La Niña promete inflação de alimentos no 2º semestre; saiba quais produtos devem sofrer altas
A chegada do fenômeno climático La Niña, caracterizado pelo resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico na faixa equatorial, que reduz a ocorrência de ondas de calor, deve se confirmar no segundo semestre — o que pode trazer risco para a inflação dos alimentos.
Para 2024, o Relatório Focus, do Banco Central, elevou sua previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,96% para 3,98%.
No acumulado do ano até maio, os preços de alimentação no domicílio avançaram 5,1%, de acordo com o Sidra do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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Entre os itens que ficaram mais caros em 2024 estão: cereais, leguminosas e oleaginosas (+7,74%), arroz (+8,78%), batata inglesa (36,08%), tomate (26,02%), cebola (44,7%), cenoura (64,5%), azeite de oliva (15,04%), hortaliças e verduras (9,53%), alface (8,54%), brócolis (6,62%) e ovo de galinha (5%).
Já os produtos que apresentaram queda nos seus valores até maio são: picanha (-2,71%), carne de porto (-1,25%), costela (-2,56%), alcatra (3,9%), contrafilé (-4,33%), feijão preto (-0,71%), mandioca (-0,61%), inhame (0,49%) e carnes (-2,43%)
Como o La Niña impacta os preços dos alimentos?
A economista do Insper, Juliana Inhasz, comenta que o La Niña deve trazer estiagem (seca) para áreas do Sudeste e Sul do Brasil. Vale lembrar que o Rio Grande do Sul já sofreu por conta dos últimos fenômenos climáticos no Estado, assim como as enchentes.
“Essa seca deve provocar uma redução da oferta e um produto de menor qualidade, o que naturalmente joga o preço para cima. O que os pesquisadores projetam é um impacto significativo para frutas, como a banana, pela maior sensibilidade a períodos de seca”, vê.
Entre os outros produtos que podem sofrer está o milho, também sensível à seca. “Arroz e trigo também sofrem, mas um pouco menos. Vale mencionar casos como uva, tomate e melancia. Importante ressaltar que as frutas não devem pesar tanto sobre o índice de preços, pelo menor consumo de algumas dessas frutas no inverno. No entanto, isso não se aplica para banana e o milho, que contam com maior consumo”.
IPCA – Sidra/IBGE | Variação acumulada em 12 meses |
---|---|
Alimentação no domicilio | 3,27% |
Cereais, leguminosas e oleaginosas | 15,92% |
Arroz | 26,76% |
Feijão Preto | 5,50% |
Farinhas, féculas e massas | -2,55% |
Batata inglesa | 57,94% |
Inhame | 8,39% |
Abobrinha | -11,82% |
Tomate | 15,32% |
Cebola | 86,13% |
Cenoura | 30,38% |
Hortaliças e verduras | 12,11% |
Alface | 12,85% |
Carnes | -8,01% |
Azeite de olina | 49,42% |
Ovo de galinha | -6,21% |
Picanha | -9,11% |
Carne de porco | -3,54% |
Filé-mignon | -6,57% |
Alcatra | -8,64% |
Áreas que acendem alerta para chegada do fenômeno
Na avaliação de Luiza Cardoso, porta-voz da Climatempo, os produtores do Sul, Centro-Oeste e Centro-Norte de São Paulo e Triângulo Mineiro precisam estar atentos.
No Sul, o risco de estiagem, longo período sem chuvas significativas, pode ser um prejuízo para o milho e soja. “Em outubro, a previsão é de chuva muito abaixo da média, e isso pode impactar as lavouras recém-plantadas. Até o início da primavera, também há mais chances de picos de frio, com geadas tardias que podem trazer impactos pontuais para cultivos mais sensíveis, ou até mesmo para a fase final do trigo“, avalia.
Tanto no Centro-Oeste, como no Centro-Norte de São Paulo e Triângulo Mineiro, há risco de atraso na chuva da primavera, o que pode postergar o plantio da soja e do milho verão. “Picos de frio tardio também podem chegar no sul do Mato Grosso do Sul, mas nada tão significativo”, completa.
Por fim, em épocas de La Niña, costuma ser normal acontecer chuvas acimas da média no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
“Costuma ser normal chuva acima da média no Matopiba em época de La Niña, mas para março de 2025 não deve ter tanta chuva assim, mesmo com o plantio mais tardio que eles fazem na região, trazendo alguns prejuízos pontuais. No entanto, só vamos conseguir entender possíveis impactos mais à frente”, conclui.