Lais Costa: Princípio da incerteza
“Para a maioria dos ativos brasileiros, 2021 não foi fácil. Os investidores podem pensar: eu devia ter reduzido minhas posições em ações em um dado ponto, ou devia ter aumentado minha exposição em renda fixa em outro momento. Contudo, se esquecem de que, ao interagir com o mercado, o cenário poderia ser diferente.”
Em 1927, o físico alemão Werner Heisenberg enunciou pela primeira vez o princípio da incerteza.
Sem adentrar nos pormenores da física quântica e nas deduções matemáticas, o princípio da incerteza de Heisenberg demonstra que não é possível saber com precisão e simultaneidade a posição e a quantidade de movimento (momento) de uma partícula.
Isso porque a medição dessas variáveis (posição e momento) modifica o estado dela. Ou seja, o próprio método de medição interfere na partícula que está sendo medida e modifica a resposta final. Além disso, quanto maior a precisão da posição, maior a incerteza do momento, e vice-versa.
Ao fim, a perturbação do sistema mantém intacta apenas a existência de um grau de incerteza.
Talvez o enunciado de Heisenberg não seja muito familiar, mas o conceito da impossibilidade da completa exclusão de incertezas deve ser.
Mesmo assim, somos tentados, diariamente, a buscar explicações e respostas definitivas.
Incorremos no erro de olhar para trás e, em uma análise a posteriori, criar uma narrativa sobre os erros e acertos que agora parecem óbvios. Kahneman, Tversky e Fischhoff deram outro nome bonito para isso: viés da retrospectiva.
Somos tentados a olhar para trás e divagar sobre diversos aspectos da nossa vida: se eu tivesse feito outro curso, se eu tivesse casado com outra pessoa, se eu não tivesse feito aquela viagem…
No momento da tomada de decisão, escolhemos um caminho sem a garantia de onde ele vai dar.
Entretanto, cada vez que interagimos com a estrada escolhida, somos agentes de modificação daquele caminho e, consequentemente, do resultado. Ou seja, o que imaginamos que seria o caminho preterido não necessariamente teria levado ao destino hoje desejado.
Só saberemos o final se caminharmos por ele.
Para a maioria dos ativos brasileiros, 2021 não foi fácil. Os investidores podem pensar: eu devia ter reduzido minhas posições em ações em um dado ponto, ou devia ter aumentado minha exposição em renda fixa em outro momento. Contudo, se esquecem de que, ao interagir com o mercado, o cenário poderia ser diferente.
Analogamente ao princípio de Heisenberg, quanto maior a certeza sobre uma tese de investimento, pior o técnico da posição. A vasta preponderância de investidores em uma determinada posição pode levar a eventos de mercado altamente perturbadores a qualquer sinal de quebra de convicção.
Em outras palavras, quanto maior a certeza de retorno de um investimento, menor pode ser a sua probabilidade de ocorrência.
Ao final da primeira semana de 2022, fazer projeções para o final do ano, frente a tantas incertezas, pode ser perigoso. Entretanto, o desejo de prever o futuro pode ser menos danoso do que a tentativa de olhar para o passado sob o viés da retrospectiva, contrário às leis da física, da matemática e da economia comportamental.
Pois bem, olhemos para a frente. As preocupações em relação à dinâmica da pandemia, surgimento de novos gargalos nas cadeias de suprimento globais, aperto monetário nas economias desenvolvidas, eleições presidenciais e outras coisas que não conseguimos precisar neste momento reforçam a importância de uma alocação diversificada.
A carteira do FoF Melhores Fundos Blend representa a síntese das nossas convicções de diversificação entre classes de ativos, no Brasil e no exterior, dentro da regulação vigente para o investidor geral.
Nós da equipe da série Os Melhores Fundos de Investimento temos uma certeza: 2022 será um ano absolutamente incerto. Apesar de tudo, não deixe de interagir com ele.
Um abraço,
Laís Costa.