Jovens da África do Sul estão desiludidos com partido de Mandela
Na cidade da África do Sul onde Nelson Mandela se juntou à luta contra o apartheid, Lordwick Nxumalo trabalha duro para ganhar a vida.
Todos os dias, ele e outros jovens desempregados de Soweto podem ser vistos na Praça Walter Sisulu, esperando pessoas para tirar fotos para documentos como carteiras de motorista. O chefe do escritório de licenciamento, dono da câmera, paga 10 rands (US$ 0,65) por cliente. Não é muito: Nxumalo diz que mora em um barraco e está “ocupado ficando mais pobre”.
A situação do jovem de 29 anos é comum em Kliptown, um distrito de Soweto marcado na memória como o local onde líderes do Congresso Nacional Africano (CNA), que incluía o jovem Mandela, se reuniram em 1955 para adotar uma constituição. Há um memorial para a Carta da Liberdade do CNA na praça, mas Nxumalo não se impressiona: está cansado do partido que trouxe pouco alívio para sua comunidade, apesar de estar no comando a maior parte de sua vida.
“Eu adorava o CNA desde criança e, quando era época das eleições, eu entrava e votava no CNA – não pensava muito”, disse. “Mas o CNA para o qual estou votando não me dá nada: não temos empregos, não temos moradia e estamos lutando por eletricidade”. Nxumalo disse que não votará no partido novamente, porque “nada está mudando para nós”.
Um quarto de século após o fim do sistema repressivo de racismo institucionalizado que tornou a África do Sul um pária global, as mesmas forças que surgiram com a liberdade – o direito à livre circulação e o desejo por educação – ameaçam derrubar o partido que libertou os negros sul-africanos.
Enfrentando a maré de um eleitorado cada vez mais jovem, urbanizado e educado, que se preocupa mais com as necessidades diárias urgentes do que com as histórias da era da luta, o CNA parece vulnerável. Mas o partido também acelerou seu próprio declínio.
Na primeira década após o apartheid, o governo do CNA recebeu muitos elogios por melhorar os serviços, reduzir a pobreza e criar uma próspera classe média negra. Embora parte desse rápido progresso social e econômico tenha diminuído na época em que Jacob Zuma assumiu a presidência em 2009, seu mandato marcado por escândalos afastou muitos eleitores jovens demais para se lembrar da transição da África do Sul para a democracia.
O CNA enfrenta atualmente uma economia estagnada que não conseguiu reduzir significativamente a maior desigualdade de renda do mundo. O desemprego de 29% está no nível mais alto desde pelo menos 2008, a maioria dos municípios sul-africanos sofre com falta de energia e de água e a corrupção do governo é desenfreada.
Hoje, 8,1% dos sul-africanos têm um diploma comparados com 2,9% no advento da democracia, e quase um terço da população tem menos de 35 anos e idade suficiente para votar.
“Somente considerando as tendências demográficas, já justifica trazer a perspectiva de uma derrota eleitoral do CNA em 2024 para os radares de planejamento estratégico”, disse em relatório recente o Centro de Análise de Risco de Johanesburgo. “O que parece aparente, porém, é que a estrutura política que definiu a África do Sul desde 1994 está desmoronando e que uma nova ordem política virá substituí-la.”