo, tokens de segurança, derivativos, bolsas e muito mais, o cenário de DeFi todo construído sobre a infraestrutura da Ethereum está se apresentando como um dos ambientes mais inovadores.
A ConsenSys informou que mais de 1,5 milhão de ETH estava bloqueado na MakerDAO, organização autônoma descentralizada (DAO) que fornece empréstimos garantidos por meio de contratos inteligentes (veremos mais adiante neste artigo).
De acordo com a ConsenSys, significa que 1,41% de todo o suprimento de ETH está bloqueado nos contratos inteligentes do MakerDAO.
Atualmente, a grande maioria das pessoas que usam o DeFi são usuários nativos de criptografia. No entanto, é possível que os investidores tradicionais comecem a usar serviços desse tipo ou semelhantes em um futuro próximo.
Já existem diversas iniciativas que buscam solucionar o problema do intercâmbio de ativos digitais enquanto atenuam o risco de contraparte. Essas empresas estão construindo esse espaço inovador com serviços de pagamento, serviços de custódia, crédito e empréstimo, stablecoins, seguradoras, serviços de registro de identidade, corretoras e etc.
Empreendimentos já existentes
Até o momento, o maior setor de aplicativos descentralizados tem sido o empréstimo de ativos de criptografia, como já havíamos falado.
Vários produtos de alta qualidade foram criados, permitindo aos usuários emprestar qualquer tipo de token diretamente no blockchain Ethereum, sem intermediários.
Os produtos de empréstimo descentralizados estão disponíveis para qualquer pessoa, em qualquer lugar, e requerem apenas uma carteira Ethereum para serem usados.
Hoje, esses produtos já estão disponíveis, com volumes totais em dólares na casa das centenas de milhões de dólares. Alguns deles são:
MakerDAO
É a plataforma de empréstimo descentralizada mais complexa e amplamente utilizada. MakerDAO é o criador da DAI, criptomoeda com um preço-alvo de US$ 1 (conhecido como stablecoin).
Na MakerDAO não há credores e o único ativo disponível para empréstimo é o DAI. Os mutuários podem tomar emprestado um suprimento recém-criado de DAI, bloqueando ETH como garantia, e devem manter uma taxa de garantia de 150%. A taxa de juros no DAI é global e é definida através da governança pelos detentores de tokens MKR.
Compound
Usa uma abordagem baseada no mercado monetário, com pools globais de capital para cada ativo suportado.
Cada ativo possui uma taxa global de empréstimos com taxas de juros variáveis e definidas algoritmicamente com base na porcentagem que cada pool está emprestando.
Compound possui um aplicativo bastante simples de usar e permite que credores e mutuários interajam diretamente com o protocolo.
Os credores podem depositar fundos em pools de empréstimos e obter juros continuamente. Podem retirar seus ativos a qualquer momento, pois não há durações fixas para empréstimos.
Os mutuários devem garantir suas contas com 150% do valor emprestado.
Por exemplo, se você quiser emprestar 1 ETH composto, poderá depositar 225 DAI no pool de DAI composto e depois emprestar 1 ETH do pool de ETH (assumindo 1 ETH = 150 DAI — isso seria uma garantia de 150%). Empréstimos em compostos têm duração ilimitada.
DAI
Dai (DAI) é uma stablecoin indexada em dólares, construída no blockchain Ethereum, e não possui autoridade centralizada.
Seu equivalente a US$ 1 é mantido por meio de mecanismos automáticos de precificação incorporados em contratos inteligentes.
Quando a Dai vale mais de US$ 1, os mecanismos inteligentes de precificação de contratos funcionam para diminuir o preço.
Por outro lado, quando a Dai vale menos de US$ 1, os mecanismos inteligentes de precificação de contratos funcionam para aumentar o preço.
O Dai pode ser negociado livremente como qualquer outro token ERC-20, e qualquer pessoa com uma carteira Ethereum pode possuir, aceitar e transferi-la sem um intermediário.
Conforme o ecossistema for amadurecendo, as pessoas perceberão que o blockchain é uma ferramenta tecnológica que permite a criação de novas formas de abundância econômica e novos modelos de negócio.
Podemos ver que essas tecnologias ainda estão se preparando para receber alguns bilhões do mercado mundial com maior segurança e que estamos caminhando para um futuro sem fronteiras, nas trocas de ativos, com o poder na mão dos indivíduos.
É importante entender que estamos presenciando os primeiros dias da DeFi e o potencial de crescimento é enorme. Além de ser um meio de inclusão nos sistemas financeiros para quem não possui acesso a esse tipo de serviço, é também o caminho para que novos produtos sejam criados, alguns que sequer podemos imaginar ainda.
Lorenzo Frazzon atua no mercado financeiro desde 2007, atendendo investidores de alta renda e detém R$ 100 milhões em ativos sob consultoria desses clientes. É economista, possui mestrado em Engenharia e é Analista de Investimentos Regulamentado (CNPI), além de ser estrategista-chefe e Fundador da Investtor.