Juliana Paolucci: a armadilha da inovação é responder com sucesso à pergunta errada
Texto escrito por Juliana Paolucci
Quando nos deparamos com um desafio de negócio, é muito comum querermos partir logo para a elaboração da solução, seja por pressa ou por acreditarmos que já sabemos como chegar à resposta.
Esse movimento precipitado, no entanto, consiste na armadilha que leva líderes e times a dedicar recursos – tempo, dinheiro etc. – para responder à pergunta errada ao invés de investir esforços, no início do projeto, na identificação da raiz do desafio. Ao final, acabam criando soluções que não chegam à resolução real do problema.
Einstein dizia: “Se eu tivesse uma hora para resolver um problema e minha vida dependesse da solução, eu gastaria os primeiros 55 minutos determinando a pergunta certa a se fazer e, uma vez que eu soubesse a pergunta, eu poderia resolver o problema em menos de 5 minutos.”
E essa mesma lógica pode ser aplicada à Inovação. Antes de buscarmos as respostas, precisamos definir qual é a pergunta certa.
Em 2008, um grupo de alunos de uma universidade da Califórnia recebeu um desafio: como desenvolver uma incubadora de baixo custo para recém-nascidos prematuros de países em desenvolvimento? A imersão do time no contexto de projeto teve início em um hospital em Katmandu, na região do Nepal.
Após dias de investigação, os alunos perceberam que a maioria dos recém-nascidos que vinham a óbito era oriunda de regiões remotas, por isso resolveram ir além do âmbito hospitalar e visitaram famílias de vilas afastadas do centro da cidade.
Ao chegarem nesses lugares, eles perceberam que a necessidade da incubadora hospitalar era apenas a ponta do iceberg: a causa dos óbitos se dava, muitas vezes, por conta da incapacidade de os bebês manterem a própria temperatura do corpo durante as cerca de 4 horas de translado até o hospital.
Essa percepção foi fundamental para que os estudantes reenquadrassem o desafio, que na verdade era: como projetar uma forma intuitiva e financeiramente acessível para manter recém-nascidos aquecidos em um percurso de até 4 horas, no translado de regiões remotas até o hospital?
A partir do desafio real, os estudantes desenvolveram uma espécie de saco de dormir aquecível chamado Embrace (em português, significa abraçar).
O instrumento viabiliza que o bebê prematuro mantenha sua temperatura corporal durante o translato até o hospital, proporcionando sua integridade e bem-estar.
Esse caso deixa em evidência a necessidade da definição da pergunta certa. Uma incubadora que custaria 2 mil dólares, o que seria muito para um país como o Nepal, “transforma-se” em uma solução no valor de 25 dólares que, até hoje, já beneficiou mais de 220 mil bebês em 20 países diferentes.
Em outro exemplo, desta vez vivenciado aqui na LAJE, uma grande empresa de meios de pagamento nos procurou para reprojetar a sua escola corporativa a partir de um viés tecnológico – o intuito era criar uma “escola tech” direcionada às diversas áreas da organização.
Quando imergimos na realidade da empresa e dos diferentes perfis envolvidos, entendemos que a raiz do desafio não era criar uma “escola tech”, mas, sim, criar um meio de acelerar a transformação digital da organização. A diferença pode parecer sutil, mas teve um impacto enorme na construção da solução de projeto.
Uma vez identificado o verdadeiro desafio, reenquadramos o problema a ser resolvido: como desenvolver em colaboradores de áreas diversas as competências humanas e tecnológicas necessárias para acelerar a transformação digital? Essa foi a pergunta que nos levou à criação de um ambiente múltiplo de ensino e troca de conhecimento, com trilhas customizáveis de aprendizado dedicadas ao desenvolvimento tanto de hard quanto de soft skills.
Um espaço democrático no qual todo colaborador, independentemente da área ou cargo, pode aprender, mas também pode ensinar. Assim, conseguimos contribuir para a acelerar a transformação digital dessa organização.
A necessidade de reenquadramento da pergunta-chave é válida para todos os desafios de negócio. No início de cada projeto, é fundamental ir além da questão inicial e investir tempo na investigação da natureza do desafio, na identificação da causa raiz do problema.
Com o desafio real em mãos, conseguimos ser muito mais assertivos na criação de soluções que vão de fato gerar valor.