Leite: Preços ao consumidor e custos da atividade estão caindo?

No acumulado de 2023, os preços do leite cru avançaram 11,8%, atingindo R$ 2,8961/litro na “Média Brasil” líquida em abril, alta de 9,3% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

No entanto, a tendência, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), parece estar se invertendo.

De acordo com Cepea, a tendência parece diferente no terceiro bimestre (maio e junho), algo bastante incomum para o setor, já que o período é caracterizado por uma elevação histórica dos preços, em função da queda sazonal da produção.

Preços do leite tem caído?

Na avaliação da pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, os preços do leite e derivados tem se mostrado atípicos em 2023, em função do aumento dos preços durante a safra no início do ano. Agora, o setor espera uma queda nas cotações justamente durante a entressafra.

“Esse comportamento atípico nesse 3º bimestre se explica pelo desequilíbrio entre oferta e demanda, o que pressiona o mercado a trabalhar com um novo patamar de preços — no caso, mais baixo porque existe, no momento, um excedente de oferta”, diz.

Segundo Grigol, o aumento da oferta não vem de um crescimento da produção à campo, e, sim, pela maior disponibilidade de lácteos, que se explica pela combinação de um consumo enfraquecido, com um incremento muito substancial nas importações de lácteos.

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“Temos um cenário em que o consumidor, com poder de compra reduzido, não demanda grandes volumes de lácteos e toma decisão de compra com base no preço mais barato. Assim, os canais de distribuição pressionam os laticínios por produtos mais baratos, e a consequência é que isso seja repassado ao produtor também”, comenta a pesquisadora.

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Nesse momento, a queda no preço do leite ocorre junto ao recuo dos custos de produção (commodities), à medida que a ração também está mais barata que no ano passado. Dessa forma, essa nova dinâmica mexe com os preços da cadeia do leite.

Importações e custo da atividade

Segundo a pesquisadora do Cepea, o que subsidia a tendência de queda do preço do leite em maio e junho, mesmo num momento delicado para a produção (entressafra), é o aumento das importações de lácteos.

“Elas mais que triplicaram de janeiro a maio, porque são muito competitivas. Como a oferta nacional tem estado limitada, os preços do leite, nesse ano, se encontram em patamares mais elevados do que no ano passado. E o preço dos importados consegue ser mais atrativo nessa comparação”, explica Grigol.

Após recuo em abril, as importações de lácteos subiram 42,95% em maio, totalizando 208,8 milhões de litros em equivalente leite, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

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Esse volume é 3,2 vezes maior que o adquirido em maio de 2022. De janeiro a maio, as compras externas somam quase 878 milhões de litros em equivalente leite, superando em 213,4% (ou seja, em pouco mais de 3 vezes) o volume registrado no mesmo período do ano passado.

Assim, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,31% entre abril e maio na “Média Brasil”, que considera os estados de BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS, puxado pela queda dos insumos.