CryptoTimes

Levando as DeFi para os desbancarizados

13 dez 2019, 16:15 - atualizado em 01 jun 2020, 12:53
As finanças descentralizadas (DeFi) cresceram de forma estável durante 2019, mas ainda não chegaram aonde mais precisa. Algorand planeja mudar isso (Imagem: Pixabay)

Algorand, a rede criada pelo criptógrafo Silvio Micali, ganhador do Prêmio Turing, fez uma parceria com a International Blockchain Monetary Reserve (IBMR). Eles têm o objetivo ambicioso de trazer as finanças descentralizadas (DeFi) para os desbancarizados e acabar com a corrupção.

O fruto da parceria, atualmente passando por uma venda de tokens, é a Asia Reserve Currency Coin (ARCC), uma alternativa local à libra, voltada para mais de 300 milhões de pessoas no sudeste da Ásia que não possuem uma conta bancária ou acesso a crédito, investimento e seguro.

Mecanismo “proof-of-work” social

O projeto é liderado pelo empresário Sinjin David Jung, um antigo morador das Filipinas, que vivenciou pessoalmente o papel da corrupção que atrasa o desenvolvimento bancário em todo o sudeste asiático.

Para erradicar a corrupção, a plataforma usa um mecanismo de consenso que substitui o processo de mineração ao usar chips de silicone e quebra-cabeças algorítmicos, como para as moedas baseadas em proof-of-work, com um processo que gera tokens quando os cidadãos submetem informações sobre incidentes de corrupção.

Esses incidentes incluem, por exemplo, agentes públicos tendo que depender de propina para ter renda ou criminais que roubam fundos públicos destinados para a melhoria de infraestrutura.

Esse mecanismo de consenso é chamado de “proof-of-work social” e foi criado para ajudar a minimizar a confiança onde ela mais é importante: em mercados emergentes onde corrupção enraizada atrapalha o desenvolvimento e perpetua o ciclo da pobreza.

Usuários registram alegações de corrupção por meio de um aplicativo de celular da mesma forma que registrariam detalhes de um engarrafamento em um aplicativo de crowdsourcing (colaboração pública), como o Waze.

“Crowdsourcing” é um tipo de colaboração pública, em que os usuários compartilham informações entre si para melhorar um determinado serviço (Imagem: iStock/@Ellagrin)

A diferença é que os dados coletados são reunidos de forma anônima no blockchain como um registro imutável da corrupção sistêmica. Os informantes recebem recompensas por suas contribuições com a geração de uma quantidade fixa de tokens cripto.

Os dados coletados podem ser cruzados com outras fontes e usadas como um “mandato público por mudança”.

A ARCC foi criada para, no futuro, virar a “criptomoeda de reserva regional do sudeste asiático” e formar a fundação de um ecossistema financeiro inclusivo.

Com certeza é um objetivo ambicioso, mas haverá obstáculos significativos de adesão a serem superados. Além disso, não se sabe como os cidadãos e os agentes públicos irão reagir à capacidade de relatar, anonimamente, questões relacionadas à corrupção.

Finanças descentralizadas são uma alternativa emergente para o sistema financeiro global (Imagem: Medium/Vladislav Shabanov)

DeFi na Algorand

O blockchain escolhido para apoiar esse objetivo foi Algorand, um projeto descrito por Ninos Mansor, da Arrington XRP Capital, como “macroeconomia encontra criptomoeda”.

AARC vai ser como tokens Algorand sendo executados no protocolo de token Algorand Standard Asset (ASA), lançado no fim de novembro.

Esse protocolo funciona no recém-atualizado Algorand 2.0, que afirma ser o primeiro verdadeiro blockchain proof-of-stake do mundo que não sacrifica a descentralização pelo desempenho e é capaz de hospedar aplicações descentralizadas (dapps) em escala comercial.

Essas parecem promessa difíceis de serem cumpridas, mas a plataforma já se provou bem popular com outros projetos, incluindo a oferta pública inicial (IPO) híbrida da World Chess, que dependeu tanto do blockchain da Algorand como da Bolsa de Valores de Londres.

Quando o aplicativo estiver no ar e os fundos dos usuários forem entrando, ao relatarem corrupção, o IBMR tem grandes planos para os tokens.

Esses planos incluem um sistema de saúde básica, propriedade e seguro de vida para os usuários que optarem por eles, além de uma plataforma de investimento ponto a ponto onde os usuários possam oferecer fundos para outros empreendedores locais com todas as transações trancadas em um contrato inteligente.

A proposta da ARCC é de facilitar a vida dos cidadãos asiáticos que precisam de serviços bancários (Imagem: Medium/Camila Vásquez A.)

Sean Ford, COO da Algorand, em entrevista à Brave New Coin, disse que “solucionar as maiores questões do mundo, como a quebra do ciclo de pobreza, é um grande compromisso e requer empenho colaborativo. Essa parceria entre a IBMR e a Algorand, plataforma de código aberto, se esforça para promover a inclusão financeira e criar um impacto social positivo. Esse caso de uso em particular é apenas um exemplo dentre muitos que virão e que serão propulsados pela tecnologia da Algorand. Estamos muito empolgados em ver mais empresas alavancando a infraestrutura de primeira camada para remover a fricção do intercâmbio econômico”.

No entanto, para muitos, a necessidade de atender aos desbancarizados vai parecer muito familiar: o “boom” de ICOs em 2017 viu vários projetos de token supostamente almejando oferecer outros serviços financeiros aos desbancarizados. Hoje, apenas alguns estão em funcionamento.

Porém, como demonstram as viagens recentes de Mark Zuckerberg e de Jack Dorsey para o continente africano, o interesse em atender os desbancarizados com soluções baseadas em blockchain ainda não desapareceu.

Apesar de as barreiras regulatórias e as questões infraestruturais tornarem desafiador esse objetivo, o número total de pessoas desbancarizadas em regiões em desenvolvimento torna o solo fértil para adesão de criptoativos.

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