Juros altos impulsionam inadimplência no agro, mas tendência é de acomodação, diz diretor do Bradesco

Depois da bonança, veio a tempestade. E agora, o agronegócio espera a volta da bonança. Após o estouro dos preços das commodities agrícolas entre 2020 e 2022, as cotações da soja e do milho despencaram a partir de 2023. E começaram um movimento de recuperação no final do ano passado.
No entanto, o período de baixa ainda tem seus reflexos. No Bradesco (BBDC4), por exemplo, a inadimplência ainda está alta, levando em conta a média histórica. Mas a tendência é de acomodação, segundo Roberto França, diretor de Agronegócio do banco, que falou durante coletiva de imprensa na Tecnoshow Comigo, feira agropecuária que acontece em Rio Verde (GO).
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“Os juros altos acabaram impactando a inadimplência no agronegócio, e nós sempre buscamos renegociar e buscar uma solução para o produtor. Ainda temos um índice de atrasos no crédito rural que está acima da média histórica”, conta o executivo do Bradesco.
França explica que a trajetória de alta da taxa Selic, com cinco altas consecutivas promovidas pelo Banco Central até chegar a 14,25% ao ano em março, tornou mais difícil a gestão de caixa para os produtores.
“Vem também de questões climáticas, especialmente com eventos como aqueles do Rio Grande do Sul, e outras pontuais em algumas regiões. Mas os juros pegaram para alguns produtores que estavam com estoque alto de dívidas”, explica.
Nesse cenário, o produtor precisa renegociar as dívidas, o que já o coloca, estatisticamente, dentro do crédito em atraso.
“Não quer dizer que os bancos vão perder porque a inadimplência está subindo. Há a renegociação, e depois vem uma acomodação, até porque o crédito rural envolve muitas garantias”.
Enchentes no Rio Grande do Sul
A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024 está perto de completar um ano. As enchentes provocaram, além de mortes e muitos prejuízos materiais em Porto Alegre, perdas de safras e de animais de criação no interior do estado.
França afirma que os produtores do estado não chegam a representar 3% da carteira total do Bradesco, que segundo os parâmetros do banco, é de R$ 125 bilhões.
“É um mercado com muita competição bancária. Tem o Banrisul (BRSR6), o Banco do Brasil (BBAS3), as cooperativas. E o governo do estado do Rio Grande do Sul está buscando soluções para alongar a dívida com juros subsidiados”.
Segundo o executivo do Bradesco, essa é uma conta que não pode ser paga pelos bancos. “Se começarmos a dar crédito subsidiado para os produtores, quebramos o banco”, diz França.
E as recuperações judiciais?
Durante a entrevista coletiva, França foi questionado sobre o aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio. Para ele, há uma “indústria de advogados” que vende a tese de que a RJ resolve os problemas do produtor e das empresas.
“Os pedidos acontecem em praças muito específicas. Isso é ruim para o produtor rural, porque o impede de pegar crédito. Muitos dos pedidos são indeferidos, e aí é preciso voltar a discutir as dívidas com os bancos”, completa o diretor do Bradesco.
Mesmo com todos esses problemas, França ressalta que o Bradesco continua investindo no agronegócio.
“Estamos com mais de 200 pessoas voltadas para atender os produtores de todo o país. No crédito, temos crescido a uma taxa entre 15% e 20% ao ano. Investimos pesado na nossa plataforma digital E-agro”, relembra o executivo.
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Sobre o estado de Goiás, França afirma que a dinâmica do agronegócio está muito forte. E a Tecnoshow é a feira onde o banco consegue fechar mais negócios.
“Para este ano, estamos com uma meta bem agressiva, de crescer 30% em volume de negócios. Fechamos em R$ 1,5 bilhão no ano passado, então esperamos ficar perto de R$ 2 bilhões em 2025”.