Leilão da Dutra: CCR garante “joia da coroa” do setor de rodovias no portfólio, mas… e os retornos?
A CCR (CCRO3) não só superou a oferta da Ecorodovias (ECOR3) no leilão de concessão da Nova Dutra, como também conseguiu manter um ativo-chave em seu portfólio, avaliaram analistas do mercado.
A CCR apresentou a oferta vencedora do leilão, oferecendo deságio de 15,31% sobre o valor de pedágio, desconto máximo permitido, e outorga de R$ 1,77 bilhão. O período de concessão previsto em contrato é de 30 anos, com início em março de 2022 e investimentos projetados de R$ 14,8 bilhões.
A concessão engloba o bloco de rodovias formadas pela Dutra e pelo trecho Rio-Santos. O sistema tem 625,8 km de extensão, com o primeiro trecho, de 355,5 km, sendo a Via Dutra, principal ligação rodoviária entre Rio de Janeiro e São Paulo. O trecho é atualmente operado pela CCR.
O segundo trecho, de 270,3 km, faz ligação entre Rio de Janeiro e Ubatuba, no litoral paulista.
“A Nova Dutra é um ativo emblemático, originalmente transferido para o setor privado nos anos 90, e é visto como um dos ativos ‘joia da coroa’ do setor, dada a sua privilegiada localização, conectando as duas áreas mais populosas do país (SP e RJ)”, comentaram Lucas Marquiori, Fernanda Recchia, Bruno Lima e Marcel Zambello, do time de análise do BTG Pactual (BPAC11).
Concorrência
A CCR e a Ecorodovias foram as únicas empresas na disputa pela Nova Dutra. A competição pelo ativo foi menor que o esperado pelo mercado, se considerar leilões anteriores dos quais ambas as empresas participaram.
Segundo o BTG, embora fosse de conhecimento do mercado que apenas a CCR e a Ecorodovias participariam do leilão para a concessão da Nova Dutra, a menor concorrência surpreendeu, visto que a Ecorodovias levantou dinheiro em junho em uma oferta.
“O resultado dos outros dois leilões (BR-153 e Ponte), somado ao fato de que a Ecorodovias recentemente arrecadou dinheiro por meio de uma oferta, levou o mercado a antecipar uma competição muito mais acirrada do que foi visto, em nossa opinião”, disseram os analistas do banco.
Aumento do tráfego e queda nas despesas
Um ponto positivo destacado por analistas é que a administração da CCR projeta que o pedágio consolidado para a concessão ficará 15% acima da previsão do governo. O governo estima para o primeiro ano tráfego equivalente a 142 milhões de veículos, enquanto a CCR espera 150 milhões de veículos. A empresa assume um volume com CAGR (taxa de crescimento anual composta) de 2,4% (ante 2,1% do governo).
Outro fator positivo é a economia esperada da operação. A Ágora Investimentos destacou que a CCR conhece bem a Nova Dutra, uma vez que opera a Dutra há décadas.
“A empresa, portanto, espera reduzir a estimativa de opex (despesas operacionais) do governo em 20% a 25%”, comentaram Victor Mizusaki, do Bradesco BBI, e Ricardo França, da Ágora.
A redução das despesas deve vir principalmente de iniciativas de redução de custos de conservação e manutenção, uso de energia solar e de tecnologias focadas na eficiência e redução de perdas operacionais com cobertura total de câmeras de segurança.
“A familiaridade da CCR com a Nova Dutra também deve permitir a alocação eficiente de recursos”, acrescentaram os analistas.
Após essa vitória, deve-se imaginar que a CCR esgotou seus recursos para competir em outras licitações. Grande engano. A companhia deve participar do projeto da rodovia BR-381/262 em 25 de novembro, bem como de algumas rodovias a serem licitadas no Paraná, da sétima rodada de concessões aeroportuárias e do projeto do trem TIC/Linha 7, todas no segundo trimestre de 2022.
Retornos positivos ou não? Eis a questão
Em termos de retorno, analistas da XP Investimentos e do Credit Suisse deram diferentes opiniões. Do projeto, a CCR espera uma TIR (taxa interna de retorno) desalavancada real entre 9-9,5% e entre 12-13% após a alavancagem, em linha com as projeções da XP.
Ainda, a corretora vê com bons olhos a iniciativa da CCR de ter fornecido ao mercado as premissas de modelagem após sair vitoriosa do leilão.
“Acreditamos que isso deve ajudar a aliviar qualquer eventual percepção de risco de agressividade”, afirmaram os analistas Pedro Bruno, Lucas Laghi e Gabriela Ferrante.
Para o Credit Suisse, os retornos esperados vieram mais apertados que as licitações anteriores.
“Em um cenário-base (que assume economia de opex e capex [investimentos]), vemos taxas de retorno real em 8,3% (desalavancada) e 13,3% (alavancada)”, avaliaram Regis Cardoso, Henrique Simoes e Alejandro Zamacona.
De acordo com o banco suíço, a maior questão é saber se a CCR será capaz de entregar economia de despesas e um tráfego maior.
O Credit Suisse tem recomendação de outperform (desempenho esperado acima da média do mercado) para a ação, com preço-alvo de R$ 21,50. O BTG e a Ágora reiteraram a compra do ativo, com preços-alvo de, respectivamente, R$ 18 e R$ 22.