Agronegócio

Lojas fechadas da Starbucks não afetam onda positiva do café

24 mar 2020, 15:07 - atualizado em 24 mar 2020, 15:07
Starbucks
O café desafia a onda vendedora global provocada pelo surto de coronavírus, em parte devido a sinais de que traders têm incentivado consumidores a garantir suprimentos antes de possíveis interrupções (Imagem: Facebook/ Starbucks)

Nem mesmo o fechamento de unidades da Starbucks nos Estados Unidos e no Canadá consegue desacelerar o rali do café, já que possíveis gargalos de fornecimento se sobrepõem às preocupações com a demanda.

Com mais medidas de bloqueios em vários países e muitas pessoas em casa, crescem os temores de que problemas de mão de obra e logísticos interrompam o fluxo de grãos.

O café arábica para entrega em maio era negociado em Nova York com ganhos pelo quinto dia seguido e rumo à cotação mais alta desde o início de janeiro.

O café desafia a onda vendedora global provocada pelo surto de coronavírus, em parte devido a sinais de que traders têm incentivado consumidores a garantir suprimentos antes de possíveis interrupções.

Também ajudam os comentários da bolsa de que não é possível garantir que o processo de amostra e classificação seja concluído a tempo do vencimento dos contratos de maio.

Agora, a possível falta de mão de obra – particularmente onde catadores de café são mais necessários como na América Central e Colômbia – dá mais suporte aos preços. Nos últimos anos, migrantes venezuelanos se tornaram parte importante da força de trabalho colombiana. Agora, a fronteira está fechada.

“Até agora as coisas estão OK, mas a colheita ainda vai começar”, disse Roberto Vélez, presidente da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia, referindo-se à colheita intermediária de abril. “Ainda estamos em coordenação com as autoridades sobre a permissão para que catadores se desloquem livremente.”

O Brasil, maior exportador mundial do grão arábica, só inicia a colheita 2020-21 em maio. A Colômbia é o segundo maior fornecedor de arábica, seguida por Honduras.

Em Honduras, exportadores têm autorização especial do governo para continuar operando e “estão fazendo isso”, disse Miguel Pon, diretor executivo da Adecafeh, a principal associação exportadora do país.

“O governo estendeu o toque de recolher absoluto até 29 de março e esta semana será crucial para conhecer novos casos de Covid-19 e novas determinações do governo”, disse.

Os países da América Central “têm muito pouco café”, disse Ernesto Álvarez, diretor-gerente da Coex Coffee International, em Miami. “Vejo um problema que está piorando. O estoque de café está voando.”

Embora um decreto presidencial na Colômbia afirme que trabalhadores das cadeias de suprimentos agrícolas podem se deslocar livremente, alguns prefeitos não têm respeitado a ordem, disse Manuel Rueda, gerente-geral da Integra Trading SAS.

“Pode levar algum tempo para resolver todos detalhes em torno desse mandato”, disse, acrescentando que a empresa vai “tentar continuar operando como de costume e monitorar como tudo está evoluindo”.

As preocupações com mão de obra não se restringem aos trabalhadores agrícolas. No Brasil, por exemplo, estivadores no Porto de Santos ameaçam fazer greve.

“Com países da América Latina sentindo o efeito cascata do vírus em ondas maiores, nosso mercado está exposto”, disse Alex Boughton, corretor da Sucden Financial, em Londres. “As preocupações com o suprimento ainda prevalecem e não desaparecerão tão cedo.”