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‘Livro de cabeceira’ de Marcel Telles, da Americanas (AMER3), ensina a atrasar pagamentos para fornecedores

17 jan 2023, 15:53 - atualizado em 17 jan 2023, 23:42
Americanas
Livro de cabeceira de Marcel Herrmann Telles, acionista relevante da Americanas (AMER3), ensina a atrasar pagamentos para fornecedores (Foto: Flávya Pereira/Money Times)

De ontem para hoje, a edição brasileira do livro intitulado ‘Double Your Profits In Six Months Or Less’ (ou ‘Como dobrar os seus lucros em seis meses ou menos’) está tomando a curiosidade de grupos no WhstsApp do mercado financeiro.

A mensagem possui o disclaimer “Encaminhada com frequência” no aplicativo, o que já dá ideia do ritmo de circulação. Trata-se de uma imagem com a capa do livro de Bob Fifer, com a frase promocional do exemplar de 2010 da Harper Collins em destaque: “O livro de cabeceira de Marcel Telles, fundador da Ambev“.

A citação é emprestada de uma matéria de outubro de 2010 da revista Exame, em que se mostra a influência que a obra tem sobre o controlador da Ambev. Telles também é um dos principais acionistas da Americanas (AMER3).

No entanto, é outra mensagem que chama ainda mais a atenção. Encaminhada com a mesma frequência, trata-se de uma foto da primeira página do capítulo ‘Contas a Pagar’ (Etapa 37).

Nele, há uma orientação, que à luz da hecatombe contábil da Americanas, foi revestida de um sentido irônico. Diz o parágrafo inicial: “Um método fácil de favorecer o balanço da sua empresa é atrasar seus pagamentos. A maioria dos fornecedores prefere esperar para receber a perdê-lo definitivamente como cliente”.

O trecho sugere ainda para atrasar os pagamentos com certa periodicidade. “Passe a pagar em 45 dias, depois sessenta dias (…)”.

O autor aconselha a “nunca pagar uma conta até que o fornecedor pergunte por ela pelo menos duas vezes”. E conclui a passagem dizendo que “certos fornecedores chegam a levar até dois anos para reclamar o pagamento de uma conta”.

À luz da crise da Americanas (AMER3), algumas fontes chegaram a brincar com o rigor com que Telles aplicou os ensinamentos de Bob Fifer. “Parece que a leitura foi proveitosa”, disse um operador sênior de renda variável.

Rombo contábil na linha de fornecedores

Mas, afinal, o que essa história tem a ver com o rombo contábil anunciado na semana passada pela Americanas? Simplesmente tudo.

Isso porque a fonte primária dos problemas da varejista se dá, justamente, na linha de pagamento aos fornecedores. Como mencionado pelo próprio ex-CEO Sergio Rial, a varejista ‘abusou’ de operações financeiras do chamado “risco sacado” para comprar produtos, que não eram lançadas como dívidas.

O risco sacado, ou forfait, descreve o adiantamento do pagamento aos fornecedores por parte dos bancos credores. Portanto, apesar de receber o pagamento antes, o fornecedor recebe um valor inferior ao contratual, cabendo à Americanas o pagamento a prazo e a juros do valor completo.

Conduzida ao longo de anos, o forfait causou um rombo avaliado, nas estimativas mais conservadores, de R$ 20 bilhões ao caixa da empresa. A notícia acendeu o sinal de alerta de que a prática também possa ter ocorrido em outras empresas controladas pela 3G Capital — integrada pela tríade de bilionários Marcel Telles, Carlos Alberto Sicupira e Jorge Paulo Lemann.

É o caso da própria Ambev (ABEV3). Aliás, a sangria da Americanas e o efeito de contaminação na Ambev tiraram dezenas de bilhões de dólares da fortuna pessoal dos três acionistas, segundo monitoramento em tempo real da revista Forbes.

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