Jojo Wachsmann: Diz aí, Opep, o que você vai fazer?
Bom dia, pessoal!
Chegamos ao último mês do primeiro trimestre de 2021, com os investidores diante de uma variedade de eventos importantes nessa próxima semana.
O impacto da aprovação pendente do FDA sobre a vacina da Johnson & Johnson para uso de emergência pode melhorar algumas expectativas para a reabertura da economia (diferentemente das vacinas apresentadas até aqui, o imunizante da J&J só precisa de uma dose).
Enquanto isso, o mercado de petróleo pode ser agitado com a reunião do comitê da Opep+, seguida pela principal reunião de tomada de decisão em 4 de março.
Por fim, o relatório de empregos dos EUA para fevereiro vem no final da semana, devendo mostrar um crescimento de 225 mil vagas. Na véspera disso tudo, hoje, os mercados abrem em alta no exterior. A ver…
Mês de alta da Selic
Com dólar acima de R$ 5,50 e com uma elevação do temor de retorno da inflação no mundo, inclusive no Brasil, o mercado precifica uma maior chance de o Banco Central subir os juros em sua reunião agora de março, ainda que o faça marginalmente.
O Brasil passa agora pelo pior momento da pandemia, enquanto o quadro fiscal parece estar em um limbo de poucas resoluções.
Durante a semana, deveremos ter novidades em Brasília em diferentes sentidos, em especial sobre o novo comando do Banco do Brasil, depois do então presidente deixar o cargo à disposição na sequência de acontecimentos que escalaram ao longo da semana passada.
Não apenas isso, mas desdobramentos da indicação de Silva e Luna para a presidência da Petrobras (PETR3; PETR4), votação da PEC emergencial e possibilidade de novos lockdowns ao redor do país reforçam um sentimento de maior aversão ao risco. O mês de março não começa fácil. Ao menos hoje o panorama internacional não é impeditivo.
Aprovado
Em dia com a fala de algumas autoridades monetárias do Fed, o banco central dos EUA, os mercados americanos se mostram animados com a aprovação, durante o final de semana, do pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão na Câmara.
Ao longo da última semana, esses discursos dos membros do Fed têm importado uma vez que a instituição parece despreocupada com a recente volatilidade do mercado de títulos de dívida, pressionado com a alta da expectativa da inflação.
Se por um lado o pacote de Biden dá suporte à economia, ele também expande o quadro fiscal, elevando a expectativa de inflação e pressionando a taxa de juros.
De qualquer forma, com o pacote quase aprovado, o mercado começa a verificar os próximos passos da gestão de Biden, em especial o pacote de infraestrutura.
Biden assinou uma nova ordem executiva exigindo uma revisão de cem dias das cadeias de suprimento nos EUA, com foco em semicondutores, minerais, materiais essenciais, ingredientes farmacêuticos ativos e baterias avançadas, como as usadas em veículos elétricos.
O pedido também iniciará uma revisão de longo prazo, a ser concluída em um ano, que examinará o fortalecimento de seis setores específicos da indústria: defesa, saúde pública e preparação biológica, tecnologia de comunicações, transporte, energia e produção de alimentos.
O pedido é parte do esforço do governo para proteger as cadeias de abastecimento domésticas após a pandemia de Covid-19, que colocou à prova a logística americana e expôs várias vulnerabilidades. Um grande pacote de infraestrutura ainda em 2021 pode ser um bom trigger macro para acompanhar nós próximos meses.
Então, Opep, como vai ser?
Durante esta semana, a Opep deve tomar uma decisão sobre o nível de produção que provavelmente entrará em vigor em abril.
Os cortes de produção sem precedentes da Opep e da Rússia no primeiro trimestre do ano passado tiraram os preços do petróleo do colapso. Quase um ano depois, o grupo está sob pressão para esfriar o mercado em alta (o Brent — nome que se dá a uma classificação do petróleo cru — já voltou para cima de US$ 65/barril).
No caso do petróleo dos EUA, a cotação voltou a subir acima de US$ 60 o barril, bem distante do preço negativo de US$ 40,32 o barril no ano passado.
A alta da gasolina, inclusive, não é exclusividade do Brasil, mas acontece no mundo todo — a nossa diferença é a diferença entre o preço de saída da refinaria e o preço na bomba do posto, em grande parte por conta dos tributos.
Agora, os investidores estão apostando que a pandemia logo estará sob controle, o que despertaria a demanda reprimida por atividades consumidoras de petróleo e seus derivados.
Logo, neste contexto, o cartel está preparado para se reunir na quinta-feira (4) e deliberar sobre se acrescentam mais barris ao mercado faminto — no ano passado, a Opep+ reduziu a produção em 9,7 milhões de barris por dia.
Anote aí!
No Brasil, vale ficar de olhos no IPC-S, que deve ter acelerado 0,40% em fevereiro — um número acima da mediana dá mais motivo para o BC subir os juros. Além disso, vale conferir também o PMI Industrial, além é claro da sequência da temporada de resultados.
Nos EUA, o sentimento do setor manufatureiro atrairá atenção — a manufatura global se recuperou em grande parte por conta da Ásia e da zona do euro; ou seja, os EUA ainda estão atrasados.
Na Europa, além da fala das autoridades monetárias e da Balança Comercial da Zona do Euro, os preços ao consumidor alemão serão divulgados e provavelmente serão impulsionados por um aumento do imposto sobre vendas.
Muda o que na minha vida?
Antes de o Congresso americano aprovar outro pacote de estímulo durante o fim de semana, os indicadores de atividade americana já apresentavam sinais de retomada.
As vendas no varejo dos EUA, por exemplo, aumentaram 7,4% em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado, antes mesmo que a pandemia se instalasse na terra do Tio Sam.
Enquanto isso, a ata da última reunião do Federal Reserve e o comunicado de Powell, no Senado e na Câmara, indicaram que as autoridades não se incomodam com eventuais repiques inflacionários no curto prazo, ancorando as expectativas de inflação de hoje.
No entanto, ainda que Powell fale, as preocupações com a inflação mantiveram os mercados em geral sob controle na semana passada, provocando uma rotação setorial em setores cíclicos, mais sensíveis à inflação — alta de 2,8% no setor financeiro e de 0,9% em materiais, frente a uma queda em tecnologia de 1,9% (vê a rotação?).
Com os esforços de vacinação continuando a avançar nos EUA, há um entendimento no mercado que setores mais cíclicos terão um desempenho superior (vale checar o Vitreo Deep Value para uma exposição a esses setores) — as ações de pequena e média capitalização, por exemplo, parecem atrativas neste contexto.
As ações dos mercados emergentes também apresentaram desempenho superior histórico em períodos de reflação.
A alta de juros mais longos no exterior, porém, deprecia a moeda desses países, como foi o caso do Brasil, e prejudica a performance da Bolsa, ao menos no curto prazo.
Justamente por conta dessa alta dos juros americanos, o Banco Central brasileiro provavelmente deverá atuar agora em março para subir os juros, uma vez que um câmbio demasiadamente depreciado também pode ser prejudicial para o poder de compra da moeda.
Fique de olho!
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Um abraço,
Jojo Wachsmann