Internacional

Lagarde deve ser principal ‘lobista’ para economias da Europa

04 out 2019, 13:40 - atualizado em 04 out 2019, 13:40
Como ex-ministra das Finanças, Lagarde está bem preparada para se tornar a principal lobista econômica da região (Imagem: Samsul Said/Bloomberg)

O futuro papel de Christine Lagarde como presidente do Banco Central Europeu está sendo transformado antes mesmo de ela assumir o cargo.

Um trabalho que por muito tempo era a especialidade de tecnocratas que elaboravam respostas monetárias aos desafios econômicos da zona do euro agora exige cada vez mais as habilidades de um ativista político que pode incentivar países como a Alemanha a realizar mudanças. Isso ocorre porque grande parte da munição do BCE está esgotada e, portanto, precisará de ajuda para estimular o crescimento.

“A situação é bastante preocupante, e o grande problema é que a política monetária praticamente já fez tudo o que podia”, disse Klaus Baader, economista-chefe global do Société Générale, acrescentando que a política fiscal terá que fazer sua parte.

Como ex-ministra das Finanças, Lagarde está bem preparada para se tornar a principal lobista econômica da região. Talvez ela possa exercer esse papel com mais força do que seu antecessor, Mario Draghi, que tendia a limitar sua pressão sobre os governos a ocasiões planejadas, como conferências de imprensa do BCE.

Lagarde também está acostumada a se envolver publicamente com os governos em políticas econômicas em seu antigo cargo de diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional por oito anos, com sua função de supervisionar o sistema financeiro e seus membros constituintes. Estes incluíam os 19 países da zona do euro.

“Há uma necessidade de política fiscal coordenada”, disse Andrew Balls, diretor de investimentos de renda fixa global da Pimco, em entrevista à Bloomberg Television. “A maioria dos economistas concordaria com isso. O problema é a dimensão política na Europa; portanto, a nova presidente do BCE não é especialista em política monetária, mas alguém com grande experiência política.”

Draghi já deu o tom no mês passado, declarando que “é hora de a política fiscal assumir o controle”. Nesse sentido, a Alemanha apresenta um desafio para Lagarde, por causa de sua longa reticência em afrouxar as restrições orçamentárias, apesar de ter poder de fogo para fazê-lo, para benefício de todos os outros.

“A Alemanha é a única grande economia da Europa que certamente tem essa capacidade”, disse Angel Gurria, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, à Bloomberg Television, em Berlim. “Portanto, não é apenas uma questão da Alemanha, é também uma questão sistêmica para a Europa e, até certo ponto, para o mundo.”

Pode não ser surpresa que a primeira semana de Lagarde como presidente inclua uma viagem a Berlim para um discurso em homenagem a um guardião da prudência fiscal do país, o ex-ministro das Finanças Wolfgang Schaeuble.

Em entrevista à Bloomberg Television na semana passada, Lagarde indicou que tinha ideia das expectativas em torno do lobby de seu novo papel, em vez da política monetária. Ela consultou ex-presidentes de bancos centrais antes de aceitar a posição.

“O ponto que eles deixaram muito claro para mim e que também acredito é que muitas habilidades diplomáticas, senso político, entendimento das perspectivas dos ministros das Finanças e dos líderes dos países do euro – tudo isso provavelmente terá mais importância”, disse.

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