Justiça

Lava Jato rebate Bolsonaro sobre acabar com operação e cita “forças poderosas” contra investigações

08 out 2020, 16:47 - atualizado em 08 out 2020, 16:56
Jair Bolsonaro
Os procuradores disseram que a Lava Jato é uma “ação conjunta de várias instituições de Estado no combate a uma corrupção endêmica” (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

A força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba rebateu nesta quinta-feira a fala do presidente Jair Bolsonaro de que acabou com a operação porque, segundo ele, não há mais corrupção no governo, e disse haver “forças poderosas” que atuam em sentido contrário ao combate à corrupção.

“Os membros do Ministério Público Federal integrantes da força-tarefa da Lava Jato no Paraná lamentam a fala do presidente da República sobre ter ‘acabado’ com a operação Lava Jato. GO discurso indica desconhecimento sobre a atualidade dos trabalhos e a necessidade de sua continuidade e, sobretudo, reforça a percepção sobre a ausência de efetivo comprometimento com o fortalecimento dos mecanismos de combate à corrupção”, disse a força-tarefa em nota.

Em evento na véspera no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse: “É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer para essa imprensa maravilhosa nossa, que eu não quero acabar com a Lava Jato, eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”.

Os procuradores disseram que a Lava Jato é uma “ação conjunta de várias instituições de Estado no combate a uma corrupção endêmica”, e destacaram que a operação ainda se faz essencialmente necessária, citando fases deflagradas recentemente.

O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro também defendeu a operação após a fala de Bolsonaro (Imagem: Flickr/Marcos Corrêa/PR)

“Ainda ontem (quarta), na mesma data da declaração do presidente, foi deflagrada a 76ª fase da operação, na qual houve a apreensão do equivalente a quase 4 milhões de reais em espécie em endereços de investigado pela prática de delitos contra a Petrobras (PETR3;PETR4)”, destacou a nota dos procuradores.

A força-tarefa –que recentemente teve seus trabalhos prorrogados até janeiro de 2021 pela Procuradoria-Geral da República– disse que o apoio da sociedade, bem como a adesão efetiva e coerente de todos os Poderes da República, é “fundamental” para que o esforço continue e tenha êxito.

“Os procuradores da República designados para atuar no caso reforçam o seu compromisso na busca da promoção de justiça e defesa da coisa pública, papel constitucional do Ministério Público, apesar de forças poderosas em sentido contrário”.

O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro também defendeu a operação após a fala de Bolsonaro.

“É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”, questionou ele, no Twitter, ainda na quarta.

Bolsonaro foi eleito em 2018 no rastro da bandeira de combate à corrupção e fazendo uma defesa enfática da Lava Jato. Escalou para seu governo o ex-juiz Sergio Moro, símbolo da operação, como ministro da Justiça e Segurança Pública.

Contudo, após desentendimentos com Moro, que o acusou de tentar interferir na Polícia Federal, o presidente demitiu-o do governo no final de abril e acabou por se aproximar de investigados na operação.