Coluna da Devant

Juros, inflação, PIB: projeções desafiadoras para 2023

23 jan 2023, 8:00 - atualizado em 20 jan 2023, 16:33
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PIB menor, economia global desaquecendo, incertezas fiscais, inflação no radar e mais aumentos na taxa Selic: cenário que se materializa para 2023 é desafiador (Montagem: Julia Shikota)

Por Bruno Eiras*

Crescimento menor, economia global desaquecendo, incertezas fiscais, inflação ainda no radar e a possibilidade de mais aumentos na taxa Selic. O cenário que se materializa para 2023 é desafiador para a equipe econômica do novo governo.

As expectativas continuam se deteriorando, segundo o mais recente boletim Focus do Banco Central. Nas últimas quatro semanas, as projeções para a taxa Selic no final de 2023 passaram de 11,75% para 12,25% ao ano.

Já as estimativas para a inflação avançaram de 5,08% para 5,31%, no mesmo período. A depender do novo regime fiscal, o Banco Central pode ter que fazer mais apertos monetários para compensar uma política fiscal expansionista.

O Congresso Nacional em troca de “emendas”, orçamentos e cargos ficará em um dilema: olhar para os seus interesses pessoais ou ter disciplina fiscal com foco no crescimento sustentável do país. Quanto maior for esta crise, maior será o aumento da taxa básica de juros.

O impacto de juros mais elevados é contracionista para as pessoas físicas e empresas. Isso porque visa controlar o aumento da inflação e diminuir o consumo. Consequentemente, provoca um crescimento menor da economia em 2023 ou até mesmo uma recessão econômica.

Depois de uma expansão que pode chegar a 3% em 2022, o PIB deve aumentar bem menos no novo ano. A mediana das projeções do boletim Focus para o crescimento da economia é de 0,78% e pode ainda sofrer revisões mais para baixo.

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Desafios ao investidor

Neste cenário, é natural que os investidores busquem um porto mais seguro para proteger seus investimentos e surfar nas rentabilidades de títulos atrelados à Selic e ao IPCA (inflação). Para essa finalidade, os ativos de renda fixa e crédito privado são uma ótima opção de investimento, tanto pela rentabilidade, como pelo menor risco dos ativos e maior previsibilidade.

Para o investidor que busca um prazo mais curto de resgate, os “Fundos Cash” configuram-se como uma boa alternativa. Já para os que olham para um prazo mais estendido, os fundos imobiliários (FIIs), Fiagros e os fundos de “renda fixa – crédito privado” com resgates acima de D+30 apresentam-se como excelentes opções de investimento.

O monitoramento constante dos ativos, das empresas e o contato direto com CFOs e executivos das companhias é de extrema importância para a saúde das carteiras. Especialmente em momentos de juros altos, em que naturalmente existe um aumento das despesas financeiras das companhias.

Ter um portfólio mais voltado para ativos de investimento que possuem um nível elevado de governança e balanços mais robustos com um grande “market-share” (1) é um diferencial. Afinal, estas empresas tendem a passar por períodos turbulentos de forma mais tranquila que as demais.

E quando se olha para a parcela de crédito estruturado, CRIs e CRAs, a estrutura de garantias, amarras jurídicas e monitoramento bem próximo dos indicadores financeiros e “covenants” (2) da operação são fundamentais para o sucesso dos investimentos.

Além disso, a diversificação é um ponto importantíssimo para uma carteira bem construída de investimentos. Vide o caso recente das Americanas, em que diversos fundos com posições relevantes sofreram impactos acentuados em suas cotas, levando os investidores a terem prejuízo em seus portfólios.

Glossário:

*1 – “Market-Share” é a participação da empresa no mercado, ou seja, representa a porcentagem do valor de mercado de uma organização perante a concorrência. Na tradução literal, o significado de “market-share” é “quota de mercado”.

*2 – “Covenants” são cláusulas restritivas presentes em contratos de dívida, como limites ao endividamento e ao pagamento de dividendos. Essas cláusulas se originam do conflito de interesses entre credores e acionistas, servindo como mecanismo de proteção a credores e visam impedir sua expropriação pelos acionistas.

*Bruno Eiras é sócio-fundador e diretor de Gestão da Devant