Bradesco

Lilás Mitológico versus Vermelho Lucrativo pelo plástico no teu bolso

27 jul 2019, 0:11 - atualizado em 27 jul 2019, 0:11

A escolha por pivotar minha carreira entre marketing e finanças me dá o raro bônus de andar entre estas duas searas e analisar empresas e cenários sob prismas que, para a maioria das pessoas, soa unidirecional.

Para grande parte do contingente daqueles que habitam o ecossistema entre a Hélio Pelegrino e a Rua dos Pinheiros, também conhecido como Av. Faria Lima, analisar o sucesso do NuBank e o resultado incrível porém com resposta bizarra do mercado do Bradesco demanda uma compreensão que sai de um prima de equação fácil.

E por causa disso merece uma pausa no modus operandi da coluna aqui no Money Times.

Parafraseando líderes do executivo de outrora, nunca antes na história das startups se valorizou tanto a trajetória dos unicórnios. E isso vemos na condução do Nubank. Mesmo sendo uma empresa que sempre foi deficitária – e nos últimos anos acima da faixa dos R$ 100 milhões – ela conseguiu seguidas rodadas de investimentos (acabou de obter uma quinta rodada, no valor de US$ 400 milhões com o fundo soberano de Cingapura) a ponto de obter um valor de mercado de US$ 10 bilhões, o que coloca o cartão lilás não somente como um unicórnio, mas como uma instituição financeira mais valiosa que o tradicional Banco Safra e próxima ao BTG Pactual, cujo valor de mercado em bolsa fica pouco acima dos US$ 11 bilhões.

E é aqui que vale uma reflexão que vai permear boa parte do “advogado do diabo” que tanto vocês quanto eu faremos durante esta coluna e a jornada de investimento de tempo e recursos em venture capital e suas startups: O NuBank possui um modelo de negócio que justifica tal valor e coletâneas de aporte?

Sob o prisma de investidor e olhando o cenário bancário nacional, a minha resposta como homem de venture capital – e comprando briga com boa parte do ecossitema – e que jamais faria um aporte no Nubank. E aqui moram os motivos:

– O Brasil é dos poucos mercados globais aonde o lucro dos bancos está pautando (e em viés crescente) num spread de crédito crescente. A conta é relativamente simples: o banco toma dinheiro no patamar SELIC (6,5% ao ano) e te repassa a 8% ao mês, seja no cheque especial ou cartão de crédito. E a queda dos juros ao consumidor não é tão rápida quanto aos bancos pelo segundo tópico;

– 85% do crédito do país – seguindo praticamente uma regra de Pareto, segundo a FEBRABAN – está dentro das cinco principais instituições financeiras do pais, sendo três privadas e duas publicas.

– Por mais que o NuBank tenha excelentes features que reinventem a experiência de mercado com a aquisição de conta corrente e cartão de crédito, como o atendimento ao cliente, o brand book – leia-se cor lilás do plástico mais atendimento bacana e as taxas zeradas – ele ainda é um plano de negócios que no fim do dia e ao longo de cinco ano está dando resultado negativo; nos últimos anos beirando a metade de bilhão de reais. E isso não seria um problema num país com apetite para o risco. Mas temos o ponto posterior…

– O Bradesco lucrou, somente no último semestre, R$ 6 bilhões. O lucro do segundo maior banco privado nacional é maior que o FATURAMENTO de quase todas as empresas do país num único ano. E ainda assim o banco teve uma queda de 6% no dia de comunicação dos seus resultados.

Ainda que eu não seja um assessor de investimento – não posso fazer isso pelo simples motivos que não possuo certificação ANCORD para tal – como vou defender o venture capital e o favorecimento de startups que sejam escaláveis frente a concorrentes lideres e estabelecidos dentro de um potencial oligopólio?

– Será que o futuro de montar em cima de um mitológico roxo é sumir ou ser absorvido dentro um lucrativo vermelho de Osasco, laranja do Jabaquara ou vermelho do JK Iguatemi? Estou no tempo certo, mais cedo ou mais tarde do que devia?

Parabéns ao Nubank pela rodada de US$ 10 bilhões. Ser o maior banco digital do planeta é um trunfo excepcional. Apenas não sei se, sob o prisma de uma operação historicamente negativa e sem perspectiva de lucro, com aportes que significaram remuneração aos sócios como a rodada passada, que o modelo de negócio é sustentável para contarmos a história dentro da mesma cor daqui a uma década.

Nos próximos posts falaremos mais sobre conceitos de startups brasileiras e gringas e, principalmente,  perfil de investidores e o seu apetite. Isso justifica inclusive o porquê o NuBank existe, sobrevive e prospera por aqui com base 100% em capital estrangeiro e não nacional.

E ainda não sei julgar se isso é ruim ou é bom…

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