Kahneman: “O melhor que investidor pode fazer na maioria das vezes é ficar quieto”
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
O pior inimigo do investidor é ele mesmo. É o que explica o Prêmio Nobel de Economia Daniel Kahneman, especialista em estudos do comportamento do investidor, as chamadas finanças comportamentais. Segundo ele, as pessoas sofrem com o excesso de confiança, o que as leva a tomar decisões em situações que não podem avaliar corretamente. “Não sabemos o que está acontecendo, não conhecemos todas as variáveis, não controlamos essas variáveis, mas insistimos em decidir”, afirma. “É como um jogo, sabemos que não dominamos as condições, mas insistimos em jogar”. A situação é pior quando há alguma mudança de cenário que provoca maior incerteza sobre os investidores. “Em geral, as pessoas se precipitam e agem, mas agem errado”, diz.
Outra reação é quanto à probabilidade dos eventos. “Temos muita confiança em nossas crenças”, afirma Kahneman. Assim, as pessoas dizem estar 99% certas sobre certa coisa, mas na verdade, não têm ideia do que vai acontecer. E o mesmo acontece com especialistas, que dão opiniões que influenciam as pessoas, mas que na verdade não têm condições de prever o futuro. “Uma porcentagem baixíssima dessas opiniões são confirmadas pelos fatos depois, mas as pessoas continuam acreditando nelas”, diz.
Ele dá o exemplo das pequenas empresas nos Estados Unidos. De cada 100 abertas, apenas 33 sobrevivem após cinco anos. “Mas mesmo assim todos que iniciaram o negócio tinham 90% de certeza que daria certo”, afirma.
Um exemplo de como o excesso de confiança interfere no desempenho dos investimentos é o fato de que as mulheres apresentarem melhor resultado em seus investimentos do que os homens. Isso ocorre,diz Kahneman, porque elas são menos confiantes, e tem mais dúvidas e por isso tomam mais cuidado, mudando menos de aplicação.
Outra característica da natureza humana é que as perdas são mais dolorosas que os ganhos, o que provoca reações mais fortes quando o investidor perde dinheiro. “A reação a eventos ruins é maior que aos bons, pois a dor é mais marcante que o prazer”, diz Kahneman. E nas experiências que as pessoas têm, as perdas são mais significativas emocionalmente do que os ganhos, o que tem um grande impacto em nosso comportamento. Assim, o investidor pode correr vender suas ações ao primeiro sinal de queda, ao mesmo tempo em que não vende as ações quando elas estão muito acima do valor.
Kahneman lembra que as pessoas que passaram pela Grande Depressão econômica nos Estados Unidos nos anos 1930 ou que cresceram logo depois foram enormemente influenciadas pelas dificuldades da época e se tornaram mais cautelosas pelo resto da vida. Mas, no caso da crise de 2008, o impacto não foi tão grande, porque as coisas melhoraram mais rapidamente.
Um dos efeitos do desenvolvimento da economia comportamental é a criação de modelos que buscam compensar essas falhas humanas, especialmente a troca de investimentos em momentos de tensão. Graças às finanças comportamentais, surgiram modelos de investimento em que as pessoas definem seus objetivos de maneira racional por um prazo mais longo. A ideia é não responder muito aos impulsos momentâneos dos mercados ou da emoção. “É uma forma de evitar tomar decisões por impulso”, diz Kahneman.
Outra contribuição das finanças comportamentais são investimentos que automaticamente mudam suas aplicações com a idade do investidor, adaptando-as ao seu perfil de risco ou necessidade. “As pessoas não são consultadas, apesar de ser o dinheiro delas, mas esse sistema se mostrou na média mais rentável do que aquele no qual as pessoas administravam elas mesmas as mudanças”, explica o prêmio Nobel.