Juros: Inflação americana faz corte parecer sonho cada vez mais distante
Os dados divulgados pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos (EUA) supreenderam o mercado nesta quarta-feira (10). Em março, houve uma alta de 0,4% na base mensal do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês).
O mercado tinha uma expectativa de alta de 0,3% tanto para o índice geral do CPI quanto para o núcleo, que exclui elementos mais voláteis, como alimentos e combustíveis. O número representaria uma desaceleração do índice, que teve alta de 0,4% em fevereiro.
Variação mensal em % do CPI (Mar 23 – mar 24) de Money Times
A taxa anual chegou a 3,5%, após um ajuste sazonal, acima da alta de 3,2% observada em fevereiro.
O resultado foi um “balde de água fria” para investidores ao redor do mundo, que esperavam que os dados mostrassem uma desaceleração da inflação em direção à meta do Federal Reserve (Fed) de 2%.
Inflação altera apostas do mercado
Apesar de não ser o índice inflacionário preferido pelo Fed para analisar quando os cortes de juros serão realizados — o favoritismo fica para o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE, em inglês) — o CPI também ajuda o Banco Central americano a analisar o cenário econômico americano.
De acordo com a Reuters, as chances agora são de que o Federal Reserve terá que esperar até setembro para começar a reduzir os juros americanos, afirmando que “com base na precificação dos futuros, o Fed deve realiza um primeiro corte de 0,25 ponto percentual nos juros em sua reunião de 17 e 18 de setembro, levando a taxa para uma faixa de 5% a 5,25%, com apenas mais um corte provável até o final do ano”.
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Atualmente as taxas de juros americanas estão entre 5,25% e 5,50% e, de acordo com o CME FedWatch Tool, ferramenta que analisa as probabilidades de cortes, a data preferida mudou para setembro, com 70% do mercado apostando que esse é o mês que iniciará o movimento tão aguardado.
Antes da divulgação do CPI, junho era o mês que concentrava o maior número de otimistas, com 57,6% do mercado apostando nesta data. Com os dados, a probabilidade de redução para o mês passou para 21%.
De acordo com o relatório divulgado pelo Departamento do Trabalho, o índice de ‘bens e artigos’ subiu em março, assim como o índice da gasolina. Combinados, os dois contribuíram com mais da metade do aumento mensal do índice para todos os itens.
Como ficam os investimentos brasileiros?
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, afirma que, enquanto o aumento nos preços da gasolina é uma questão mais pontual, os debates com relação à moradia permanecem um desafio constante para o Fed, já que esse dado representa cerca de 25% a 30% do índice.
Ele pontua que os custos relacionados à moradia passaram de 8% no meio do ano passado para 5,7% agora, mas “os valores permanecem elevados para quem busca atingir a meta de inflação de 2%, sendo necessária uma redução mais significativa para que o Banco Central considere iniciar um ciclo de cortes”.
Cruz afirma que os dados parecem estar convergindo em direção à meta de inflação a 2%, ambicionada pelo Fed, com o mercado projetando que a inflação alcance 2,3% em dezembro, mas com abril ainda permanecendo um mês desafiador.
“No entanto, em maio próximo, é provável que o Banco Central comece a preparar terreno para possíveis cortes. Assim, é esperado que essa reunião não siga o padrão previsível das anteriores e se torne mais complexa”, afirma o estrategista.
Ele complementa que, diante de tanta incerteza, os ativos brasileiros podem ser impactados, com o câmbio sendo pressionado e o dólar apresentando valorização, “o que pode resultar na redução do fluxo estrangeiro para a bolsa”.
Analistas fazem apostas para cortes de juros
Para Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, a inflação dá sinais de estar se estabilizando em um patamar elevado, mas o quadro-geral sugere um descarte de cortes de juros no primeiro semestre de 2024.
“Apesar de a autoridade monetária ter sinalizado na última reunião que poderia fazer três reduções de juros ainda este ano, acreditamos que haverá dois cortes e somente no segundo semestre”, afirma Felipe, complementando que a hipótese de que nenhum corte será realizado em 2024 não é descartada.
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Sobre os dados divulgados hoje, Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, diz que leitura de hoje, certamente, “anda na direção contrária da necessidade de confiança extra no processo de convergência para a meta de inflação que vem sendo declarado pelos membros do Fomc desde o início do ano”.
“O resumo é: os juros vão demorar mais para começar a cair e provavelmente vão cair menos do que o antecipado”, complementa.