CryptoTimes

Levar o bitcoin para Wall Street é bom ou mau negócio?

25 out 2019, 17:20 - atualizado em 30 maio 2020, 11:25
Wall Street pode se tornar um vilão para os detentores de bitcoins? (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Os irmãos Winklevoss, aqueles que “fundaram” o Facebook ao lado de Mark Zuckerberg, foram os primeiros a anunciar sua intenção em lançar um ETF (fundo de índice) de bitcoin lá em 2013.

A empolgação continua crescendo para o lançamento de um fundo de trade de exchanges que rastreia o preço do bitcoin. Enquanto nenhum veículo de investimentos desse tipo teve aprovação da SEC (Securities and Exchange Commission) — reguladora do mercado americano — o consenso é de que, no futuro, um ETF vai ser aprovado.

Apesar de a maioria dos participantes do mercado acreditar que um ETF poderia ser uma êxtase de otimismo para o bitcoin, nem todo mundo tem a mesma expectativa.

Por que um ETF pode ser uma boa ideia para o bitcoin

Os motivos para se empolgar com um possível ETF de bitcoin são bem distintos. Quanto mais fundos de investidores entrarem em um ETF de bitcoin, mais “físicos” esses bitcoins seriam adquiridos pelo fundo, com o potencial de alavancagem de preço.

O ouro, por exemplo, quando teve o seu primeiro ETF “físico” criado em 2003, fez com que tanto os investidores varejistas quanto os institucionais conseguissem exposição à commodity como uma classe de ativos sem ter que armazená-lo fisicamente.

Assim, os fundos começaram a crescer em quantidade enquanto o preço do ouro teve um grande aumento nos anos seguintes. Dez anos depois, os ETFs de ouro enfrentaram os ganhos dos bancos centrais.

Andreas Antonopoulos, autor do livro “Mastering Bitcoin”, não é otimista em relação a um ETF de bitcoins (Imagem: Andreas M. Antonopoulos)

A maioria das pessoas compram bitcoin como se fosse um investimento. Os usuários de bitcoin como uma moeda são bem limitados aos que trabalham na economia de bitcoin.

Como resultado, o bitcoin se tornou um ativo de investimento similar ao ouro, além de ser apelidado como “ouro digital”. Isso também explica por que ETFs de bitcoin encontraram tamanho suporte na comunidade de bitcoin.

Por que um ETF pode ser uma má ideia para o bitcoin

Apesar da discussão incessante da mídia a respeito de ETFs de bitcoin, além dos comentários do possível aumento de preços caso haja aprovação de um ETF, nem todos são a favor de um fundo de negociação de bitcoins aberto. No entanto, aqueles em oposição ao ETF de bitcoin têm argumentos válidos.

Considerado um investimento, o bitcoin ainda é mais utilizado pelos especialistas em cripto (Imagem: Pixabay/geralt)

Um exemplo é Andreas Antonopoulos, autor do livro “Mastering Bitcoin“, que acredita ser inevitável a existência de um ETF de bitcoin, mas acha ele “uma péssima ideia” que irá prejudicar o ecossistema.

Em um vídeo de perguntas e respostas no Youtube, ele explicou que um ETF desse tipo poderia levar a uma centralização significativa dos ganhos em bitcoin por uma instituição financeira que atuaria como custodiante para seus investidores.

Isso tiraria a posse das chaves privadas desses investidores; “se não são suas chaves, não são seus bitcoins”, afirmou Antonopoulos. Em consequência, nenhum investidor de ETFs de bitcoin teria os mesmos direitos, benefícios e responsabilidades que um detentor de uma chave possui.

Investidores não teriam como “votar” usando suas moedas ao decidir para qual exchange iria enviá-las nem conseguiriam receber moedas bifurcadas sem suas chaves privadas. As empresas que têm posse dessas chaves privadas poderiam influenciar futuras discussões a respeito de bifurcações e políticas de bitcoin.

Quem é o beneficiado da rede caso haja aprovação de um ETF de bitcoin? (Imagem: Pixabay/designwebjae)

Além disso, um ETF de bitcoin permitiria que “grandes jogadores do mercado” manipulassem o preço do bitcoin, como fizeram com outras commodities (como a prata) no passado. Isso daria vulnerabilidade ao bitcoin por conta da forte manipulação de preços, sugere Antonopoulos.

John Carvalho, COO da BitRefill, compartilha quase a mesma opinião. Ele recentemente tuitou que se um ETF de bitcoin estivesse em Wall Street com quantidades significativas de bitcoins, poderia influenciar o preço, as políticas e seu lugar no trade de bitcoins.

Ele também sugere que outra crise financeira ou falha bancária poderia ter efeitos arrasadores em bitcoin caso Wall Street se tornasse um grande acionista. “Uma enorme catástrofe em Wall Street poderia causar uma década de declínios para o bitcoin.”

Então é bom para os investidores, mas ruim para a rede?

É difícil prever como o lançamento de um ETF de bitcoin poderia ter um efeito negativo no preço dos bitcoins.

Os dois contextos mais prováveis após a aprovação do primeiro fundo de trade público de bitcoins nos Estados Unidos seriam: um grande protesto quando investidores (tanto os convencionais quanto os de Wall Street) colocassem dinheiro no ETF ou nenhuma ação de preço porque há um interesse limitado em investimentos.

Um ETF de bitcoins poderia resultar na centralização por instituições financeiras (Imagem: Pixabay/madartzgraphics)

Para os investidores, a aprovação de um ETF de bitcoin não tem ponto negativo. Logo, deveria ser algo a se comemorar.

O cenário é diferente para usuários diários de bitcoin, apoiadores da descentralização, assim como criptoanarquistas que querem mudar o mundo com o uso do bitcoin.

Se um ETF de bitcoin recebesse uma grande quantidade de investimentos, estaríamos em um contexto em que as empresas de Wall Street teriam a maior parte dos 21 milhões de bitcoins existentes, o que implica na centralização por instituições financeiras.

O bitcoin tem valor justamente por conta da descentralização.

Qualquer pessoa no mundo com conexão à internet pode se conectar e se tornar parte da rede. Isso também significa que não há qualquer sinal de falha, o que torna a moeda digital em uma reserva de valor resistente à censura. Se as instituições financeiras se tornarem grandes portadores de bitcoin, a descentralização e a autonomia da rede estariam ameaçadas.

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