Kraft Heinz é o novo fantasma de Lemann e 3G Capital: inconsistências geram processo nos EUA
Os primeiros três meses de 2023 estão sendo de turbulência para Jorge Paulo Lemann e seus sócios na 3G Capital. Dois meses após o rombo bilionário da Americanas (AMER3), uma investidora dos EUA abriu processo contra Lemann e seus sócios.
O motivo é similar ao visto no Brasil, conforme informação da coluna Capital, do jornal O Globo. Segundo o periódico, a investidora norte-americana, Adriana D. Felicetti, protocolou processo pelos problemas enfrentados pela Kraft Heinz em 2019. À época, erros no balanço geraram baixa contábil de US$ 15,4 bilhões.
- Entre para o Telegram do Money Times! Acesse as notícias que enriquecem seu dia em tempo real, do mercado econômico e de investimentos aos temas relevantes do Brasil e do mundo. Clique aqui e faça parte!
Conforme a petição inicial do processo, protocolado em 6 de março deste ano, a qual a coluna teve acesso, a investidora acusa Lemann e a 3G Capital de terem falhado em seu dever fiduciário com a empresa e seus acionistas, além da prática de insider trading (uso indevido de informação privilegiada) para lucrar com os papéis da Kraft Heinz antes de os problemas contábeis virem a público.
Por meio da ação, Felicetti reivindica:
- Reparação das perdas como acionista e para a empresa;
- Ressarcimento da multa de US$ 62 milhões que a Kraft Heinz teve de pagar à SEC (Securities and Exchange Comission, órgão regulador do mercado de capitais nos EUA);
- Ressarcimento dos US$ 250 milhões que ainda devem ser pagos para encerrar ação coletiva iniciada após o rombo;
- Que a 3G Capital devolva os ganhos obtidos a partir do suposto insider trading.
3G Capital e a Kraft Heinz
Em 2013, a 3G Capital, do trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcell Teles, investiram U$ 28 bilhões na aquisição da Kraft Heinz, empresa consolidada no setor alimentício. Posteriormente, Warren Buffet se juntou como sócio.
Contudo, em 2019, a SEC acusou a companhia de ter erros contábeis. Assim, a empresa foi obrigada a corrigir e republicar os balanços, que mostraram uma baixa contábil de U$ 15,4 bilhões.
No caso da Kraft Heinz, os problemas estavam ligados à área de compras da companhia, acusada de esconder os custos reais com fornecedores e manter contratos falsos.
Em 2021, a SEC e a Kraft Heinz firmaram acordo, que demandou da companhia arcar com multa de US$ 62 milhões.
Os advogados de Felicetti apontaram na ação que Lemann e a 3G Capital não cumpriram com o papel de garantir que a companhia divulgasse informações precisas e não enganosas e, além de esconder a verdade, se apropriaram de informações não públicas em benefício próprio, vendendo grande quantidade de ações ao público que não tinha todas as informações por mais de US$ 1,2 bilhão.
Relação com caso Americanas
Segundo um dos representantes de Adriana Felicetti disse à coluna Capital, a equipe de advogados está se estudando o caso Americanas, que pode reforçar os argumentos sobre a conduta dos fundadores da 3G Capital.
Além de Lemann, são acusados no processo Marcel Telles, sócio da 3G, Alexandre Behring, cofundador da 3G que foi CEO da Kraft Heinz e Bernardo Hees, que já foi CEO de Heinz e Burger King.
Deste caso, apenas Beto Sicupira, também sócio-fundador da 3G, parece estar de fora do problema. Isto porque não assumiu nenhum cargo na Kraft Heinz no período do caso.