Kerry não define valor, mas promete buscar recursos para Fundo Amazônia, diz Alckmin
O enviado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, não anunciou um valor para as doações norte-americanas para o combate ao desmatamento no Brasil depois de uma primeira reunião com representantes do governo brasileiro, mas um plano de ação deve ser anunciado na terça-feira, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
“Quem vai anunciar o valor é o governo Biden no tempo oportuno para eles. Eles dependem do Congresso, nada vai ser feito de forma a desconsiderar as dinâmicas de cada país”, disse Marina a repórteres depois do encontro.
“O Brasil trabalha para que a gente possa ter o mais rápido possível os aportes que estão sendo colocados pelos diferentes governos, como já sinalizou, por exemplo, a Alemanha. Mas cada país tem seu tempo e sua dinâmica interna.”
Mais cedo, ao sair da reunião com Kerry, o vice-presidente Geraldo Alckmin esclareceu que o enviado especial norte-americano não havia falado em valores, mas que havia garantido que irá se empenhar junto ao seu governo, ao Congresso e a empresas privadas norte-americanas para garantir “recursos vultosos” em contribuições, seja para o Fundo Amazônia seja para outras opções negociadas com o governo brasileiro.
Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, falou rapidamente com jornalistas no Itamaraty após reunião com Kerry, que contou também com a presença, entre outros, de Marina e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.
No início do mês, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o presidente norte-americano, Joe Biden, em Washington, chegou a ser tratada uma doação inicial de 50 milhões de dólares dos EUA para o Fundo Amazônia. O valor, no entanto, não chegou a ser anunciado oficialmente porque a avaliação foi de que a quantia — valor máximo que o governo dos EUA poderia doar por ato executivo, sem passar pelo Congresso — seria baixo perto de outras doações. De acordo com uma fonte, o anúncio foi adiado para que os EUA possam negociar um número maior.
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Segundo Marina, os dois governos estão traçando um plano de trabalho em questões como mudança climática, desmatamento, economia de baixo carbono e outros temas, e na terça-feira deverá ser feito um anúncio conjunto de cooperação.
“Nós vamos revisitar o acordo-quadro que foi feito pelo Brasil e os EUA em 2015. Esse acordo-quadro tem vários temas que precisam ser atualizados à luz dos interesses do governo do presidente Lula e do governo Biden. Tem a ver com proteção de floresta, clima, enfrentamento de desigualdades, fortalecimento das democracias, mas apostando na transição energética, nos enfrentamentos dos grandes temas da agenda ambiental global, inclusive em temas que têm a ver com essa cooperação em termos comerciais”, afirmou.
A reunião desta manhã, segundo Alckmin, tratou de combate à mudança climática, desmatamento, transição energética, além da possibilidade de parceria em várias áreas. Kerry deve se reunir ainda com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
Até agora, o governo brasileiro tem sinalizações de doações da França, Espanha e Reino Unido para o Fundo Amazônia. Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, em reuniões com o ator Leonardo di Caprio e o investidor Jeff Bezos, Marina também ouviu que ambos iriam levantar 100 milhões de dólares cada, através das suas fundações, para investir no Fundo.
Iniciado por Alemanha e Noruega para apoiar a proteção da floresta no país e projetos de desenvolvimento sustentável, o Fundo já recebeu até o momento doações de 1,3 bilhão de dólares.
Desmatamento
A ministra do Meio Ambiente foi questionada sobre o aumento de desmatamento em fevereiro, que em duas semanas bateu o recordo para todo o mês desde 2015, quando foi iniciada a série histórica.
Segundo Marina, há uma “espécie de revanche” contra as ações que estão sendo tomadas pelo governo na região.
“Neste momento estamos identificando que tem ação criminosa mesmo no período chuvoso, adiantando o desmatamento. Estamos nos preparando para fazer esse enfrentamento”, disse a ministra, ressaltando que pegou o ministério como “terra arrasada.”
“Estamos ainda em dois meses do governo, o plano de prevenção e controle do desmatamento vai ser atualizado e reimplementado a partir de abril, quando concluiremos o plano. Mas mesmo assim estamos agindo emergencialmente em várias frentes, na frente yanomami, na frente do desmatamento e de outras criminalidades que acontecem no Brasil inteiro”, disse.