Internacional

Jovens refugiados participam de capacitação para o mercado de trabalho

07 jun 2019, 19:56 - atualizado em 07 jun 2019, 19:56
A capacitação conta com apoio não remunerado do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) (Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A esperança de conseguir uma vaga como aprendiz ou um estágio no Brasil levou 14 jovens estudantes refugiados a se reunir em Brasília em um curso preparatório para inserção no mercado de trabalho. Conduzida pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), a turma era formada por jovens com idade entre 14 e 24 anos vindos de oito países: Venezuela, Haiti, República Democrática do Congo, Togo, Gana, Síria e Angola.

Chamado de Oficinas de Criatividade, o curso, encerrado nesta sexta-feira (7), ofereceu atividades voltadas para a preparação e inserção de jovens refugiados e migrantes no mercado de trabalho a partir de vagas de estágio e aprendiz. Os jovens recebem informações desde produção de currículo a técnicas de comportamento em ambiente de trabalho.

A capacitação conta com apoio não remunerado do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Esta foi a segunda turma do curso, que já capacitou 30 jovens na capital federal. De acordo com o CIEE, o curso foi ampliado para ser aplicado em mais duas capitais – Manaus e Boa Vista – e deve chegar a São Paulo no próximo semestre.

Para a venezuelana Nicole Viana, de 14 anos, uma das nove meninas que participaram da Oficina de Criatividade, o valor da comunicação interpessoal foi lição mais importante do curso. Fluente no português ensinado pelo pai, também venezuelano, a jovem está há quatro anos no Brasil e vive em Brasília há um. No entanto, deixar Caracas, capital da Venezuela, Nicole passou por um complexo período de adaptação.

“Não consegui me adaptar na escola quando cheguei a Roraima. Foram dois anos sofrendo bullying diariamente”, contou a jovem. “Além do problema com o idioma, fui nivelada em uma série que eu não conseguia acompanhar. As crianças me chamavam de burra, e era muito difícil. Em Brasília vivo o oposto. Aqui, além de estar na série certa, as pessoas se interessam pela minha história, gostam de saber que sou estrangeira e querem conhecer um pouco da minha cultura. Agora eu sei que quero continuar a viver no Brasil”, disse. “O curso me ensinou que saber me comunicar é importante, e mais ainda no mercado de trabalho.”

O haitiano Edy Boileau, de 24 anos, destacou que o curso lhe deu oportunidade de se reunir com outros jovens de seu país de origem. Há quatro anos no Brasil, Boileau faz o curso superior de Análise de Sistemas da Informação e espera que seu idioma natal, o francês, seja um diferencial no currículo.

“Deixei a capital [do Haiti], Porto Príncipe, em busca de oportunidade por aqui. Vim sozinho, só conhecia uma prima aqui. e a chegada não foi fácil, porque eu não sabia falar nada de português, apenas francês”, contou. “Ainda não sei se quero permanecer no Brasil, que é um país muito lindo, uma cultura diferente, mas acho que só o futuro me dará essa resposta”, acrescentou.

Segundo a supervisora de Assistência Social do CIEE, Ranyelle Braz, a perspectiva é que nova turma da capacitação seja aberta no segundo semestre deste ano. No primeiro curso desenvolvido pelo centro, que interliga estudantes a vagas de estágio em empresas públicas e privadas, 70% dos alunos foram inseridos no mercado de trabalho.

“São cinco encontros que seguem dinâmicas próprias, com atividades realizadas duas vezes na semana, em média. Esse tipo de curso também é destinado a brasileiros em situação de vulnerabilidade e apresenta, entre outros pontos, a legislação de trabalho no Brasil, como participar de uma entrevista de emprego e até como se vestir adequadamente no trabalho. Não há garantia formal de emprego, mas aumenta bastante as chances desses jovens”, explicou Ranyelle. O CIEE também faz a sensibilização com empresas para desmistificar a contratação de refugiados ou migrantes, para evitar preconceitos ou mesmo a falta de informação dos empregadores.

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Refugiados no Brasil

Dados divulgados pelo Comitê Nacional para os Refugiados do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Conare) no relatório Refúgio em Números revelam que o Brasil reconheceu, até o final de 2017, um total de 10.145 refugiados de diversas nacionalidades. Desconsiderando a chegada de  venezuelanos e haitianoso, o maior número de pedidos de refúgio foi registrado em 2017. Foram 13.639 pedidos naqueleo ano; 6.287 em 2016; 13.383 em 2015 e 11.405 em 2014.

Segundo o Oficial de Meios de Vida da Acnur, Paulo Sérgio de Almeida, metade dos refugiados e migrantes do mundo são jovens com menos de 24 anos. “Uma das preocupações da Acnur é com os jovens que chegam ao Brasil”, disse Almeida.

“Há situações que o idioma desses jovens é um fator complicador, que dificulta principalmente o acesso à informação. Eles não têm o conhecimento da realidade do mercado de trabalho brasileiro, e o curso tem o potencial de aumentar as chances que esses jovens têm de ingressar no mercado de trabalho”, acrescentou.

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